Mauro Pandolfi
Casablanca.
Cena da parte final do filme. Um militar entra no bar de Rick e diz ao
comandante que não identificou o suspeito. O que fazer? perguntou. O
comandante respondeu cinicamente: Prenda o suspeito de sempre! No
clássico Corinthians e Santos, domingo de manhã, a cena se repetiu como
farsa. Sem saber quem cometeu o pênalti, imagino que o árbitro Flávio Rodrigues
Guerra foi perguntar ao bandeirinha Rogério Pablos Zanardo quem deveria expulsar. Ele deve ter
respondido o seguinte. 'Não vi. Expulsa o de sempre'. O árbitro pensou.
'O Werley já foi para a rua. Então, vai o David Braz, mesmo'. E, assim
foi feito. O 'erro humano' do juiz não interferiu no resultado do jogo,
segundo os comentaristas. O segundo gol saiu aonde deveria estar David
Braz. Azar do Santos!
Ética
é um devaneio de poeta já decretou o filósofo do futebol Eurico
Miranda. Foi um espetáculo de canalhice este jogo. O pênalti aconteceu .
Chutaram a perna de Wagner Love. O árbitro disse que não viu quem
cometeu a falta. Nem ele, nem o bandeirinha. Como marcaram? Por
intuição? Por insolação? Por
obrigação? O lateral Zeca ficou na moita, quieto, escapou da punição.
Não ligou quando o companheiro foi expulso. Típico malandro sem
caráter. O jeitinho brasileiro de ser esperto. Comentaristas de
arbitragens e jornalistas explicam o equívoco
como 'erro humano'. Se há erro, cadê o pedido de desculpas? O alemão
Knut Kircher reconheceu o erro ao marcar um pênalti a favor do Bayern
contra o Augsburg. "Pedi desculpas aos dirigentes e jogadores.
Infelizmente, não dá para devolver os pontos", afirmou o árbitro.
Após o jogo Flávio Guerra afirmou que expulsou David Braz por ofensas
morais. Quatro minutos entre o lance e a expulsão. Na manhã de segunda-feira, no programa Redação Sportv,
divulgaram imagens que desmentem as declarações. O bandeirinha confirma
que foi o David o autor do pênalti. Na súmula do jogo, lida por André
Risek, Flávio Guerra reafirma a expulsão por ofensas. David Braz
refuta a acusação. Ficou um jogo de palavras. Dois cínicos. Dois
pequenos canalhas de um esporte cada vez mais mafioso, num país cada vez mais mafioso.
O
árbitro é o déspota do jogo da bola. Manda e desmanda. Manipula os
lances. Altera o ritmo, o resultado. É uma autoridade. E, como toda
autoridade neste país, mente descaradamente. Não erra. Flávio Guerra
apenas repetiu
o poder. Negou o fato, ignorou a imagem. Mentiu! Está apto para se
tornar um político. Além disto, foi desonesto na súmula. Manteve a sua
falsa versão. Realmente, pronto para uma eleição. Eu, um idiota
ingênuo, estou em dúvida com a
arbitragem brasileira: há mais 'acertos' ou erros humanos?
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