sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A regra do jogo

Mauro Pandolfi

"Aqui não tem terremoto
Aqui não tem revolução
Somos um país abençoado
Onde todo mundo põe a mão"

Premeditando o Breque cantado as mazelas do Bem Brasil.

Olhar de soslaio, de medo, da culpa. Perceba uma criança em casa, na escola, na rua. Se há este olhar, aprontou alguma. Em seguida, um adulto a encara. Olhar triscado, dedo em riste, voz alterada, a reprimenda. Nem sempre há choro. Mas, se há outro envolvido na cena, lá vem a exigência do pedido de desculpa. O outro, desconfiado, aceita. Já fiz isto com os meus filhos. Agi certo? Não sei! Há tempo que reflito sobre a vida, as minhas atitudes, pensares. Questiono valores, ideias e ações. A culpa e o perdão são as questões que me provocam reflexões, angústias, dúvidas, arrepios. Às vezes, penso em errar mais. E, não mais pedir desculpas. Que se exploda o erro!
Somos movido pelos dois. Somos o que somos pelos dois. A vida é moldada pelos dois. Dizem que é educação, faz parte parte do processo civilizatório. A culpa é um componente da infelicidade. E, o perdão, é da felicidade? Cobramos do filhos, dos outros, de nós mesmo. No entanto, as autoridades ignoram este processo. Nunca erram. Não precisam pedir perdão. O futebol também é refém deste condicionamento. Torcedores, jogadores, treinadores, choram, clamam perdão, uma nova chance. Os árbitros ignoram. Não erram. Não se enganam. Há os defensores. Os comentaristas de arbitragem sempre justificam os erros. É como se justificassem os seus enganos anteriores.
O bom e ardiloso texto de Chiko Kuneski sobre os mafiosos do circo me desconcertou. Não sei se sou só um ingênuo ou um idiota que acredita na lisura das coisas. Penso primeiro no erro do árbitro. Mas, numa sociedade que a tudo desculpa, nunca há um pedido formal de perdão. Nenhuma lágrima é derramada. Há a soberba tentando a justificativa do equívoco. São seres superiores. Tão certeiros como as autoridades. Há erros em quase todos os jogos. Os mesmos árbitros repetem, sistematicamente, os mesmos equívocos. Os olhares eletrônicos são mais rápidos, loquazes que os nossos precários dois. Os meus, de míope e com degeneração macular, acertam mais os impedimentos dos que alguns bandeirinhas. O texto do Chiko revela-me uma dúvida: erro ou roubo?
Eu gosto do refrão da música Bem Brasil, do Preme, que está acima do texto. Brasil é um país autoritário à esquerda e à direita.Qualquer guarda de quarteirão tem poder. Manda e desmanda no seu espaço. Imagina um árbitro de futebol. É o dono da regra do jogo. As leis são suas. Tem o poder da expulsão, da intimidação, do resultado. Manipula o jogo. Mais  faltas, menos faltas, mais bola corrida, mais truncada a partida. É soberano, sem oposição. Autoritário!
Rouba-se sem pudor no Brasil desde a colônia. Levaram - continuam levando - madeira, ouro, pedras preciosas, dólares, petróleo, plantas, múltiplas coisas. Tanto a esquerda como a direita são mãos rápidas, ligeiras. O número das digitais são importa. O butim é grande. A vigarice começa numa campanha eleitoral, revela-se nos atos de governo e, se ameaçado, acusam os outros de golpistas, quebra-se o país. Gritam-se histericamente nas ruas: Fora! E, a patuleia que pague a conta. Assim é o Brasil. O futebol deveria ser diferente?
Deveria! É um jogo forjado na infância. Moldado em arte e esperança. É mais que um teatro de grama e paixão. É cultura. Está marcado na alma, no sonho, no desejo. Mas, é um olhar triste do Brasil. Não é trágico. É só cínico. Repare os nomes do futebol! Havelange, Teixeira, Miranda, Marin, Del Nero, Sanchez, Delfim, tantos outros. Jogo limpo? Dinheiro lavado, sim! Então eu perdi o meu tempo? Chorei por gols anulados, validados em impedimentos claros, expulsões absurdas, derrotas incríveis, vitórias mágicas. O impossível não existe no futebol. Será mesmo?Tudo é uma armação? Jogos encenados? Só teatro? Cadê a grama e a paixão? Qual é a parte que nos cabe neste circo?

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