Mauro Pandolfi
"Aqui não tem terremoto
Aqui não tem revolução
Somos um país abençoado
Onde todo mundo põe a mão"
Premeditando o Breque cantado as mazelas do Bem Brasil.
Olhar
de soslaio, de medo, da culpa. Perceba uma criança em casa, na escola,
na rua. Se há este olhar, aprontou alguma. Em seguida, um adulto a
encara. Olhar triscado, dedo em riste, voz alterada, a reprimenda. Nem
sempre há choro. Mas, se há outro envolvido na cena, lá vem a exigência
do pedido de desculpa. O outro, desconfiado, aceita. Já fiz isto com os
meus filhos. Agi certo? Não sei! Há tempo que reflito sobre a vida, as
minhas atitudes, pensares. Questiono valores, ideias e ações. A culpa e o
perdão são as questões que me provocam reflexões, angústias, dúvidas,
arrepios. Às vezes, penso em errar mais. E, não mais pedir desculpas.
Que se exploda o erro!
Somos movido pelos dois. Somos o que somos pelos dois. A vida é moldada
pelos
dois. Dizem que é educação, faz parte parte do processo civilizatório. A
culpa é um componente da infelicidade. E, o perdão, é da felicidade?
Cobramos do filhos, dos outros, de nós mesmo. No entanto, as autoridades
ignoram este processo. Nunca erram. Não precisam pedir perdão. O
futebol também é refém deste condicionamento. Torcedores, jogadores,
treinadores, choram, clamam perdão, uma nova chance. Os árbitros
ignoram. Não erram. Não se enganam. Há os defensores. Os comentaristas
de arbitragem sempre justificam os erros. É como se justificassem os
seus enganos anteriores.
O
bom e ardiloso texto de Chiko Kuneski sobre os mafiosos do circo me
desconcertou. Não sei se sou só um ingênuo ou um idiota que acredita na
lisura das coisas. Penso primeiro no erro do árbitro. Mas, numa
sociedade que a tudo desculpa, nunca há um pedido formal de perdão.
Nenhuma lágrima é derramada. Há a soberba tentando a justificativa do
equívoco. São seres superiores. Tão certeiros como as autoridades. Há erros em quase todos os jogos. Os mesmos árbitros
repetem, sistematicamente, os mesmos equívocos. Os olhares eletrônicos são mais
rápidos, loquazes que os nossos precários dois. Os meus, de míope e com
degeneração macular, acertam mais os impedimentos dos que alguns
bandeirinhas. O texto do Chiko revela-me uma dúvida: erro ou roubo?
Eu
gosto do refrão da música Bem Brasil, do Preme, que está acima do
texto.
Brasil é um país autoritário à esquerda e à direita.Qualquer guarda de
quarteirão tem poder. Manda e desmanda no seu espaço.
Imagina um árbitro de futebol. É o dono da regra do jogo. As leis são
suas. Tem o poder da expulsão, da intimidação, do resultado. Manipula o
jogo. Mais faltas, menos faltas, mais bola corrida, mais truncada a
partida. É soberano, sem oposição. Autoritário!
Rouba-se sem pudor no
Brasil desde a colônia.
Levaram - continuam levando - madeira, ouro, pedras preciosas, dólares,
petróleo, plantas, múltiplas coisas. Tanto a
esquerda como a direita são mãos rápidas, ligeiras. O número das
digitais são importa. O butim é grande. A vigarice começa numa campanha
eleitoral, revela-se nos atos de governo e, se ameaçado, acusam os
outros de golpistas, quebra-se o país. Gritam-se histericamente nas
ruas: Fora! E, a patuleia que pague a conta. Assim é o Brasil. O
futebol deveria ser diferente?
Deveria!
É um jogo forjado na infância. Moldado em arte e esperança. É mais que
um teatro de grama e paixão. É cultura. Está marcado na alma, no sonho,
no desejo. Mas, é um olhar triste do Brasil. Não é trágico. É só cínico.
Repare os nomes do futebol! Havelange, Teixeira, Miranda, Marin, Del
Nero,
Sanchez, Delfim, tantos outros. Jogo limpo? Dinheiro lavado, sim! Então
eu perdi o meu tempo? Chorei por gols anulados, validados em
impedimentos claros, expulsões absurdas, derrotas incríveis, vitórias
mágicas. O
impossível não existe no futebol. Será mesmo?Tudo é uma armação? Jogos
encenados? Só teatro? Cadê a grama e a paixão? Qual é a parte que nos
cabe neste circo?
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