quinta-feira, 24 de setembro de 2015

O Jogo posto à mesa

Chiko Kuneski

Hoje tem time que manda molhar a grama. No botão encerava a tinta verde da madeira. Artimanha. Lustrava a exaustão. E assim treinava o meu time de botão. No escorregadio. Seria uma armadilha? Seria um ardil? Acho que não.

Gostava do jogo escorregadio, veloz, intenso. Armava meu time assim. Os botões tinham que ser rápidos. A bola veloz. Facilitavam o ataque. Os adversários da rua treinavam em campos travados, para toques curtos. Como na normalidade do futebol brasileiro de hoje, o zero a zero é resultado. O um a zero é alegria. A vitória do mínimo.

Nunca gostei das retrancas. Zero a zero era, e continua sendo, derrota, de quem jogou e de quem pagou para ver o jogo. Um a zero é acaso. A essência do futebol é o gol e os esquemas que o buscam incessantemente. Jogava com alas. Mais dois atacantes marcando na frente. O ataque obriga o outro a permanecer na defesa. Os pontas viravam meias, atacantes e defensores.

Quando o jogo era veloz a velocidade desnorteava as armações clássicas. A mobilidade continua desnorteando times e técnicos dentro de campo. Gosto da mesa de botão pelo olhar tático que permite. Gosto dos movimentos sem bola. Do jogador que joga com o olhar. Com a destreza. Com a compreensão do futebol.


No botão sempre faltava o craque. Nos campos do Brasil continua faltando. No campo o drible muda a história da partida, desalinha, danifica esquemas, faz a torcida vibrar, com ou sem gol. Meu craque no botão era o “estrelão” encerado. Desconcertava pela velocidade mágica do inusitado.

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