segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Aprendiz de feiticeiro


Mauro Pandolfi

Um time de futebol em campo. Reparem em suas linhas. Percebam a movimentação. Há algo de arte neste conjunto. Tudo planejado. Retas e curvas. Um arquiteto desenhou isto. Há marcação no espaço. A movimentação é coordenada. Um lado vai. O outro, fica. Há diálogos, luzes e poesia. Cenas de um diretor de cinema. Acompanha de perto. Em cima. Orienta, gesticula. Um professor. O suor, o grito, o desespero. O olhar atônito, perplexo. O elogio e o xingamento. Um sargento sem farda. Todos em um só. O treinador de futebol é um artífice. Um artesão de ideias, movimentos, deslocamentos e invenção. O futebol é um jogo solitário, desenvolvido pelo coletivo. Há tempos que deixou de ser onze contra onze. É agora um duelo. De estilos, pensares, jeitos. O futebol é uma disputa entre treinadores. Um contra um.
O treinador é o personagem que desperta  a minha atenção durante o jogo. Largo a partida, deixo fluir, e encaro o técnico. Presto atenção em seus gestos, atitudes e ações. Como reagir ao cerco imposto pelo adversário? Como conseguiu encaixotar o o oponente? Encanta-me a habilidade do técnico de aproveitar melhor o talento de seus craques. Também, fico surpreso com a capacidade de anular o talento de seus craques. Tão poderoso que torna o jogador um submisso. Nem o craque o contesta. Sempre escuto as entrevistas após os jogos. Ouço as explicações, as desculpas, as justificativas, os pensares. São sempre vencedores.
Magos, mágico, aprendizes de feiticeiros. Como disse Oto Glória, lenda do futebol são "bestas e bestiais. Depende do jogo".  Chamados de técnico e treinador. Há diferença ou é semântica? Para Eduardo Galeano, o sábio uruguaio do futebol, há e bem definida. "Treinador é o que deixa o jogo fluir, pensa o jogar. Técnico é o que trabalha o jogo, determina o jogo". Quem vocês preferem?
A mão no queixo. Um pensador. Analisa o movimento, a atuação, o cerco e a saída. Pep Guardiola é quem melhor materializa o pensar do jogo. Seu time flui, flutua, ataca, defende com uma estética irresistível. Habilidade, força, técnica, poder mental e muita beleza. Guardiola é quem melhor decifra a emoção do futebol atualmente. Tão moderno que resgata o antigo. Não como saudade. Sim, como uma nova arma. Seus 'pontas' tem só a habilidade e a velocidades dos velhos ponteiros. São algo mais. Tem a fúria do ataque, a precisão dos meias e a segurança dos defensores. E, pensar que Guardiola se ofereceu para treinar o Brasil. Mas, aqui a vanguarda do atraso é insuperável.
Velhos mestres estão se aposentando. Alguns, por entender que seu tempo terminou. Outros, estão sendo tirados a força de seu conforto. Alguns resistem, adquirem um discurso moderno, atualizado, que dura dois ou três jogos e vão sobrevivendo de clube em clube, divisão em divisão até se perderem na estrada. Os mais espertos procuram lugares poucos explorados. Lá, sobrevivem como mitos. E, o novo sempre vem. Há Tite, nem tão novo, Marcelo Oliveira, Roger Machado, Milton Mendes, Eduardo Batista, Dado Cavalcanti, Mabília, Fernando Diniz, Hémerson Maria, Léo Condé, entre outros desconhecidos, pronto para serem descobertos. São histórias e conceitos diferentes. Porém, serão eternamente fabricantes de paixões e emoções. Pois, assim é o futebol.

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