domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Dez!

Mauro Pandolfi

Detesto o dez! Não entendo o culto a este mítico 'craque' alegórico de um futebol que nunca existiu. 'O cabeça pensante' que elabora o lance decisivo, mortal, é uma invenção dos anos 40; santificado nos anos 50 e 60; endeusado dos anos 70 e 80; sobrevivente nos 90; e um zumbi neste século.

Aquele meia blasé, indiferente, que flutuava no campo, passeava a sua indolência, a sua preguiça e, de repente, num passe, resolvia o jogo é um devaneio poético do folclore brasileiro. Tão real como o saci pererê. "Deus castiga quem o craque fustiga" foi um axioma cretino que manteve - e mantém - o pictórico em campo.

Todos suspiram um lance genial, decisivo, arrebatador, orgástico, de tão inútil 'craque'. Mas, ele, raramente, acontece. E, quando ocorre, é em um jogo fácil ou decidido. Ganso, Douglas, Zé Roberto, Adrianinho, Renato Cajá, Wagner são os emblemáticos dez deste tempo.

Adoro o dez 'antidez'! São símbolos do dez. Geniais e
geniosos. Antíteses do dez molenga e bailarino. Pelé reinventou o espaço no jogo. O ponta de lança de intensa movimentação e um artilheiro fabuloso. Pelé foi mais atacante do que meia. Também, um emérito passador. Zico é desta escola. Maradona e Messi são geniais na posse de bola, no drible e no arremate, especialmente, Lionel Messi. Ademir da Guia, Zenon e Dirceu Lopes são outros dez da minha infância e adolescência. Entendimento perfeito do jogo. Craques táticos.

Rivelino e Paulo Cesar foram gigantes jogando de lado, quase pontas. No meio, pouco mais do que comum. Gerson e Didi eram armadores fascinantes. Jogavam com a oito. São mais volantes do que meias. Visão privilegiada de jogo. Alternavam o ritmo da partida. Estabeleciam a velocidade. Mestres!


Nunca teve um time como a Seleção de 70. Inventou o futebol moderno. Jogadores móveis, são símbolos da compactação, marcação avançada e rapidez no ataque. Tantos dez em campo.
Todos diferentes. Nenhum como o sonhado pelo devaneio alegóricos de velhos - e surpreendentemente, de novos - jornalistas. Tão diferentes e tão complementares. A Copa de 70 foi o ápice desta geração. Eles nunca repetiram a performance daquela Copa. Em 74, na Alemanha, Zagalo destruiu toda a 'revolução' de 70. Acho que nunca entendeu o que criou. Mas, é uma outra história.

2 comentários:

  1. Falso 9, falso 7 e, em breve, falso 10.
    Ah, sobre o assunto, leio tbém esse Velho Cronista, nem pelo futebol, mas pelo prazer da boa leitura: http://velhocronista.com/o-ultimo-dez/

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  2. Falso 9, falso 7 e, em breve, falso 10.
    Ah, sobre o assunto, leio tbém esse Velho Cronista, nem pelo futebol, mas pelo prazer da boa leitura: http://velhocronista.com/o-ultimo-dez/

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