Quando vou ao estádio procuro ficar longe das torcidas
organizadas. Não gosto da pressão ao time, da intimidação ao torcedor
comum e da machonaria exacerbada. A violência do bando é uma barbárie, a
mesma barbárie do dia a dia. O ótimo e preciso texto do Chiko Kuneski revela o
jogo que envolve as organizadas. Não conheço ninguém que pertença a uma
torcida. Mas, imagino, como é uma reunião após a “festa” de domingo.
A Reunião
Mauro Pandolfi
Noite de segunda. Nas escuras salas do Estádio do
Comendador Medeiros, a torcida organizada do Estrela Vermelha Futebol Clube faz
uma reunião. Um rescaldo da guerra com os torcedores do Araponga Futebol e
Polo. O clássico mobilizou o batalhão de choque, os paraquedistas, os bombeiros
e os escoteiros. Quem comanda a reunião é Luisão. Um velho líder, que mobiliza
a massa com a voz de trovão. Ele quem fala:
- Ô, raça! Ganhamo a batalha. Matamo a pau. Arrancamo os bico deles. Há doze anos que não perdemo pra eles. A guerra de domingo foi foda. Mas, teve pobrema sério. Tem companheiro que foi abatido e precisa ficar mocozado, pois o juiz é brabo e não gosta de nóis. O que os sacana fizeram com as camisas que o Joãozinho tava vendendo: sujaram de óleo. Sacanagem, porra! Porém, moçada, rasgamo as bandeira deles. Vamo dá troco, porra! Vou quebra as fuças do Nandão, aquele playboy que acha que sabe tudo. Fez o fundamental e pensa que é dotor! Além disso, quero avisa que as fantasia de carnaval da nossa escola já tão a venda. É só procurar o Cardosão. Tão baratinha, só cem conto.
A algazarra interrompeu o discurso de Luisão. Irritado, pediu silêncio.
- Alguém viu quem bateu no Zé?
- Fui eu! disse o Joaquim. O cara vem de Kombi e me pede um troco pra gasolina e tava com a camisa do PT, porra! Dei-lhe uma porrada nos cornos. Tu sabe que odeio o PT, bando de ladrão. Porra, Luisão! Camisa do PT!
- Vermelha e uma estrelona na frente, Joaquim?
- Esta mesmo!
- É a camisa nova da torcida, seu tanso! Quem deu as camisa pra
nois foi o presidente Tião Gavião. Um abraço, presidente! Pô, Joaquim, o cara
tá no hospital, todo fudido. A conta vai se tua. Ele tava fazendo uma vaquinha
pra buscar a raça no Papudão!
Luisão continuou com a palavra.
- As bombas foram da hora. Barulho e destruição. Aliás, quero agradecer ao diretor Pinheiro. Foi ele quem forneceu os material, os ingresso e os transporte para a raça. Valeu, Pinheirão! Os cara da tevê reclamaram muito. Porra, tá na hora de alguém controlar o que eles fala. Chamaro a gente de bandido. Bandido, porra! Tô com vontade de invadir aquela porra e da uns paus nestes caras. Mas as bombas foram legal. Menos a tua Dudu. Tu seguiu a receita que te dei?
- Tô ligado, Luisão. Segui tudinho. Comprei prego, parafuso, cola e pólvora. Montei a bomba em casa. Ficou uma bolota grande, que assustava!
- E, a pimenta, tu colocou?
- Aí, teve um problema. A velha tava fazendo almoço e perguntei se tinha pimenta. Ela disse que não. E, aí, eu...
- Tu o que?
- Coloquei orégano. Era o único tempero que a velha tinha.
- Foi daí o cheiro de pizza, sua anta?
- O Luisão posso te fazer uma pergunta?
- Pode, Miguel!
- Qual é o time que a gente torce, Luisão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário