quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Desorganizando as organizadas

Chiko Kuneski

Já escrevi em outra crônica que o futebol lembra uma batalha campal, mas de forma lúdica. Duas “nações” com seus exércitos de 11 uniformizados, com escudo, bandeira de hino, lutando pela conquista do espaço do outro, marcado pela linha que divide o gramado, para ser saudosista. Mas é uma batalha organizada, com regulamentos, regras e padrões éticos que todos os jogadores sabem, ou deveriam saber. É também uma contenda arbitrada.

Mas a rivalidade de dentro do campo acaba virando batalha de fato fora dele na maioria dos estádios do país. A ideia da imposição lúdica do futebol sobe as arquibancadas e se transforma numa imposição física, com assistentes brigando entre si, em atos de selvageria atávica.

E como começam as agressões nos estádios? Com confrontos de torcidas organizadas fora deles. Ao contrário dos times, as organizadas não são exércitos; são milícias bem treinadas, com uniforme, bandeira e cantos de guerra próprios. Não são torcedores dos times. Utilizam a dita “paixão pelo time” para impor aos oponentes, usando a violência, suas verdades. Os componentes das organizadas não se importam com o melhor do futebol: o lúdico. Vão à campo para marcar e conquistar seu território.

Os dirigentes das torcidas organizadas são profissionais dessas milícias. Vivem para isso com o apoio, principalmente financeiro, dos diretores dos clubes e federações que usam as organizadas para se perpetuarem nos cargos. A violência atual nos estádios não é uma questão social, como muitos querem nos fazer acreditar, escondendo a razão crucial. A violência nas arenas e fora delas, organizada pelas torcidas organizadas, é uma questão política de perpetuação no poder.


O Brasil somente vai acabar com a violência nos estádios de futebol se desorganizar as organizadas, desmantelando os meandros políticos que sobrevivem delas.

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