Chiko Kuneski
Já
escrevi em outra crônica que o futebol lembra uma batalha campal, mas de forma
lúdica. Duas “nações” com seus exércitos de 11 uniformizados, com escudo,
bandeira de hino, lutando pela conquista do espaço do outro, marcado pela linha
que divide o gramado, para ser saudosista. Mas é uma batalha organizada, com
regulamentos, regras e padrões éticos que todos os jogadores sabem, ou deveriam
saber. É também uma contenda arbitrada.
Mas
a rivalidade de dentro do campo acaba virando batalha de fato fora dele na
maioria dos estádios do país. A ideia da imposição lúdica do futebol sobe as
arquibancadas e se transforma numa imposição física, com assistentes brigando
entre si, em atos de selvageria atávica.
E
como começam as agressões nos estádios? Com confrontos de torcidas organizadas
fora deles. Ao contrário dos times, as organizadas não são exércitos; são
milícias bem treinadas, com uniforme, bandeira e cantos de guerra próprios. Não
são torcedores dos times. Utilizam a dita “paixão pelo time” para impor aos
oponentes, usando a violência, suas verdades. Os componentes das organizadas
não se importam com o melhor do futebol: o lúdico. Vão à campo para marcar e
conquistar seu território.
Os
dirigentes das torcidas organizadas são profissionais dessas milícias. Vivem
para isso com o apoio, principalmente financeiro, dos diretores dos clubes e
federações que usam as organizadas para se perpetuarem nos cargos. A violência
atual nos estádios não é uma questão social, como muitos querem nos fazer
acreditar, escondendo a razão crucial. A violência nas arenas e fora delas,
organizada pelas torcidas organizadas, é uma questão política de perpetuação no
poder.
O
Brasil somente vai acabar com a violência nos estádios de futebol se
desorganizar as organizadas, desmantelando os meandros políticos que sobrevivem
delas.
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