Chiko Kuneski
“Se eu quiser falar com Deus, tenho que calar a voz”
Gilberto Gil
Há
algum tempo escrevi uma crônica sobre o uso exacerbado da “fé em deus” nos
jogos. A crônica “Futebol é coisa dos Homens”, com o olhar crítico da minha “fé”
agnóstica, apontava para um movimento crescente de jogadores que externavam,
até descabidamente, a crença religiosa em gestos, palavras e mensagens grafadas
sob os uniformes dos clubes. Mal sabia eu que era apenas um tímido começo.
Esse
movimento de adoração pública ganhou mais adeptos e atualmente no futebol
brasileiro é raro não ouvir de um jogador que: “deus está do meu lado”, “graças
a deus”, “devo tudo ao senhor”, “deus guiou meus pés (artilheiros) ou minhas
mãos (goleiros)”. Usam a palavra “deus” com se fosse o décimo segundo e mais
importante jogador do time. Banalizaram o conceito.
O
conceito, pois “deus” não existe. Deus é uma criação da fé do Homem, que a ela
se apega para buscar no desconhecido um sentido além do material. Deus é
etéreo, é volátil, deveria ser imaterial. Mas no futebol, conforme os
jogadores, “Ele” faz, gol, defende, ataca, joga, muda resultados e,
indubitavelmente, ganha.
Nunca
ouvi um atleta que perdeu o jogo atribuir a derrota aos desígnios de deus. Para
eles deus só existe nas vitórias, pois é essa a mensagem que querem vender.
Acredite, tenha fé e deus te fará vitorioso. Duvide e será um eterno perdedor.
Vendem-o como o paraíso terrestre. Usam o esporte para propagar a doutrina. As
manifestações de jogadores e até árbitros de futebol estão banalizando o
conceito “deus”. Tentam fazê-lo material. Tornam Deus mundano.
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