sábado, 6 de junho de 2015

O futebol faz Deus mundano

Chiko Kuneski

         “Se eu quiser falar com Deus, tenho que calar a voz”
                                                                                       Gilberto Gil

Há algum tempo escrevi uma crônica sobre o uso exacerbado da “fé em deus” nos jogos. A crônica “Futebol é coisa dos Homens”, com o olhar crítico da minha “fé” agnóstica, apontava para um movimento crescente de jogadores que externavam, até descabidamente, a crença religiosa em gestos, palavras e mensagens grafadas sob os uniformes dos clubes. Mal sabia eu que era apenas um tímido começo.

Esse movimento de adoração pública ganhou mais adeptos e atualmente no futebol brasileiro é raro não ouvir de um jogador que: “deus está do meu lado”, “graças a deus”, “devo tudo ao senhor”, “deus guiou meus pés (artilheiros) ou minhas mãos (goleiros)”. Usam a palavra “deus” com se fosse o décimo segundo e mais importante jogador do time. Banalizaram o conceito.

O conceito, pois “deus” não existe. Deus é uma criação da fé do Homem, que a ela se apega para buscar no desconhecido um sentido além do material. Deus é etéreo, é volátil, deveria ser imaterial. Mas no futebol, conforme os jogadores, “Ele” faz, gol, defende, ataca, joga, muda resultados e, indubitavelmente, ganha.


Nunca ouvi um atleta que perdeu o jogo atribuir a derrota aos desígnios de deus. Para eles deus só existe nas vitórias, pois é essa a mensagem que querem vender. Acredite, tenha fé e deus te fará vitorioso. Duvide e será um eterno perdedor. Vendem-o como o paraíso terrestre. Usam o esporte para propagar a doutrina. As manifestações de jogadores e até árbitros de futebol estão banalizando o conceito “deus”. Tentam fazê-lo material. Tornam Deus mundano.

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