sexta-feira, 19 de junho de 2015

Batismo de fogo

Mauro Pandolfi

"Não sois máquinas. Sois homens"
O belo discurso de Charles Chaplin em O Grande Ditador

Neymar é um dos grandes. Faltava pouco. Quase nada. Aconteceu. O batismo de fogo do jovem Neymar. Ele entrou no panteão do futebol brasileiro. Após a partida contra Colômbia, ele foi canonizado pela inquisição que a derrota do Brasil provoca. Sentiu na alma a dor da dúvida do talento, a crueldade da humilhação e a vergonha de ser um perdedor.

O rei Pelé foi acusado de acabado e cego. O mesmo serviu para Tostão. Gérson era covarde. Rivelino teve mais sorte. Só o acusaram de amarelar. Zico era o craque abstrato do Maracanã. Sócrates só queria uma cerveja. Nem Falcão escapou. Era frágil e o treinador preferiu o 'duro' Chicão na Copa da Argentina. O quarteto de 'erres' foi estocado de diversas formas. Romário, boêmio. Ronaldo, gordo. Rivaldo, bronco. Ronaldinho Gaúcho, foca amestrada. Neymar, finalmente, entendeu a idolatria. Bem vindo ao clube!

Neymar é um homem em formação. Tem 23 anos e vive como um jovem de sua idade. Adora festas, baladas, luxo, mulheres bonitas, diversão. É um milionário que não sabe o quanto vale. Seu pai sabe. O velho vigarista colocou o filho em má situação. A obsessão pelo enriquecimento rápido pode virar cadeia. E, Neymar, como todo garoto que idolatra o pai, sofre.

A pressão de ver o pai em apuros mexeu com o lado emocional. Gritou, xingou, bateu, apanhou e foi expulso. Uma expulsão tola, boba, típica de alguém em desequilíbrio. Falta gente inteligente, hábil, centrada e consciente na comissão técnica da seleção.

Neymar é um jogador em transformação. Quase pronto. Um instante e será do mesmo patamar de Messi. Neymar reinventou o Santos. O belo time que ganhou a Copa do Brasil e a Libertadores tem a sua genialidade. Reparem o time. Quase todos craques. Ganso, André, Adriano, Arouca. Nomes para a seleção. A ótima equipe foi desmontada aos poucos. Neymar foi brilhar ao lado de Messi. E, outros? Arouca virou só uma lembrança. Ganso não cumpriu a promessa. André e Adriano se perderam nos bares da vida e nos bancos de reservas. O brilho de Neymar refletia em todos. Isolados, eram pouco mais que nada.

Neymar não ficará pronto nunca. Ninguém fica. Veterano ou jovem, a alma, os reflexos, os sentimentos não se medem e, não sei, se é possível controlá-lo. Zidane que o diga. Neymar é a ponta mais aguda do tridente da Catalunha. Não é um qualquer. Se a companhia de Messi, Iniesta, Suarez criam um candidato a gênio, entreguem a camisa a Pedro. Será que um torcedor culé concordaria? Eu não me arrisco a perguntar.

Neymar é um jogador de playstation. Perfeito! Seria estranho se fosse de jogo de botão. O futebol do playstation é o jogo sonhado, idealizado, desejado pelos românticos. Há asas poéticas em todos os jogadores. Há gols nunca visto. Dribles que nem Garrincha imaginou. A bola batida é mais que uma folha seca de Didi. O futebol do playstation é total.

Eu sei disto! Levei, certa vez, uma goleada do meu filho Pedro. Ele tinha pouco mais de oito anos. Driblou o time inteiro. Ia e voltava. Chapéus longos e curto. Na frente do gol, ergueu a bola. E, virou uma bicicleta fantástica. Virei fã do futebol de playstation. Nunca fiz um gol destes. Nem joguei mais botão. É sem graça, parado, chato.


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