sexta-feira, 29 de junho de 2018

O que eu espero do Brasil!

 

"Viva o Brasil! Onde o ano inteiro é primeiro de abril"
O 'poemeu efemérico' de Millor Fernandes refere-se ao país. Acho inclui o futebol nele.

Mauro Pandolfi

Ando desconfiado do Brasil. Não é o 'país do futuro' do pesadelo de Stefan Zweig. Este eu tenho todas as certezas dos equívocos que cometi na minha vida acreditando em sonhos, esperanças e utopias. Refiro-me a seleção de Tite. Um time que prometia pelas eliminatórias ser ousado, criativo, perto do eterno desejo do jogo bonito. Mas, não é! É previsível, próximo do burocrático. É organizado como quase todas as seleções da Copa. Sólido na defesa, inexistente na armação, voluntarioso no ataque. Uma equipe que lembra muito a de seleção de 2010. Até nos problemas físicos são iguais. Ainda bem que Tite não é Dunga. É um ótimo treinador e educado. Também, não há Felipe Melo. Casemiro parece ser um jogador equilibrado, sereno e um excelente volante ao contrário do celerado jogador do Palmeiras. Ou, a derrota aflora os instintos selvagens?
O futebol brasileiro é uma fantasia. Sinônimo de ilusionismo, de habilidade, não gosto do conceito, de arte. Desde 1938, com Lêonidas da Silva, espera-se que a beleza desfile de amarelo, tão elegante, tão vaidosa, geniosa, sestrosa. A história é diferente. Porém, como no filme 'O homem que matou o fascínora', um jornalista disse que 'quando a lenda é melhor que a verdade, publica-se a lenda', a lenda foi publicada, repercutida, consolidada.  De 1970 para cá, apenas 1982 tentou materializar a 'lenda'. O jogo envolvente, bonito, rápido, brilhante, perdeu. No entanto, ninguém esquece este time. Em 1994, a retranca, a organização burocrática, com dois armadores (Zinho e Mazinho) pouco mais que limitados, venceu, virou tetra. Mas, parece ser lembrado apenas como obrigação de conhecer os campeões. E um mantra foi criado: 'é preferível jogar feito e ganhar do que jogar bonito e perder'. Nunca mais jogamos bonito. Perdemos muitas vezes.
Será que exagero? Estou iludido pela lenda? Desejo mais do podem oferecer? Ou sou um sonhador como era o Maurinho? Ou, como Eduardo Galeano, suspiro por um jogo bonito, envolvente, sedutor? A seleção de Tite me desanima. Não sou um 'pacheco', nem nacionalista, adoro futebol bem jogado e numa Copa do Mundo me encanto por quem desafina o coro dos contentes, por quem flui o jogo, por quem ataca com elegância, por quem se movimenta organizado e belo como um balé, por quem transpira futebol. Queria tanto vestir uma camisa amarela, sair por aí, comemorando a bela vitória, gritar 'Brasilll!!!' Mas, o time de Tite não me provoca isto. É apenas uma equipe correta, pragmática, com boas chances de ser Hexa. Não entrará para as memórias de quem sobrevive, ame, venera o futebol.
Onde foi parar o futebol envolvente das Eliminatórias? A 'pior geração de todos os tempos' se reinventou. Velocidade, movimentação, o prazer de ficar com a bola, a ousadia. Foi melhor em 2016, diminuiu o ritmo em 2017 e desintegrou em 2018. Ainda mantém a solidez defensiva. Com a ausência de Daniel Alves perdeu a armação e a imaginação pelo lado direito. O outro armador era Marcelo. Renato Augusto formava o triângulo que ditava o ritmo. Neymar e Gabriel Jesus percorriam todo o ataque. E, Paulinho ia de área a área. Que belo time, hein Tite?
Veio a Copa, Tite errou nas convocações, sentiu a pressão, perdeu algumas convicções e O Brasil passou correndo riscos. É do jogo, correr riscos. Parece que Tite involuiu como treinador. O time é ortodoxo, compartimentado, cada um cuida do seu quadrado.  Istoi explica a falta de gols de Gabriel Jesus. Está preso com um centroavante, perdeu a naturalidade sem a movimentação, a troca de funções. A verticalidade Paulinho desapareceu numa mudança organizacional da equipe. Quem apareceu foi a horizontalidade de Wilian. Ele não tem com quem dialogar. Está sozinho. Fagner é um lateral correto, assim com Filipe Luís. Jogam em linha reta, sempre reta, nunca em diagonal quando atacam. Preferem defender. Casemiro virou um volantão. É necessário para proteger dois zagueiros - que fazem boa copa - que pareciam tão frágeis de lentos que são. Não há virtudes neste time? Há e muitas. Vamos a elas...
Philipe Coutinho é um dínamo ofensivo. Falta pouco para ser um maestro. Centro do time, pilar técnico, hábil chutador. Poderia se movimentar mais. Quanto mais falam de Neymar, quanto mais criticam o seu comportamento, quanto mais reclamam de suas reclamações, menos joga. Deixem o 'menino' em paz! Está contido e preso no lado esquerdo. Genial e genioso, Neymar é jogador de campo todo, não pode ficar ''enjaulado' num canto. Liberem a movimentação, deixe o solto, o time será outro. Será mortal!
Vem o México. A correria de Chicharito e seus amigos 'ligeirinhos' não temem o Brasil. Eles já despacharam a Alemanha. Não é jogo fácil. O México gostou de ganhar do Brasil nos últimos anos, inclusive uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres. Espero que o Brasil se classifique. Quero ver o encontro com a Bélgica. Será o confronto do futebol que me encanta contra o país que me ensinou amar o futebol. Do Brasil pragmático, herdeiro de Zagalo, Parreira, Lazaroni, Felipão, Dunga, contra o estilo, a beleza, o ataque, a modernidade de Hazard, De Bruyne. Ninguém se parece tanto como Brasil de 82  de Telê Santana como esta Bélgica de Lukaku. Talvez, a Croácia de Luca Modric.

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