"Viva o Brasil! Onde o ano inteiro é primeiro de abril"
O 'poemeu efemérico' de Millor Fernandes refere-se ao país. Acho inclui o futebol nele.
Mauro Pandolfi
Ando
desconfiado do Brasil. Não é o 'país do futuro' do pesadelo de Stefan
Zweig. Este eu tenho todas as certezas dos equívocos que cometi na minha
vida acreditando em sonhos, esperanças e utopias. Refiro-me a seleção
de Tite. Um time que prometia pelas eliminatórias ser ousado, criativo,
perto do eterno desejo do jogo bonito. Mas, não é! É previsível, próximo
do burocrático. É organizado como quase todas as seleções da Copa.
Sólido na defesa, inexistente na armação, voluntarioso no ataque. Uma
equipe que lembra muito a de seleção de 2010. Até nos problemas físicos
são iguais. Ainda bem que Tite não é Dunga. É um ótimo treinador e
educado. Também, não há Felipe Melo. Casemiro parece ser um jogador
equilibrado, sereno e um excelente volante ao contrário do celerado
jogador do Palmeiras. Ou, a derrota aflora os instintos selvagens?
O
futebol brasileiro é uma fantasia. Sinônimo de ilusionismo, de
habilidade, não gosto do conceito, de arte. Desde 1938, com Lêonidas da
Silva, espera-se que a beleza desfile de amarelo, tão elegante, tão
vaidosa, geniosa, sestrosa. A história é diferente. Porém, como no filme
'O homem que matou o fascínora', um jornalista disse que 'quando a
lenda é melhor que a verdade, publica-se a lenda', a lenda foi
publicada, repercutida, consolidada. De 1970 para cá, apenas 1982
tentou materializar a 'lenda'. O jogo envolvente, bonito, rápido,
brilhante, perdeu. No entanto, ninguém esquece este time. Em 1994, a
retranca, a organização burocrática, com dois armadores (Zinho e
Mazinho) pouco mais que limitados, venceu, virou tetra. Mas, parece ser
lembrado apenas como obrigação de conhecer os campeões. E um mantra foi
criado: 'é preferível jogar feito e ganhar do que jogar bonito e
perder'. Nunca mais jogamos bonito. Perdemos muitas vezes.
Será
que exagero? Estou iludido pela lenda? Desejo mais do podem oferecer?
Ou sou um sonhador como era o Maurinho? Ou, como Eduardo Galeano,
suspiro por um jogo bonito, envolvente, sedutor? A seleção de Tite me
desanima. Não sou um 'pacheco', nem nacionalista, adoro futebol bem
jogado e numa Copa do Mundo me encanto por quem desafina o coro dos
contentes, por quem flui o jogo, por quem ataca com elegância, por quem
se movimenta organizado e belo como um balé, por quem transpira futebol.
Queria tanto vestir uma camisa amarela, sair por aí, comemorando a bela
vitória, gritar 'Brasilll!!!' Mas, o time de Tite não me provoca isto. É
apenas uma equipe correta, pragmática, com boas chances de ser Hexa.
Não entrará para as memórias de quem sobrevive, ame, venera o futebol.
Onde
foi parar o futebol envolvente das Eliminatórias? A 'pior geração de
todos os tempos' se reinventou. Velocidade, movimentação, o prazer de
ficar com a bola, a ousadia. Foi melhor em 2016, diminuiu o ritmo em 2017 e
desintegrou em 2018. Ainda mantém a solidez defensiva. Com a ausência de
Daniel Alves perdeu a armação e a imaginação pelo lado direito. O outro
armador era Marcelo. Renato Augusto formava o triângulo que ditava o
ritmo. Neymar e Gabriel Jesus percorriam todo o ataque. E, Paulinho ia
de área a área. Que belo time, hein Tite?
Veio
a Copa, Tite errou nas convocações, sentiu a pressão, perdeu algumas
convicções e O Brasil passou correndo riscos. É do jogo, correr riscos.
Parece que Tite involuiu como treinador. O time é ortodoxo,
compartimentado, cada um cuida do seu quadrado. Istoi explica a falta
de gols de Gabriel Jesus. Está preso com um centroavante, perdeu a
naturalidade sem a movimentação, a troca de funções. A verticalidade
Paulinho desapareceu numa mudança organizacional da equipe. Quem
apareceu foi a horizontalidade de Wilian. Ele não tem com quem dialogar.
Está sozinho. Fagner é um lateral correto, assim com Filipe Luís. Jogam
em linha reta, sempre reta, nunca em diagonal quando atacam. Preferem
defender. Casemiro virou um volantão. É necessário para proteger dois
zagueiros - que fazem boa copa - que pareciam tão frágeis de lentos que
são. Não há virtudes neste time? Há e muitas. Vamos a elas...
Philipe
Coutinho é um dínamo ofensivo. Falta pouco para ser um maestro. Centro
do time, pilar técnico, hábil chutador. Poderia se movimentar mais.
Quanto mais falam de Neymar, quanto mais criticam o seu comportamento,
quanto mais reclamam de suas reclamações, menos joga. Deixem o 'menino'
em paz! Está contido e preso no lado esquerdo. Genial e genioso, Neymar é
jogador de campo todo, não pode ficar ''enjaulado' num canto. Liberem a
movimentação, deixe o solto, o time será outro. Será mortal!
Vem
o México. A correria de Chicharito e seus amigos 'ligeirinhos' não
temem o Brasil. Eles já despacharam a Alemanha. Não é jogo fácil. O
México gostou de ganhar do Brasil nos últimos anos, inclusive uma
medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres. Espero que o Brasil se
classifique. Quero ver o encontro com a Bélgica. Será o confronto do
futebol que me encanta contra o país que me ensinou amar o futebol. Do
Brasil pragmático, herdeiro de Zagalo, Parreira, Lazaroni, Felipão,
Dunga, contra o estilo, a beleza, o ataque, a modernidade de Hazard, De
Bruyne. Ninguém se parece tanto como Brasil de 82 de Telê
Santana como esta Bélgica de Lukaku. Talvez, a Croácia de Luca Modric.
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