"O gol não é uma simples palavra; é um grito sem fim de amor e dor. Goooolll!"
Os panamenhos mostraram que Armando Nogueira esqueceu da paixão. Um gol é maior que a vitória quando é paixão"
Mauro Pandolfi
Já escolhi o gol da Copa. Não é o gol estético, preciso de Cristiano Ronaldo.
Nem o da inteligência apurada de Modric. Muito menos o balé bem ensaiado
da Bélgica finalizado por Lukaku. Nem pensei no chute oblíquo de
Philippe Coutinho. Não cogitei a fúria de Kroos, craque de um time que nunca
desiste. Todos golaços que serão lembrados quando contarem a história
desta Copa. O gol escolhido é o que reverencia o espírito do jogo. O
que transforma a derrota em nada. O gol do prazer em ver o jogo, em
comemorar uma façanha. O meu gol é de Felipe Baloy. O Panamá foi
goleado, triturado, desclassificado por uma Inglaterra poderosa
comandada por um artilheiro fantástico: Harry Kane. Mas, para aqueles
torcedores de vermelho o resultado é um detalhe insignificante, menor,
inexistente. Eles vibraram com gol feito os vencedores da partida. Deram a lição que a
Copa do Mundo não é uma guerra simulada. É uma festa onde o que vale é a cor da
camisa, não a da pele; que o canto é de alegria, não de desafio; que o
olhar ríspido é o da luta intensa em busca da vitória, não de ódio. Poxa!
Eu que não sonho, perdi a esperança e não tenho utopia, me perdi no
devaneio de um mundo melhor é possível. Pena que um jogo dure apenas 90 minutos, o que para o mundo é nada.
O
tempo passava devagar, bem preguiçoso. A goleada estava consolidada,
arrebatadora, definida. A Inglaterra sem pressa já poupava seus
jogadores. Seus torcedores entediados esperavam o final do jogo. Os do
Panamá estavam tristes, desiludidos, silenciosos. Mas, um lance mudou o
espírito. Nada que ameaçasse a vitória britânica. A bola cruzou a área,
atravessou uma barreira humana. Atrás dela, um corpo desliza ao encontro
da bola. O toque de Felipe Baloy não virou um gol qualquer. Não mudou o
resultado, não classificou o Panamá. Virou festa. Uma festa que
lembrava título. O gol de povo, de uma nação, de um sonho, de uma
esperança. A presença na Copa já era uma utopia. O treinador Gomez ria
feliz. A torcida pulava, cantava, vibrava juntos com os jogadores. Baloy
misturou-se a eles. O abraços dos amigos, dos parentes virou a grande
imagem de sua carreira. E, o futebol mostrou o seu melhor lado
'auto-ajuda': 'o sucesso tem o tamanho do nosso desejo. Não do desejo
dos outros'.
Felipe
Baloy é um quase anônimo jogador de futebol. Zagueiro técnico e rápido,
não deixou saudades nos gremistas. Seu bom jogo não resistiu a
mediocridade daquele time que foi rebaixado. Virou até piada. Injusta
piada! Depois do Atlético Paranaense o perdi de vista. Reencontrei no
álbum de figurinhas da Copa. Quase não o reconheci. Veterano, careca,
com barba. Está marcado lá: Felipe Baloy, 37 anos. O gol o deixará
eterno, pelo menos para os panamenhos, ou para os gremistas que reverenciam até quem os fez sofrer.
Um
homem comum jogando com as estrelas. É a imagem que tenho de Baloy. Não
vi nenhum candidato a mito ir abraçar os torcedores. Ele não
representava ninguém. Baloy é um torcedor. Fico imaginando o futuro, lá
por 2042, a cena é uma cidade do Panamá. O pequeno menino entra correndo
em casa chamando pelo vovô: 'Vai começar a Copa, vovô! Me conta uma
história de futebol?'. O homem abraça o netinho, coloca em seu colo e
pergunta: qual delas? O garoto sorri e diz: a que você virou herói? Não
percebe as lágrimas e começa: 'Foi num domingo, lá por 2018...' Este é o
destino de alguém que deixa uma marca na vida. Não precisa grandes
feitos, vitória imensas. Basta a paixão!
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