terça-feira, 5 de junho de 2018

Derrota

 

"Só três pessoas calaram o Maracanã com um gesto: Frank Sinatra, o Papa e eu!"
Ghigia não só calou como 'inventou' o moderno futebol brasileiro. Ao ver o pai Dondinho chorando, ganhar o Mundial virou obsessão, desejo e promessa de um menino chamado Édson.

Mauro Pandolfi

Eu sou um perdedor.  Nem sempre é ruim. Tanto faz na vida  ou no futebol. Às vezes, a derrota é fundamental para abrir a mente, abandonar os conceitos, rejeitar os preconceitos, eliminar a certeza, destruir a coerência, descobrir a 'magia'. Perder te tira da zona do conforto. Faz encarar o labirinto de maneira lúcida. Requer saídas, soluções, pensares. Bom, é para quem não se conforma com a derrota!. Quem se conforma, paciência! Grandes seleções do futebol foram derrotadas. Brasil inventou um futebol para fugir de 50. Holanda ainda procura superar 74. A Hungria, parece que desisitu do futebol, nunca mais conseguiu ser o que prometeu em 54.
'Anatomia de uma derrota', o livro de Paulo Perdigão, mudou alguns conceitos que tinha sobre futebol, a sua história e seus mitos. O livro disseca tudo sobre a 'grande tragédia' - o termo usado como se fosse um teatro. É teatro! O teatro de grama e paixão! ´- o infortúnio, o complexo absoluto de inferioridade. Fracassamos diante de nós. Nada mais falso do que isto. O Brasil perdeu a Copa e partiu em busca da modernidade, do futuro que prometia grandioso. A derrota salvou o futebol brasileiro do amadorismo. Há uma reestruturação profunda. O húngaro Bela Gutman é contratado pelo São Paulo para fazer uma 'revolução'. E, fez!. O anacrônico WM é substituido por uma nova estratégia de ataque e defesa (o 4-2-4), de pensar o jogo, de obsessão pela vitória. Seu auxiliar Vicente Feola assume a seleção brasileira. Ele teve a ousadia que mais nenhum técnico teve neste país: levar um menino de 17 anos para a Copa. Pelé já era o 'Rei Etíope' na definição de Nélson Rodrigues em 'Sombra das chuteiras imortais'. O resto da história todos sabem.
Mas, se o Brasil tivesse ganho a Copa de 50? Será que o menino Édson faria a promessa ao pai Dondinho? Deixaria Bauru para ir ao Santos? O futebol ainda seria o romântico WM? Teria ganho o tri (58, 60, 70? São perguntas que nunca terão respostas. Assim como a Copa, a vida não tem returno. Passa rápida ou lenta, às vezes, voa, mas é única. As derrotas são corrigidas por quem não tem medo de ousar, de arriscar, de perder outras vezes. Está é uma lição que o futebol me deu. Lição que às vezes, feito aluno relapso, deixo de fazer.
2014 não é 1950. O Brasil já tinha perdido o romantismo. Um país mais árido, ríspido, desconfiado. A visão do 'futuro promissor' já tinha sumido do horizonte. As grandes manifestações de 2013 não fizeram 'a primavera'. Tudo continuou igual, cada vez pior. O futebol já não era a paixão nacional. O time de Felipão era pálido, sem alma, sem paixão. 0 7 a 1 não foi uma 'tragédia' como 50. Não teve a dor da massa no Maracanã. Segundo Carlos Heitor Cony ouviu dezenas de pessoas na saída do Maracanã em 50.  'Cada um tinha a sua visão do que acabará de acontecer. Nenhuma era igual a outra. Todas diferentes. Como acreditar que isto tudo aconteceu?', refletiu no prefácio do livro de Paulo Perdigão. Não tornou-se drama e nem angústia. Virou chacota, piada, memes, gozação, zoeira. Não teve Barbosa - o que é um significativo avanço - e nem violência. Não provocou nenhuma revolução no futebol. Tudo continouu igual, cada ver pior. Foi somente uma derrota, uma goleada retumbante, que de tempos em tempos, acontece no futebol. Apenas, humilhação! Gabriel Jesus pintou a sua rua, em 2014, de verde e amarelo. Será que prometeu  o título de 2018 para a sua mãe?

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