"Só três pessoas calaram o Maracanã com um gesto: Frank Sinatra, o Papa e eu!"
Ghigia
não só calou como 'inventou' o moderno futebol brasileiro. Ao ver o pai
Dondinho chorando, ganhar o Mundial virou obsessão, desejo e promessa
de um menino chamado Édson.
Mauro Pandolfi
Eu sou um perdedor. Nem sempre é ruim. Tanto faz na vida ou no futebol.
Às vezes, a derrota é fundamental para abrir a mente, abandonar os
conceitos, rejeitar os preconceitos, eliminar a certeza, destruir a
coerência, descobrir a 'magia'. Perder te tira da zona do conforto. Faz
encarar o labirinto de maneira lúcida. Requer saídas, soluções,
pensares. Bom, é para quem não se conforma com a derrota!. Quem se
conforma, paciência! Grandes seleções do futebol foram derrotadas. Brasil
inventou um futebol para fugir de 50. Holanda ainda procura superar 74. A
Hungria, parece que desisitu do futebol, nunca mais conseguiu ser o que
prometeu em 54.
'Anatomia
de uma derrota', o livro de Paulo Perdigão, mudou alguns conceitos que
tinha sobre futebol, a sua história e seus mitos. O livro disseca tudo
sobre a 'grande tragédia' - o termo usado como se fosse um teatro. É
teatro! O teatro de grama e paixão! ´- o infortúnio, o complexo absoluto
de inferioridade. Fracassamos diante de nós. Nada mais falso do que
isto. O Brasil perdeu a Copa e partiu em busca da modernidade, do futuro
que prometia grandioso. A derrota salvou o futebol brasileiro do
amadorismo. Há uma reestruturação profunda. O húngaro Bela Gutman é
contratado pelo São Paulo para fazer uma 'revolução'. E, fez!. O
anacrônico WM é substituido por uma nova estratégia de ataque e defesa
(o 4-2-4), de pensar o jogo, de obsessão pela vitória. Seu auxiliar
Vicente Feola assume a seleção brasileira. Ele teve a ousadia que mais
nenhum técnico teve neste país: levar um menino de 17 anos para a Copa.
Pelé já era o 'Rei Etíope' na definição de Nélson Rodrigues em 'Sombra
das chuteiras imortais'. O resto da história todos sabem.
Mas,
se o Brasil tivesse ganho a Copa de 50? Será que o menino Édson faria a
promessa ao pai Dondinho? Deixaria Bauru para ir ao Santos? O futebol
ainda seria o romântico WM? Teria ganho o tri (58, 60, 70? São perguntas
que nunca terão respostas. Assim como a Copa, a vida não tem returno.
Passa rápida ou lenta, às vezes, voa, mas é única. As derrotas são
corrigidas por quem não tem medo de ousar, de arriscar, de perder outras
vezes. Está é uma lição que o futebol me deu. Lição que às vezes, feito aluno relapso, deixo de fazer.
2014
não é 1950. O Brasil já tinha perdido o romantismo. Um país mais árido,
ríspido, desconfiado. A visão do 'futuro promissor' já tinha sumido do
horizonte. As grandes manifestações de 2013 não fizeram 'a primavera'.
Tudo continuou igual, cada vez pior. O futebol já não era a paixão
nacional. O time de Felipão era pálido, sem alma, sem paixão. 0 7 a 1
não foi uma 'tragédia' como 50. Não teve a dor da massa no Maracanã.
Segundo Carlos Heitor Cony ouviu dezenas de pessoas na saída do Maracanã
em 50. 'Cada um tinha a sua visão do que acabará de acontecer. Nenhuma
era igual a outra. Todas diferentes. Como acreditar que isto tudo
aconteceu?', refletiu no prefácio do livro de Paulo Perdigão. Não
tornou-se drama e nem angústia. Virou chacota, piada, memes, gozação,
zoeira. Não teve Barbosa - o que é um significativo avanço - e nem
violência. Não provocou nenhuma revolução no futebol. Tudo continouu
igual, cada ver pior. Foi somente uma derrota, uma goleada retumbante,
que de tempos em tempos, acontece no futebol. Apenas, humilhação!
Gabriel Jesus pintou a sua rua, em 2014, de verde e amarelo. Será que
prometeu o título de 2018 para a sua mãe?
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