sábado, 8 de julho de 2017

Os clássicos

Chiko Kuneski

Saudosismo é o pior dos defeitos; ou a maior das virtudes. Tudo depende do contexto em que aparece. Sou do tempo em que um “derby” movimentava toda a cidade. As organizadas eram de familiares, de moradores da mesma rua, no máximo do bairro, que sabiam o hino do clube na ponta da língua e apertavam a mão dos adversários. Da família. Do vizinho.
Um encontro de rivais esportivos como entre Paysandu e Carlos Renaux, em Brusque,  durava 15 dias. Uma semana antes para os prognósticos mais impossíveis. Uma semana depois para as tripudiações ou as ressacas das derrotas que se sabia podia durar até o próximo encontro. No dia do jogo emoções fervilhando, carreatas. Tudo para promover o nada. O lúdico. O futebol e seus entornos de torcidas apaixonadas era apenas uma ludicidade que permeava o dia a dia. A paixão organizava.
Confesso que não sei se agora ser torcedor é virtude ou um mero defeito de caráter. Parece que não há mais famílias no século XXI. Nem vizinhos. Nem amigos que torcem para o time rival. Os clássicos são ideológicos. Mas sem lógica. O lúdico do futebol sumiu.
As bandeiras não são mais dos clubes. Os escudos não são mais dos clubes. As torcidas não são mais dos clubes. São milícias organizadas e uniformizadas sob as cores dos clubes. Servem para interesses políticos de dirigentes e postulantes dos clubes ou de cargos eletivos.
São marionetes políticas que acabam ganhando vida no conforto da turba desorganizada, livres, em suas cabeças das cordas, mas atadas. Ficam violentas não pela paixão. Apaixonam-se pela violência. Fazem o que os dedos dos ventríloquos comandam se sentindo livres. Matar ou morrer virou um clássico.

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