Saudosismo é o pior dos
defeitos; ou a maior das virtudes. Tudo depende do contexto em que aparece. Sou do
tempo em que um “derby” movimentava toda a cidade. As organizadas eram de familiares,
de moradores da mesma rua, no máximo do bairro, que sabiam o hino do clube na
ponta da língua e apertavam a mão dos adversários. Da família. Do vizinho.
Um encontro de rivais
esportivos como entre Paysandu e Carlos Renaux, em Brusque, durava 15 dias. Uma semana antes para os
prognósticos mais impossíveis. Uma semana depois para as tripudiações ou as
ressacas das derrotas que se sabia podia durar até o próximo encontro. No dia
do jogo emoções fervilhando, carreatas. Tudo para promover o nada. O lúdico. O
futebol e seus entornos de torcidas apaixonadas era apenas uma ludicidade que
permeava o dia a dia. A paixão organizava.
Confesso que não sei se
agora ser torcedor é virtude ou um mero defeito de caráter. Parece que não há
mais famílias no século XXI. Nem vizinhos. Nem amigos que torcem para o time
rival. Os clássicos são ideológicos. Mas sem lógica. O lúdico do futebol sumiu.
As bandeiras não são
mais dos clubes. Os escudos não são mais dos clubes. As torcidas não são mais
dos clubes. São milícias organizadas e uniformizadas sob as cores dos clubes. Servem
para interesses políticos de dirigentes e postulantes dos clubes ou de cargos
eletivos.
São marionetes
políticas que acabam ganhando vida no conforto da turba desorganizada, livres,
em suas cabeças das cordas, mas atadas. Ficam violentas não pela paixão.
Apaixonam-se pela violência. Fazem o que os dedos dos ventríloquos comandam se
sentindo livres. Matar ou morrer virou um clássico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário