Mauro Pandolfi
Quase
nada flerta com o passado como futebol. É referência, modelo, memória
de feitos gloriosos, de heróis eternos. Também é usado como fuga, algo a
ser evitado, fracassos de homens comuns. O Figueira vive o 'drama'
mais temido do teatro de grama e paixão: o rebaixamento. A queda, no
futebol, é algo mais grave que o 'inferno'. A Série C está logo ali. Há
um olhar histórico para o 'furacão'. Na Série C o futuro foi moldado. O
início fulgurante de organização, de modernização, de clube modelo. O
tempo passou. A volta ao passado não será como 'tragédia'; nem como
farsa. Será como incompetência. Não aleatória ou acaso. É um trabalho,
muito bem conduzido, nos últimos dois anos. Oito treinadores, quatro
executivos (?) de futebol, mais de 60 contratações. Como bem definiu
Chiko Kuneski, "um entreposto comercial", Processo tão comum
no futebol catarinense. Quantos chegaram ao topo e desabaram sem deixar
vestígios?
Mas,
o futebol é uma caixinha de surpresa. De onde nada se espera, às vezes,
escapa algo. É o acaso que faz suspirar o torcedor do Figueirense. Em
cada jogo há uma esperança, uma promessa, uma dúvida, uma incerteza.
'Volta o capitão Marquinhos! Chega de gol de cabeça!'. Derrota com gol
de cabeça! 'Mudou o goleiro!' Um frango, a fuga de táxi, a
desmoralização nacional. 'Agora vai. Estreia novo treinador!' Trocaram o
histórico capitão Márcio Goiano pelo Cabo, Marcelo, e tudo continuou
igual. Até um elogio no fracasso. "Mesmo perdendo percebi uma evolução
no time", frase repetida pelos três técnicos na temporada. A evolução
foi só um engano, um desejo, uma piada. Vem um novo atacante de nome
esquisito: Walterson. Pensei ter escutado errado ao ouvir o nome. Achei
que era o gorducho Walter. O Figueira adora um medalhão decadente que só
gera manchetes de jornais, despesas, frustrações. A melhor contratação
na temporada foi um de nome ilustre e carreira desconhecida: Robinho.
Quem sabe...Olha o torcedor sonhando mais uma vez!
Foram
três vitórias. Sempre contra times desorganizados, desestruturados,
desfalcados, em crise..O Figueirense sempre perdeu quando enfrentou uma
equipe sólida, bem armada, com rapidez de ataque. Derrotas para a turma
de cima, do meio e da zona do rebaixamento. O time é ruim. Pior do que
diz a imprensa. No ano passado achava o inverso do Avaí. Considerava
melhor do que falava a imprensa. Não há nenhum sentido tático no
Figueira. A defesa lenta, pesada, joga em linha, perde sempre no mano a
mano, sem saída de bola. Os laterais são inexplicáveis. Como descobriram
Weldinho e Julinho? Não há proteção dos volantes. Dudu Vieira corre para
todo o lado. Geralmente, desperdiça energia. É um bom jogador. Numa
compactação bem organizada seria muito interessante a sua movimentação.
Zé Antônio é o rombo do meio. Sempre fora do lugar, atrasado, comete
muitas faltas, dispersivo. Além disso, tem mania de passes longos. De
dez, erra, quase sempre, os dez. Marco Antônio e Jorge Henrique são
periféricos. Nunca assumiram o centro técnico de um time. Marco Antônio
flutua, anda pelos lados e nada produz. Jorge Henrique corre, luta, se
empenha. O mesmo, ou menos, que fazia Ermel. Não há conexão entre eles.
Nem troca de bola, nem aproximação. Jogam individualmente sem um pensar
coletivo. A ausência da articulação cria um vazio que equipes, bem
organizadas, aproveitam e envolvem o Figueirense. No jogo contra o
Criciúma, um comentarista disse que o time estava compactado. Erro de
observação. Era só um amontoado. Um triste arremedo de time.
Desesperado,
eu? Vou navegar nas minhas contradições. Há uma enorme possibilidade de
o Figueirense achar um bom time. Vai ser no acaso, mesmo. Tem algo que a
maioria das equipes não têm! Atacantes! Henan é ótimo. Bom domínio de
bola, inteligência, rapidez e uma conclusão precisa. Luidy é veloz,
driblador. Boa alternativa pelos lados. E, há Robinho. Inventivo,
criativo, destemido, um candidato a craque. Tem bom posicionamento,
movimenta-se com facilidade, cria espaços. Três ótimos jogadores. Só
precisam de um time ao seu redor. Ainda há tempo do clube se definir.
Será um FigueirenC ou voltará a ser FigueirA?
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