quinta-feira, 13 de julho de 2017

FigueirenC ou FigueirA?



Mauro Pandolfi

Quase nada flerta com o passado como futebol. É referência, modelo, memória de feitos gloriosos, de heróis eternos. Também é usado como fuga, algo a ser evitado, fracassos de homens comuns. O Figueira vive o 'drama' mais temido do teatro de grama e paixão: o rebaixamento. A queda, no futebol, é algo mais grave que o 'inferno'. A Série C está logo ali. Há um olhar histórico para o 'furacão'. Na Série C o futuro foi moldado. O início fulgurante de organização, de modernização, de clube modelo.  O tempo passou. A volta ao passado não será como 'tragédia'; nem como farsa. Será como incompetência. Não aleatória ou acaso. É um trabalho, muito bem conduzido, nos últimos dois anos. Oito treinadores, quatro executivos (?) de futebol, mais de 60 contratações. Como bem definiu Chiko Kuneski, "um entreposto comercial", Processo tão comum no futebol catarinense. Quantos chegaram ao topo e desabaram sem deixar vestígios?
Mas, o futebol é uma caixinha de surpresa. De onde nada se espera, às vezes, escapa algo. É o acaso que faz suspirar o torcedor do Figueirense. Em cada jogo há uma esperança, uma promessa, uma dúvida, uma incerteza. 'Volta o capitão Marquinhos! Chega de gol de cabeça!'. Derrota com gol de cabeça! 'Mudou o goleiro!' Um frango, a fuga de táxi, a desmoralização nacional. 'Agora vai. Estreia novo treinador!' Trocaram o histórico capitão Márcio Goiano pelo Cabo, Marcelo, e tudo continuou igual. Até um elogio no fracasso. "Mesmo perdendo percebi uma evolução no time", frase repetida pelos três técnicos na temporada. A evolução foi só um engano, um desejo, uma piada. Vem um novo atacante de nome esquisito: Walterson. Pensei ter escutado errado ao ouvir o nome. Achei que era o gorducho Walter. O Figueira adora um medalhão decadente que só gera manchetes de jornais, despesas, frustrações. A melhor contratação na temporada foi um de nome ilustre e carreira desconhecida: Robinho. Quem sabe...Olha o torcedor sonhando mais uma vez!
Foram três vitórias. Sempre contra times desorganizados, desestruturados, desfalcados, em crise..O Figueirense sempre perdeu quando enfrentou uma equipe sólida, bem armada, com rapidez de ataque. Derrotas para a turma de cima, do meio e da zona do rebaixamento. O time é ruim. Pior do que diz a imprensa. No ano passado achava o inverso do Avaí. Considerava melhor do que falava a imprensa. Não há nenhum sentido tático no Figueira. A defesa lenta, pesada, joga em linha, perde sempre no mano a mano, sem saída de bola. Os laterais são inexplicáveis. Como descobriram Weldinho e Julinho? Não há proteção dos volantes. Dudu Vieira corre para todo o lado. Geralmente, desperdiça energia. É um bom jogador. Numa compactação bem organizada seria muito interessante a sua movimentação. Zé Antônio é o rombo do meio. Sempre fora do lugar, atrasado, comete muitas faltas, dispersivo. Além disso, tem mania de passes longos. De dez, erra, quase sempre, os dez. Marco Antônio e Jorge Henrique são periféricos. Nunca assumiram o centro técnico de um time. Marco Antônio flutua, anda pelos lados e nada produz. Jorge Henrique corre, luta, se empenha. O mesmo, ou menos, que fazia Ermel. Não há conexão entre eles. Nem troca de bola, nem aproximação. Jogam individualmente sem um pensar coletivo. A ausência da articulação cria um vazio que  equipes, bem organizadas, aproveitam e envolvem o Figueirense. No jogo contra o Criciúma, um comentarista disse que o time estava compactado. Erro de observação. Era só um amontoado. Um triste arremedo de time.
Desesperado, eu? Vou navegar nas minhas contradições. Há uma enorme possibilidade de o Figueirense achar um bom time. Vai ser no acaso, mesmo. Tem algo que a maioria das equipes não têm! Atacantes! Henan é ótimo. Bom domínio de bola, inteligência, rapidez e uma conclusão precisa. Luidy é veloz, driblador. Boa alternativa pelos lados. E, há Robinho. Inventivo, criativo, destemido, um candidato a craque. Tem bom posicionamento, movimenta-se com facilidade, cria espaços. Três ótimos jogadores. Só precisam de um time ao seu redor. Ainda há tempo do clube se definir. Será um FigueirenC ou voltará a ser FigueirA?

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