“O errado é mais fácil
O calar tranquilo
O auto negar sonolento
O falar perigoso
A palavra sempre é indócil!
Chiko Kuneski
Começo a crônica com o
que chamo de palavras soltas. Ou frases largadas. Ou mesmo um poema escrito na
modernidade do whatsapp. Temos que ter coragem para quebrar os dogmas. A comunicação
não pode ser encarada mais com pensamentos medievais. A sociedade precisa do agnosticismo
social, em todos os conceitos.
Mas o que tem isso com
o futebol? Tudo. Dentro de campo o futebol é a arte do movimento; fora está cada vez mais
a pantomima do fingimento. O espetáculo precisa de frases de efeito. Os
microfones se abrem para a continuação do teatro de grama e paixão, como diz
Mauro Pandolfi, para o verbo feito em carne. E não se concebe verbo transmutado
em carne sem deus.
Deus ganhou no futebol uma
dimensão explicativa para o tudo humano.
Cada dia mais no Brasil
jogadores evocam deus para seus sucessos. Em gestos e mensagens escritas e em
frases de efeito. “Deus me iluminou”. “Graças a deus fiz o gol”. “Dedico a deus
nossa vitória”. “Deus estava do nosso lado”. Na verborragia irracional, muitas
vezes de uma fé falsa e puro marketing religioso, o humano faz questão de subjugar-se
ao inexistente. A deus tudo. Ao talento uma herança de deus.
Deus não age no
futebol. Deus não atua no cotidiano. Deus é uma perfeita criação dos homens
para suas fraquezas. Mas é preciso ter coragem para encarar tal afirmação. Para
por um basta na doutrinação futebolística. Uma coragem que pode ser perigosa e
devastadora.
O técnico Levir Culpi
teve essa ousadia. Proibiu cultos, palestras, manifestações de credos, quaisquer
que sejam, no centro de treinamento do Santos. Heresia com o nome do clube? Prefiro
achar que teve a coragem do agnóstico. Ousou romper o convencional. Humanizou o
futebol tão endeusado.
Fora do centro de
treinamento e local de trabalho todos são livres para professar sua fé, seus
credos, suas adorações extra terrenas. No trabalho são humanos, não semideuses.
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