"Uma
outra 'poesia' inesquecível: Valdir Peres; Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Cerezo, Falcão,
Sócrates e Zico; Serginho e Éder. O poema começa torto. Mas, aos poucos
revela magia, encantamento, tristeza. Lindo!"
A Seleção de 82 é um belo poema que recito sempre quando falo de futebol.
Mauro Pandolfi
Há
derrotas maiores que as vitórias. Ficam eternizadas em corações e
almas. São fantásticas, inesquecíveis, perdoáveis. Este mês uma delas
'comemora' 35 anos. O rústico Sarriá foi o palco da última 'derrota
vencedora' da bola. Viu Paolo Rossi aniquilar os sonhos de Zico, Falcão,
Sócrates, Júnior e todos os deuses da mais encantadora Seleção
Brasileira. Perder de 3 a 2 para a Itália deixou aquele escrete do
tamanho do time de Pelé, Tostão, Rivelino, Imortais! Todos eles! A
vitória é só uma ilusão fugaz. O que sobrou do Brasil de 94? Romário? E a
de 2002? Rivaldo e Ronaldo? Parreira sempre será um burocrata e Felipão
foi tragado pelo 7 a 1. Ficaram os títulos na história, belas
manchetes, povo gritando pela rua...só! Mas, fale de 82? Há o encanto, a
mitologia, o fascínio, os craques. A derrota foi o que o melhor poderia
ter acontecido a esta geração. Telê Santana virou signo, símbolo,
emblema de arte. A equipe tornou-se eterna! Amamos os 'derrotados'!
Glorificamos o que poderia ter sido, assim como o Brasil que um dia
Stefan Zweig chamou de 'país do futuro'. Um futuro sempre conjugado como
pretérito.
As
vitórias não são menores que as derrotas. As Alemanhas, de 54 e 74, e a
Itália, de 82, são esquadrões dos mesmo patamar dos 'deuses vencidos'
destas copas. Ou, até melhores. Como ignorar Fritz Walter, Beckenbauer
ou Scirea? Geniais, mitos, referencias. Equipes organizadas, hábeis,
nada burocráticas, como contam alguns jornalistas ou historiadores, de
um fascinante jogo coletivo, que só ressaltou o brilho individual. A
Itália de Enzo Bearzot era moderna. Gentile foi a única lembrança do
catenaccio. O time atacava e defendia em bloco, não se chamava ainda de
'compactação'. Tardelli controlava o meio-campo ao lado do estilista
Antognoni, tão genial que jogaria junto com Zico, Sócrates, Falcão e
Cerezo em qualquer equipe do planeta. Rossi tinha o instinto mortal que
os centroavantes, com o passar do tempo, perderam. E, Bruno Conti, o
mais insinuante jogador do torneio. Canhoto, ponteiro direito, flutuava
por todo lado. Um desorganizador de defesa. No gol, a frieza, a sorte de
Zoff. Não dói dizer, mesmo depois de 35 anos, a Itália era tão
brilhante como o Brasil.
Há
pouco tempo revi aquela copa. A melhor que vi em minha memória. Grandes
times. Extraordinárias equipes. A Argentina nunca teve uma dupla como
Ramon Diaz e Maradona. Pena que nunca se acertaram. A França e os seus
10 (Platini, Giresse, Genghini, Lacombe) só repetiu o futebol com
Zidane. Quanto tempo levará a Polônia para ter um Boniek e um Lato? A
Alemanha tinha Rummenigge e o velho futebol organizado. Até Honduras
brilhou. Bittencourt e Gilberto eram talentosos. Nunca mais ouvi falar
deles. Talvez, perderam-se nas escaramuças políticas de guerrilhas e
populismo de seu país. Como esquecer de Camarões com seu goleirão Nkono e
Roger Milla, um quase Pelé africano. E havia o Brasil. Um time que
flertava com o
sonho de todos nós: livre, democrático, belo. A maior derrota veio dois
anos depois. A 'diretas já' só aconteceram em 89. E, deste então, sempre
perdemos. Mesmo, quando parecia que tínhamos vencido.
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