"Trivela;
zona do agrião; macaquinho namorado de girafa, bola ou búrica?; linha
burra de quatro zagueiros; subir o morro; estar no bagaço; a vaca vai
para o brejo; entregou o ouro aos bandidos; fazer borbulhar; dar
amarelão, mostrar o mapa da mina; feijão com arroz; catimba; coelhinho
de desenho animado; quizumba; carne assada; cabeça de bagre; sair de
pires na mão; ir na podre, bola de rúgbi."
Expressões criadas por João Saldanha. Algumas ainda são repetidas pelos comentaristas de futebol.
Mauro Pandolfi
'Meus
amigos...' Assim João Saldanha começava seus comentários no rádio e na
tevê. Ele tornou-se o mais visível dos torcedores comuns. O culto homem
que decifrava o jogo, explicava o que via, numa linguagem tão simples,
tão fácil, que todos pareciam entender de futebol como ele. Afinal, era
desta maneira que discutiam futebol numa mesa de bar. O vendedor de
picolé, o pipoqueiro, o 'geraldino' tornaram-se especialista no jogo. E,
o sossego dos treinadores terminou. João Saldanha foi mais fantástico
jornalista esportivo deste país. Um mito, uma lenda, o homem que
inventou 'feras', criou a base do time que foi o maior da história.
Saldanha era um homem destemido, corajoso, contador de história,
polêmico, genial. João Saldanha faria cem anos neste 03 de julho. Como
alguns poucos, João Saldanha é eterno.
Eu
era um menino que amava futebol. Mexia nos meus botões, no grande rádio
de madeira da cozinha sempre sintonizado na Rádio Clube, que aprendeu a
ler num jornal esportivo e esperava ansioso o comentário daquele homem
toda a noite no Jornal Nacional. Às vezes, distraído, meu pai me
chamava. Aquele minuto era mágico. Com ele, a paixão pelo futebol
respingou no jornalismo. Depois, descobri Ruy Carlos Ostermann. Entendi a
complexidade do jogo, a filosofia, o pensar elaborado, a tática. Só
desligava o rádio depois do comentário do Ruy. Aí, já era tarde. O
jornalismo já tinha alvejado a alma. Mas...
Acompanhei
sempre João Saldanha. Li seu livro 'Subterrâneo do Futebol', ouvi seus
comentários nas mesas redondas, o seu mau humor com o futebol moderno,
os livros que mostram, sem decifrar, o imenso homem que foi. O abusado,
visceral, às vezes, rude, temperamental, politicamente incorreto, o
genial comentarista, o preciso analista político. Gostava mesmo de suas
histórias. A que mais gosto é do pisão do pé que deu em Mao Tsé Tung ao
entrar, vitorioso, em Pequim: "Polla, João!.." teria dito Mao. Não sei
se era mentira. Era encantador!
Duas
coisas de João Saldanha são eternas para mim. 'As feras do Saldanha'
quando convocou a seleção pela primeira vez. Aquela Gazeta Esportiva,
com a esta manchete ficou guardada um tempão nos meus alfarrábios. Não
sei como a perdi. Outra, era a despedida. Dois dedos na testa, num
cumprimento que lembrava uma continência, o sorriso de canto de olho e o
'até amanhã!' Falta alguém como João para explicar de maneira tão simples como o Brasil enlouqueceu.
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