"Carrega
nas costas o número 1. Primeiro a receber, primeiro a pagar. O goleiro
sempre tem culpa. E, se não tem culpa, paga do mesmo jeito"
Valdir Peres entendeu bem a frase de Eduardo Galeano. Foi algumas vezes personagem dela.
Mauro Pandolfi.
Faltou pouco, muito pouco, quase nada, para Valdir Peres se transformar
em um outro Barbosa. Toninho Cerezzo e, especialmente, Paulo Rossi o
salvaram. O frango contra a União Soviética o colocava na linha
sucessória dos 'vilões, dos perdedores, dos malditos do futebol brasileiro. Mas, no
meio do caminho apareceu um 'Davi' , Paulo Rossi, com uma, duas, três pedras, que
imortalizou aquele time. Quase todos tornaram-se heróis, mitos
cantados em prosa, principalmente, em versos. Menos Valdir Peres. Ele é o
anti-herói daquela seleção. Quem viu, no momento ou tempo depois,
declama feito poesia o esquadrão. Lembram com saudades da 'santíssima trindade' (Zico,
Sócrates e Falcão), dos modernos laterais, dos hábeis zagueiros e lamentam o
goleiro. Ele foi o equivalente a Félix na seleção de 70. Só que Félix foi mais feliz.
No
São Paulo seus goleiros tornaram-se mitos. José Poy foi o
primeiro. Tão reverenciado que nunca deixou de amar o clube. Foi de tudo.
Ganhou títulos como, auxiliar, dirigente, treinador. Mesmo quando saiu de lá,
sempre foi referência. Depois vieram Picasso, Sérgio Valentim, Arlindo
até chegar em Valdir Peres. Ele veio de uma 'fábrica': a Ponte Preta. Há
inúmeros goleiros produzidos em Campinas. O mais famoso, talentoso é Carlos.
Valdir reinou no São Paulo. Jogou mais de 600 partidas. Na idolatria foi
substituído por Zetti e pelo, maior de todos, Rogério Ceni. Tenho um
amigo são paulino que considera Valdir Peres o melhor goleiro da
história do time. Não brigo com torcedor.
Valdir
era um goleiro seguro, rápido, ótima reposição de bola, sereno,
'malandro'. Foi um mestre na catimba. Seu jogo mais comentado foi a
final do Brasileiro de 77 contra o Atlético Mineiro. O jogo em que os
'deuses da bola' ou estavam de folga ou fizeram uma imensa sacanagem com
o futebol. Permitiram a vitória do medíocre contra o genial. Toleraram a
violência paulista. Há uma das cenas mais dramáticas, e covarde, do
teatro de grama e paixão. Angelo estirado no chão é pisoteado por Neca e
Chicão. Ele teve fratura na perna. Nunca mais foi o promissor meia.
Valdir Peres nada teve com o lance. Ele foi fundamental na decisão por
pênaltis. Perturbou, catimbou, irritou e provocou os erros que tornou o
São Paulo o mais triste campeão brasileiro de uma temporada.
A
lembrança mais antiga que tenho de Valdir Peres é uma matéria da
Placar. 'Ainda vou jogar de rosa' era o título. A foto mostrava com uma
camisa rosa. Uma ousadia, uma afronta contra a machonaria da bola. Não
sei se jogou alguma vez com ela. Sempre vi com uma cinza. Discreta feito
ele. Colorido era Leão. Espalhafatoso e fanfarrão, foi menos goleiro
que Valdir. Peres foi tão discreto na vida, no campo, no gol, que poucos
lembravam - agora, todos já sabem - das duas defesas dos pênaltis
batidos por Paul Breitner., um ano antes da copa de 82. O gol soviético
mudou a sua história. Não virou Barbosa. Mas, dizem que era o 'verso
torto', sem métrica, sem brilho, sem rima, da grande poesia de Telê
Santana. Valdir Peres, morreu aos 66 anos, de um infarto fulminante,
agora, é saudades!
Belo texto, meu amigo!
ResponderExcluirGrande abraço!
Grato! Abraços.
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