quinta-feira, 27 de julho de 2017

“O quê que é isso, Perivaldo?”

Chiko Kuneski

O futebol sempre teve e, espero que tenha, seus malditos. Os verdadeiros, não os badboys midiáticos do século XXI. O Futebol é feito de transgressão. Dos que calçam as chuteiras aladas. O drible desconcertante. A firula. O chapéu. A caneta. O elástico. A lambreta. E a verborragia fora de campo. Craques, ou externadores de lampejos da delícia de ser livre preso entre os quarto linhas retangulares.
Os malditos do futebol brasileiro sempre foram colocados, ou se colocaram, à margem. Álcool, drogas, festas, vida fácil, dinheiro fácil, futebol fácil. Todos foram autodestrutivos; ao mesmo tempo em que eram surpreendentes com a bola. De Garrincha a Sócrates e tantos outros malditos que já morreram praticamente esquecidos. Lembrados em funerais.
Perivaldo Lúcio Dantas é nome que consta no atestado de óbito. Frio, como o cadáver esperando ser resgatado no hospital público onde deu seu último respiro vitimado por uma pneumonia. Logo ele, que corria mais que a bola no olhar crítico, sempre crítico dos comentaristas esportivos que detestam os malditos. A mídia gosta de bons moços.
Perivaldo, que ficou cunhado “como o lateral que sempre cruza por trás do gol e corre mais que a bola”, foi da gloria de lateral direito, mesmo que reserva, da mágica seleção de Telê Santana de 82, que sucumbiu à magia do espetáculo, à vida de mendigo em Lisboa.
Foi da situação em que o resgataram. Das ruas, anônimo. Viciado. Maldito. Proscrito pelo vício, o próprio e o da hipocrisia de julgar da imprensa esportiva. O pulmão que sobrava para o lateral faltou-lhe quando dele mais precisou

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