O futebol sempre teve
e, espero que tenha, seus malditos. Os verdadeiros, não os badboys midiáticos
do século XXI. O Futebol é feito de transgressão. Dos que calçam as chuteiras
aladas. O drible desconcertante. A firula. O chapéu. A caneta. O elástico. A
lambreta. E a verborragia fora de campo. Craques, ou externadores de lampejos
da delícia de ser livre preso entre os quarto linhas retangulares.
Os malditos do futebol
brasileiro sempre foram colocados, ou se colocaram, à margem. Álcool, drogas,
festas, vida fácil, dinheiro fácil, futebol fácil. Todos foram autodestrutivos;
ao mesmo tempo em que eram surpreendentes com a bola. De Garrincha a Sócrates e
tantos outros malditos que já morreram praticamente esquecidos. Lembrados em
funerais.
Perivaldo Lúcio Dantas
é nome que consta no atestado de óbito. Frio, como o cadáver esperando ser
resgatado no hospital público onde deu seu último respiro vitimado por uma
pneumonia. Logo ele, que corria mais que a bola no olhar crítico, sempre
crítico dos comentaristas esportivos que detestam os malditos. A mídia gosta de
bons moços.
Perivaldo, que ficou
cunhado “como o lateral que sempre cruza por trás do gol e corre mais que a bola”,
foi da gloria de lateral direito, mesmo que reserva, da mágica seleção de Telê
Santana de 82, que sucumbiu à magia do espetáculo, à vida de mendigo em Lisboa.
Foi da situação em
que o resgataram. Das ruas, anônimo. Viciado. Maldito. Proscrito pelo vício, o
próprio e o da hipocrisia de julgar da imprensa esportiva. O pulmão que sobrava
para o lateral faltou-lhe quando dele mais precisou
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