quinta-feira, 4 de maio de 2017

O novo big brother

Chiko Kuneski

“O futebol é um jogo de olhares.”
                                                    Mauro Pandolfi

O Brasil vai começar a testar o árbitro do replay. Um julgador de imagens. Sentado confortavelmente numa cadeira em sala de ar condicionado. Longe da torcida. Frio como a tela de plasma que usa para julgar. Nada de novo. A tecnologia já está em teste na Holanda.

Mas esse olhar cibernético, de câmeras, dependendo do estádio e da geração, principalmente no Brasil, que pode ser de 8,16, 32, 64, com drones voadores sobre o lance não mudará a paixão da dúvida? Volto a frase de Pandolfi, que acho uma boa definição do esporte, sempre serão os olhares.

O primeiro olhar será do gerador dos outros olhares, o operador da câmera. Não pode ele tremer e mudar o foco? Mudar o ângulo. Mudar os demais olhares? Não podemos esquecer que, por enquanto, haverá sempre um homem comandando a máquina.

Depois esse olhar, ai ainda mais arguto, dependerá do operador de replay. O melhor e mais bem treinado das grandes transmissões televisivas do mundo leva cerca de dez segundos para localizar a imagem litigiosa. Dez segundos. Basta uma piscada e o lance se vai e de matéria da jogada no campo vira milhares de bytes no espaço.

Mas a técnica, por mais treinada que seja do homem dos botões mágicos, terá que passar pelo novo olhar. O do árbitro de imagem. Ainda não se decidiu se estará do lado do campo ou em cabine isolada e com comunicação com o suado apitador dentro das quatro linhas. Novos olhares.


Imaginem os torcedores paralisados, apopléticos, pelos olhares dos apitos cibernéticos, com olhares congelados, num gol capital que dará o título tão sonhado ao time do coração nos acréscimos dos acréscimos. Estáticos. Mudos. Atônitos. A espera de tantos olhares para soltar o grito de gol. Mas será que o computador não errou?

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