segunda-feira, 15 de maio de 2017

El Loco


"Um homem que tem ideias novas é um louco até que suas ideias triunfem"
Marcelo Bielsa é um inovador, ousado, revolucionário. Poucos  entendem a bendita loucura de amar o futebol como ele.

Mauro Pandolfi

Tite é um técnico obcecado por vitória. Fábio Capello é um treinador obstinado por não perder.  Marcelo Bielsa é um obsessivo pela paixão que há numa bola. Ele é muito mais que um treinador ou técnico. É um pensador, um filósofo, um ideólogo do futebol. Os três mestres no ofício de inventar um time deram palestras  no seminário da cbf (Somos o Futebol. 2º Semana de Evolução do Futebol Brasileiro). Vale a pena assistir na íntegra este encontro. Preste atenção em Tite e Capello. Você aprenderá os caminhos do jogo, a lucidez para vencer. Mas, concentre-se  em Marcelo 'El Loco' Bielsa. Entenderá a poesia, a arte, o prazer, a filosofia, a 'loucura', a beleza de um drible, de uma linha de passe, de um jogo lírico, bem jogado. Entenderá o futebol!
Marcelo Bielsa desvenda os 'mistérios', encantamentos,táticos do futebol. Depois de 50 mil partidas assistidas descobriu que há dez esquemas de jogo. Uma análise cerebral, pragmática, nada ortodoxa. "Não existe mais do que dez. Há o que chamo de desespero. Nos últimos cinco minutos, quando estamos perdendo, são oito na frente, dois atrás. Ou, quando estamos vencendo, são nove atrás e um na frente. Os dez são reconhecidos por todos. O que há é uma derivação de cada um", explicou. Ofensivo ou de contenção depende de quem é 'retirado' do jogo.  Lembrei de meus professores de matemática com seus gráficos, linhas, triângulos, posições, ângulos. O treinador é um quase Pitágoras moderno. Cria teoremas, problemas e soluções, que nem sempre, funcionam. Afinal, o jogo é aleatório, imprevisível, divino.
'El Loco' é alma, coração, psicologia. "Emoção é a chave para o técnico.É muito difícil convencer alguém, se aquilo que proponho  é algo que não acredito até a morte. Dirijo o time de acordo com que sinto. E seu meu jogador não se adapta, eu luto para que adapte para poder propor a ele aquilo que eu sinto". Como é difícil resumir tanta paixão, clarividência, entendimento, filosofia em tão poucas linhas.
 Num evento de ternos e gravatas, Marcelo Bielsa usou um abrigo, tênis de caminhada, uma camiseta. Fiquei esperando ele se agachar, como faz num campo de futebol.  Carismático, emblemático, citou referências. César Luís Menotti foi uma delas. "Sou um apreciador de  Menotti, do que ele significa para mim. Ele costuma dizer que cada coisa deve estar em seu lugar. A cozinha na cozinha, o banheiro no banheiro.  Isto é exatamente o oposto do que penso. Pensar diferente de um mestre é realmente muito perigoso, mostra que sua chance de estar  errado é muito grande. Exige também respeito pela discordância". Outro foi Jorge Sampaoli. "Não é um discípulo. É melhor do que eu. Mais flexível", garantiu. Explicou como pensa o jogo entre os garotos. "Nas divisões de base, não se deve ter uma escola de um clube que faça todas as categorias jogarem com um mesmo sistema. O ideal é cada jogador  passar um ano atuando em um sistema diferente. Ou mudar de sistema a cada dois meses, para que todos possam ter cultura tática".

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