Mauro Pandolfi
"64, 66, 68, um mau tempo talvez
Anos 70, não deu pra ti
E nos 80 eu não vou me perder por aí..."
Anos 70, não deu pra ti
E nos 80 eu não vou me perder por aí..."
A linda Horizonte, de Flávio Bicca, para a peça 'Bailei na Curva', não impediu o meu engano.
Stefan
Zweig morreu iludido. O Brasil nunca será o país do futuro. Está
encurralado num passado que nunca passa. Na espiral da história, às
vezes, o passado é ultrapassado por um presente. Tão efêmero, fugaz,
rápido. É só um engano, um devaneio, uma ilusão de ótica. No domingo,
revivi um ato corriqueiro do passado e raramente vivido hoje, entrei
numa banca de revista. Busquei a Placar. Pensava numa capa de Neymar,
Gabriel Jesus, Flamengo, Palmeiras, Chapecoense ou Grêmio. Encontrei um
documento, dossiê, memória sobre o futebol dos anos oitenta. Folhei a
revista. Vi Zico, Sócrates, Telê, Renato. Todos lá! Os mitos, os ícones,
os coadjuvantes, os vilões, os sonhos de uma década tão fantástica que
revelou-se perdida. Ainda não li a Placar. Parece um 'inventário' da
minha vida. Estou com medo de ver os meus erros, enganos, desilusões,
equívocos. E, o pior: os acertos!
Já
sonhei com um despertador de um som diferente. Um trambolho ao lado da
cama. Escrevi sobre este doce engano para o encontro dos jornalistas da
turma de 1982. Uma esperança de iludir o tempo. Ser o que já fui. Fomos
quase todos. Lindos, envelhecidos, saudosos exatamente como a vida nos
preparou. Somos 'outros' sendo os mesmos. A conversa foi o 'tempo
eterno'. As histórias, lembranças, o vivido, o sonhado. É o caso da
Placar. Recontar um período 'mágico, encantador' do futebol brasileiro.
Os anos oitenta foi a última 'onda' do lendário jogo que foi mais
fantasia do que realidade. Ela sucede os anos 50 e os anos do tri
mundial. Onde o futebol era encantador, arrebatador, arte em estado
puro. Pena que a ilusão é eterna. Aplaudimos, sonhamos, desejamos um
jogo que foi mais 'quimérico, um devaneio' do que jogado. Somos reféns,
escravos de um futebol 'solidamente imaginário'. Os conceitos, as
análises, a qualificação dos times, das partidas, dos jogadores ainda
pertencem a este tempo. Não entendemos o novo, o atual, o contemporâneo.
Não percebemos que vivemos o passado. E, como já disse, ele nunca
passa. Está numa foto, numa reportagem, numa lembrança, na memória.
A
palavra que melhor revela os anos oitenta é a 'frustração'! Uma geração
dourada.mítica. Seus nomes declamados como poesia. Heróis, como a capa
de Placar, onde Sócrates, de Dom Pedro I, reproduzia o 'fico' do
imperador se a emenda das 'Diretas Já' fosse aprovada. Não passou!
Milhões de pessoas nas ruas ficaram desoladas. Exatamente igual com a
derrota da genial Seleção de Telê para a Itália de Paolo Rossi.
Perdemos, tudo, sempre. No futebol e na política. Do belo jogo da turma
de Zico, Falcão, Júnior, da democracia corinthiana, passando pela morte de Tancredo, pela
Constituinte, chegando em Sarney, desejando o 'Lula lá', terminando em
Collor e Sebastião Lazzaroni, não segui o aviso de Flávio Bicca. Se a
década de 80 é chamada de perdida, o que pensar dos anos 90 e século 21?
Bom, já é uma outra história.
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