terça-feira, 18 de abril de 2017

Fair play

 

Mauro Pandolfi

"Achei o máximo o Rodrigo Caio fazer isto. Ao mesmo tempo, é uma vergonha que isto seja o máximo".
Comentário de Dan Stulbach, no Hora de Expediente, lembrando do futebol, da política, do país, que vivemos.

O futebol é mesmo surpreendente. Há lances para toda vida. Alguns, como arte, espetáculo. Um teatro de grama. Outros, memoráveis, de conduta. Atitudes que balançam a vida, o comportamento, o pensar. O teatro de paixão. O extraordinário gol com a mão de Diego Maradona na Copa de 86 é um exemplo da malandragem, da esperteza, da magia. Tenho dificuldade em qualificar como 'canalhice'. Mas, foi! O fair play de Rodrigo Caio tem a nobreza que escapa da podridão reinante na política brasileira. Tão nobre, divino, inusitado, que o 'mundo do futebol' não conseguiu decifrar ou entender a atitude.
A honestidade de Rodrigo Caio mexeu com a velhacaria desonesta que rege o futebol brasileiro. O ato questiona o que sempre foi dogma, verdade, certeza no jogo. Enganar, faz parte. Iludir, também. Esqueça o drible, a finta, a linha de passe. Ali, a ilusão é mágica. Ao contrário, ao cavar uma falta, xingar o árbitro, fingir agressão, a 'catimba' tolerada, até estimulada, é ilusão da esperteza, malandragem. Isto é cinismo. Pelé era fantástico nisto. Provocou faltas, expulsões, pênaltis. Ele é o rei. O rei está nu? Rodrigo Caio está isolado, Em público, recebeu poucos apoios. Um deles é de Jô. Aliás, Jô tem a obrigação moral de mudar a sua conduta. Seu treinador, Rogério Ceni, não ficou muito satisfeito. Apoio crítico, para ser ameno. O capitão Maicon foi ríspido. Disse 'prefiro a mãe do adversário chorando em casa do que a minha". Paulo Nunes afirmou 'que não faria isto'. Gosto da afirmação de Dan Stulbach. É mesmo vergonhoso salientar a honestidade. Porém, virou fundamental achar o máximo a atitude de Rodrigo Caio.
Diógenes era um filósofo grego que ganhou fama ao desfilar em Atenas com uma lanterna na mão. Questionado, respondia que 'procurava um homem que vivesse a sua essência, fugisse das convenções sociais, respeitasse a sua natureza e fosse honesto'. Não sei se encontrou alguém lá em Atenas. No Congresso Nacional, entre os políticos brasileiros, perderia o seu tempo. Talvez, até roubassem a sua lanterna. No futebol esbarraria em Rodrigo Caio. Não sei se Rodrigo Caio é a alma mais honesta do futebol. Do mundo, não é. Sei que a 'mais honesta do mundo' é daquele amigo, espertalhão, que nunca pediu dez centavos para ninguém e gosta de passar os dias no sítio de um outro amigo. Alguns chamam de bon vivant. Eu prefiro canalha!!

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