domingo, 23 de abril de 2017

Os canalhas


Chiko Kuneski

Na segunda metade da década de 70, no século passado, uma propaganda de cigarros terminava com a frase do campeão da Copa de 1970  Gerson: “ O negócio é levar vantagem em tudo, certo? ”. Ficou conhecida como “lei de Gerson”. Justa ou injustamente, não faço aqui valor de juízo, permeia o futebol e a ética nacional até hoje.

Nos dois últimos finais de semana vimos a fatídica “lei” ser levada a sério por dois técnicos de dois grandes clubes brasileiros. Rogério Ceni, do São Paulo, entrou nos vestiário chutando o balde e esbravejando contra seu jogador Rodrigo Caio por ter sido honesto.

Caio evitou o cartão amarelo de Jô do Corinthians, num jogo de semifinal de estadual, por uma pseudo falta cometida contra Cássio. Acusou-se. Foi honesto, simplesmente honesto num Brasil da “lei de Gerson”. O árbitro Luiz Flavio de Oliveira reconheceu o erro, retirou o cartão e cumprimentou Rodrigo Caio. Estranhamente não reportou na súmula o “equívoco”. Juízes não erram.

Pelo que foi veiculado nos noticiários, Ceni, o técnico entrou nos vestiários chutando o balde. Esbravejando. De dedo em riste contra Caio pela honestidade. Futebol não é lugar para os honestos. Pelo menos não no Brasil. Jô entrevistado disse que achou a atitude honesta, mas que não faria o mesmo.

Jô, que não é mais um garoto com seus 30 anos, sutilmente tripudiou a virtude em detrimento da malandragem. No jogo de volta, na Arena Corinthians, a torcida “brindou” o jogador honesto cantando: “Rodrigo Caio é corinthiano”. Jô fez um gol visivelmente impedido. Comemorou com a torcida.

 No mesmo dia, no Rio Grande do Sul, o técnico do Internacional foi protagonista de uma cena grotesca de simulação. Antônio Carlos Zago, ex zagueiro da Seleção Brasileira, usou a tal “lei de Gerson” e, mesmo fora de campo, atirou-se, cinematograficamente, ao chão simulando uma agressão do jogador do Caxias, que estava dentro de campo. A desonestidade mostrou que faz parte do futebol do país mais uma vez.

Como disse o filósofo Mario Cesar Cortella, o futebol é um microcosmo do país. O Brasil é a terra da “lei de Gerson”, da vantagem, do jeitinho, da desonestidade, a tal ponto do honesto ser notícia de semana. Somos comandados por políticos desonestos. Mandados por chefes desonestos. Até, tristemente, educados por pais desonestos.

Ceni, Jô e Zago são o normal. Como são vistos  os jogadores que simulam agressões em atos cinematográficos de canastrices explícitas em campo.  São meros replicantes do senso comum reinante. Os microcosmo de país. Os canalhas erigidos a “espertos

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