Chiko Kuneski
Na segunda metade da
década de 70, no século passado, uma propaganda de cigarros terminava com a
frase do campeão da Copa de 1970 Gerson:
“ O negócio é levar vantagem em tudo, certo? ”. Ficou conhecida como “lei de
Gerson”. Justa ou injustamente, não faço aqui valor de juízo, permeia o futebol
e a ética nacional até hoje.
Nos dois últimos finais
de semana vimos a fatídica “lei” ser levada a sério por dois técnicos de dois grandes
clubes brasileiros. Rogério Ceni, do São Paulo, entrou nos vestiário chutando o
balde e esbravejando contra seu jogador Rodrigo Caio por ter sido honesto.
Caio evitou o cartão
amarelo de Jô do Corinthians, num jogo de semifinal de estadual, por uma pseudo
falta cometida contra Cássio. Acusou-se. Foi honesto, simplesmente honesto num
Brasil da “lei de Gerson”. O árbitro Luiz Flavio de Oliveira reconheceu o erro,
retirou o cartão e cumprimentou Rodrigo Caio. Estranhamente não reportou na
súmula o “equívoco”. Juízes não erram.
Pelo que foi veiculado nos
noticiários, Ceni, o técnico entrou nos vestiários chutando o balde.
Esbravejando. De dedo em riste contra Caio pela honestidade. Futebol não é
lugar para os honestos. Pelo menos não no Brasil. Jô entrevistado disse que
achou a atitude honesta, mas que não faria o mesmo.
Jô, que não é mais um
garoto com seus 30 anos, sutilmente tripudiou a virtude em detrimento da malandragem.
No jogo de volta, na Arena Corinthians, a torcida “brindou” o jogador honesto
cantando: “Rodrigo Caio é corinthiano”. Jô fez um gol visivelmente impedido.
Comemorou com a torcida.
No mesmo dia, no Rio Grande do Sul, o técnico
do Internacional foi protagonista de uma cena grotesca de simulação. Antônio
Carlos Zago, ex zagueiro da Seleção Brasileira, usou a tal “lei de Gerson” e,
mesmo fora de campo, atirou-se, cinematograficamente, ao chão simulando uma
agressão do jogador do Caxias, que estava dentro de campo. A desonestidade
mostrou que faz parte do futebol do país mais uma vez.
Como disse o filósofo Mario
Cesar Cortella, o futebol é um microcosmo do país. O Brasil é a terra da “lei
de Gerson”, da vantagem, do jeitinho, da desonestidade, a tal ponto do honesto
ser notícia de semana. Somos comandados por políticos desonestos. Mandados por
chefes desonestos. Até, tristemente, educados por pais desonestos.
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