Mauro Pandolfi
Estranho país, o Uruguai! Parece 'civilizado'. Tem um povo educado,
saudável, culto. Já foi chamado de Suiça da banda oriental. Também, é
verdade, mais pelo paraíso fiscal do que pela democracia. É um dos
melhores roteiros para férias. Diversão, lazer, cultura. Mas, quando um
uruguaio veste uma camiseta de futebol, vê a bola rolar, os 'monstros da
alma' rompem qualquer cordialidade. É agressivo, violento, como
qualquer outro 'vivente' dos ajuntamentos deste canto do mundo. Penharol
e Palmeiras foram exemplo de machonaria. Pauleira pura! Felipe Melo foi
algoz e vítima da pancadaria. A frase - 'se for preciso dou um tapa num
uruguaio' - foi lembrada por todos no estádio. Correu, foi cercado,
bateu, apanhou. Tenho vontade de dizer: bem feito! Mas, não vou dizer.
Não gosto de covardia. Até o 'sereno' - pero no mucho! - Fernando Prass
levou umas 'lambadas'. Triste. Muito triste. Lamentável! Se a Conmebol
fosse séria eliminava os dois clubes do torneio por um bom tempo. E uma
punição severa aos jogadores da batalha no 'Campeon del Siglo'. Nada vai
acontecer. Quem sabe, multas. A entidade está precisando de umas
'platas' para cobrir os rombos da corrupção. Falta uma Lava Jato no
futebol..
Estou
deixando de lado a tal Libertadores. Incomoda-me o tal jeito de 'jogar a
Libertadores'. Raramente vejo até o final uma partida. Gosto da
volúpia, da agressividade, do ataque no futebol. Gosto do jogo bem
jogado, armado, arquitetado, planejado. Gosto da habilidade, do drible,
do passe. Na Libertadores, não existe nada disto. Há mais 'guerra' do
que estratégia; mais vontade do que técnica; mais gritos do que tática,
mais sufoco do que inteligência. Me espanta os elogios da imprensa
esportiva. 'Libertadores se ganha assim' é um mantra, um dogma, um
mandamento que se repete em cada jogo como uma verdade absoluta.
A
comparação com a Champions League é devastadora. Na qualidade do jogo,
no talento dos 'artistas', no palco do teatro de grama e paixão. Até no
comportamento da plateia há uma grande diferença. A esportividade é uma
quimera por estes lados. É vencer ou vencer! Não importa como. Na
pressão, na intimidação, no medo, no mérito. Perder é para os fracos! A
derrota tornou-se uma vergonha, uma afronta, um 'vexame' ou, dependendo
do resultado, uma 'tragédia'. Isto me assusta, me afasta, me faz
desistir do futebol daqui. Ou, quase isto. Resisto pela paixão
descoberta no Vermelhão de Copacabana, pelo amor ao Grêmio, no prazer de
um menino que, às vezes, aparece feliz nos meus sonhos.
O
treinador é a alma de uma equipe. Molda, planeja, prepara. É o coração.
O que estimula o jogo. Porém, está deixando de ser o cérebro. As
pressões pelos resultados imediatos atrapalha o pensar. Evita um jogo
mais sofisticado pelo medo do resultado adverso. Prefere o trivial, o
comum, o bem decifrado por jornalistas e torcedores. Os dois times
campeões brasileiros - campeonato e copa do Brasil - de 2016 estão com
treinadores questionados pelo fracasso nos estaduais. Desesperados,
temerosos, estressados, explodiram contra jornalistas. Renato Portalupi
contra Wianey Carlet; Eduardo Baptista contra o Juca Kfoury. Mentiroso
foi um adjetivo ameno usado pelos treinadores. Há uma esquizofrenia na
imprensa esportiva. Os comentaristas são impiedosos nas derrotas,
laudatórios nas vitórias. A análise crítica é uma miragem na imprensa
esportiva brasileira, que tem uma visão anacrônica, ultrapassada,
obsoleta do jogo. A crítica é substituída pela 'opinião' - 'sou pago
para dar opinião', dizem eles - reflete no desespero do torcedor que
transforma a derrota do futebol na mesma derrota do dia a dia. Um dia
entenderão que mais perdemos do que ganhamos na vida. A 'revolução' no
futebol brasileiro deve começar na imprensa esportiva. Especialmente,
nos 'formadores de opinião'.
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