quinta-feira, 27 de abril de 2017

Uruguai, Libertadores, pauleira, treinadores. Uma quarta de futebol

 

Mauro Pandolfi

Estranho país, o Uruguai! Parece 'civilizado'. Tem um povo educado, saudável, culto. Já foi chamado de Suiça da banda oriental. Também, é verdade, mais pelo paraíso fiscal do que pela democracia. É um dos melhores roteiros para férias. Diversão, lazer, cultura. Mas, quando um uruguaio veste uma camiseta de futebol, vê a bola rolar, os 'monstros da alma' rompem qualquer cordialidade. É agressivo, violento, como qualquer outro 'vivente' dos ajuntamentos deste canto do mundo. Penharol e Palmeiras foram exemplo de machonaria. Pauleira pura! Felipe Melo foi algoz e vítima da pancadaria. A frase - 'se for preciso dou um tapa num uruguaio' - foi lembrada por todos no estádio. Correu, foi cercado, bateu, apanhou. Tenho vontade de dizer:  bem feito! Mas, não vou dizer. Não gosto de covardia. Até o 'sereno' - pero no mucho! - Fernando Prass levou umas 'lambadas'. Triste. Muito triste. Lamentável! Se a Conmebol fosse séria eliminava os dois clubes do torneio por um bom tempo. E uma punição severa aos jogadores da batalha no 'Campeon del Siglo'. Nada vai acontecer. Quem sabe, multas. A entidade está precisando de umas 'platas' para cobrir os rombos da corrupção. Falta uma Lava Jato no futebol..
Estou deixando de lado a tal Libertadores. Incomoda-me o tal jeito de 'jogar a Libertadores'. Raramente vejo até o final uma partida. Gosto da volúpia, da agressividade, do ataque no futebol. Gosto do jogo bem jogado, armado, arquitetado, planejado. Gosto da habilidade, do drible, do passe. Na Libertadores, não existe nada disto. Há mais 'guerra' do que estratégia; mais vontade do que técnica; mais gritos do que tática, mais sufoco do que inteligência. Me espanta os elogios da imprensa esportiva. 'Libertadores se ganha assim' é um mantra, um dogma, um mandamento  que se repete em cada jogo como uma verdade absoluta.
A comparação com a Champions League é devastadora. Na qualidade do jogo, no talento dos 'artistas', no palco do teatro de grama e paixão. Até no comportamento da plateia há uma grande diferença. A esportividade é uma quimera por estes lados. É vencer ou vencer! Não importa como. Na pressão, na intimidação, no medo, no mérito. Perder é para os fracos! A derrota tornou-se uma vergonha, uma afronta, um 'vexame' ou, dependendo do resultado, uma 'tragédia'. Isto me assusta, me afasta, me faz desistir do futebol daqui. Ou, quase isto. Resisto pela paixão descoberta no Vermelhão de Copacabana, pelo amor ao Grêmio, no prazer de um menino que, às vezes, aparece feliz nos meus sonhos.
O treinador é a alma de uma equipe. Molda, planeja, prepara. É o coração. O que estimula o jogo. Porém, está deixando de ser o cérebro. As pressões pelos resultados imediatos atrapalha o pensar. Evita um jogo mais sofisticado pelo medo do resultado adverso. Prefere o trivial, o comum, o bem decifrado por jornalistas e torcedores. Os dois times campeões brasileiros - campeonato e copa do Brasil - de 2016 estão com treinadores questionados pelo fracasso nos estaduais. Desesperados, temerosos, estressados, explodiram contra jornalistas. Renato Portalupi contra Wianey Carlet; Eduardo Baptista contra o Juca Kfoury. Mentiroso foi um adjetivo ameno usado pelos treinadores. Há uma esquizofrenia na imprensa esportiva. Os comentaristas são impiedosos nas derrotas, laudatórios nas vitórias. A análise crítica é uma miragem na imprensa esportiva brasileira, que tem uma visão anacrônica, ultrapassada, obsoleta do jogo. A crítica é substituída pela 'opinião'  - 'sou pago para dar opinião', dizem eles - reflete no desespero do torcedor que transforma a derrota do futebol na mesma derrota do dia a dia. Um dia entenderão que mais perdemos do que ganhamos na vida. A 'revolução' no futebol brasileiro deve começar na imprensa esportiva. Especialmente, nos 'formadores de opinião'.

Nenhum comentário:

Postar um comentário