“A dúvida é autora das insônias mais cruéis.”
Nelson
Rodrigues
Uma dúvida não me tira
o sono. Não acredito nos convertidos. Quando vêm sob a égide divina desacredito
ainda mais. Não importa o deus, o credo, a crença. A fé converte a imagem não a
essência. Tudo vira apenas um vômito de chavões para enganar os crédulos. O futebol
é, com perdão do trocadilho, campo fértil para isso.
Como disse o pensador
Públio Siro: “quem decide praticar o mal, encontra sempre um pretexto”. No
futebol o mau caráter pratica a máxima à exaustão. A culpa é sempre de outro que o leva a reação
selvagem. Heis está a palavra mágica. Selvagem. Que deriva para a selvageria,
saindo do indivíduo para o coletivo da turba. Normalmente, o mau caráter vira
herói de grupos de torcedores que buscam
uma razão para extravasar sua má índole.
A festa realizada por
uma parcela de torcedores do Palmeiras na volta do time depois do MMA
quadrangular de Montevidéu deixou explícito a adoração pelos “corajosos”
arruaceiros. Exaltaram o convertido Felipe Melo, que clama o nome de Jesus a
cada final de partida, mas que não poupou provocações aos uruguaios antes do
jogo. Sua verborragia, nem mesmo controlada pela conversão, propalou que, se preciso
fosse, daria tapa na cara dos adversários. Do verbo à carne. Bateu e se transmutou
no “herói da raça palmeirense.”
Os convertidos sabem
que funciona assim. Falam manso para se
mostrar em puros, agem como mau caráter para serem adorados por torcedores que
procuram um espelho dentro das quatro linhas para justificar sua violência nos
estádios. São meros alimentadores medíocres do mal. Usam a verborragia para
disseminar a violência em nome de uma fé.
“Santos” que sabem que
ocupam uma necessidade de torcedores frustrados em busca de sublimar a
frustração social do cotidiano no extravasar pela violência e pelo prazer de
fazer o mal. Nos convertidos, encontram o perfeito pretexto. Como eles, agridem
sem piedade e fazem o sinal da cruz.
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