sexta-feira, 28 de abril de 2017

Os convertidos

Chiko Kuneski

A dúvida é autora das insônias mais cruéis.”

                                                                      Nelson Rodrigues

Uma dúvida não me tira o sono. Não acredito nos convertidos. Quando vêm sob a égide divina desacredito ainda mais. Não importa o deus, o credo, a crença. A fé converte a imagem não a essência. Tudo vira apenas um vômito de chavões para enganar os crédulos. O futebol é, com perdão do trocadilho, campo fértil para isso.

Como disse o pensador Públio Siro: “quem decide praticar o mal, encontra sempre um pretexto”. No futebol o mau caráter pratica a máxima à exaustão.  A culpa é sempre de outro que o leva a reação selvagem. Heis está a palavra mágica. Selvagem. Que deriva para a selvageria, saindo do indivíduo para o coletivo da turba. Normalmente, o mau caráter vira herói de grupos de torcedores que  buscam uma razão para extravasar sua má índole.

A festa realizada por uma parcela de torcedores do Palmeiras na volta do time depois do MMA quadrangular de Montevidéu deixou explícito a adoração pelos “corajosos” arruaceiros. Exaltaram o convertido Felipe Melo, que clama o nome de Jesus a cada final de partida, mas que não poupou provocações aos uruguaios antes do jogo. Sua verborragia, nem mesmo controlada pela conversão, propalou que, se preciso fosse, daria tapa na cara dos adversários. Do verbo à carne. Bateu e se transmutou no “herói da raça palmeirense.”

Os convertidos sabem que funciona assim. Falam manso para  se mostrar em puros, agem como mau caráter para serem adorados por torcedores que procuram um espelho dentro das quatro linhas para justificar sua violência nos estádios. São meros alimentadores medíocres do mal. Usam a verborragia para disseminar a violência em nome de uma fé.

“Santos” que sabem que ocupam uma necessidade de torcedores frustrados em busca de sublimar a frustração social do cotidiano no extravasar pela violência e pelo prazer de fazer o mal. Nos convertidos, encontram o perfeito pretexto. Como eles, agridem sem piedade e fazem o sinal da cruz.

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