Mauro Pandolfi
"Em meio a fumaça das chaminés ecoam gritos de uma geração, gritos que são porta-vozes de uma juventude amordaçada".
Canto desesperado dos Garotos Podres, banda punk paulista dos anos 90, em busca de uma saída. Enquanto em Criciúma, no Heriberto Hulse, foram gritos de garotos que são só podres. Nada mais.
De tempos em tempos, o futebol me engana. Fico iludido na poesia, na magia, no encantamento. Nos dribles, nos pés de 'asas de chuteiras' - grande achado poético de Chiko Kuneski -, nos gols. Messi sempre me surpreende. Acha o belo futebol do nada. Parece entregue, sem força, desiludido. E ressurge com lances extraordinários. Fez um gol de futebol de salão. Apertado, trancado, achou espaço, um balé de movimentos e um gol magnífico. Barcelona e Real é o espetáculo do teatro de grama e paixão. Este é o jogo que me seduz, que embala a alma, alivia o coração e inquieta a mente. Mas, o futebol, também, é sórdido. Há algo de pérfido, nojento, velhaco. Os gritos do bando no estádio Heriberto Hulse, 'ão, ão, ão, abastece o avião', é um momento indigno, cruel, canalha. Foi uma manifestação de guris mimados, medíocres. Garotos podres!
E, por falar em podridão, a atitude de Rodrigo Caio ainda assusta o futebol e, também, o país. Ser honesto causa tanta celeuma. Chiko Kuneski abordou muito bem a 'lei de Gérson'. O grande craque pensou apenas em 'ganhar um troco' com a propaganda. Virou emblema, dogma, mandamento. Há tempo que o cinismo e a hipocrisia vive escondido no futebol. 'Falar em Deus' absolve os pecados, a pequena canalhice, a esperteza. Felipe Melo é o 'atleta padrão' deste tempo. Confuso com a bola, grosso sem ela, reproduziu fora de campo seu 'estilo' de jogo: “Mas é… ninguém joga bola, ninguém joga uma peladinha ou outra, né…eu acho que quando o pessoal está na peladinha… quer ganhar, né ? E eu sou disso, vim da pelada, jogava bola… e queria ganhar… a bola batia na gente e falava que batia no outro…. e ai, como é que faz ? Estão querendo acabar com o futebol com este negócio de fair play…(se teria atitude igual a de Rodrigo Caio) não sei, isso é questão de momento”… o que você faz se um cara pegar e der um soco na cara de seu irmão, você vai fazer o que ? Paralisar… de repente eu parto pra cima dele, não sei…” Se futebol se resumir a isto, acho que 'tô fora'!
Aranha foi certeiro, digno, quando parou o jogo Grêmio e Santos pela Copa do Brasil de 2015. Injuriado, acusou o racismo da torcida gremista. Correta, justa, necessária ação. O Grêmio deveria ser excluído da competição. Isto criaria uma jurisprudência. No entanto, o STJD preferiu punir o clube com a perda de três pontos. Na soma, seis pontos perdidos, evitou o jogo da volta. Aranha foi o Rodrigo Caio daquela vez. A carreira foi bloqueada. Perambulou sem nenhum destaque em vários clubes. No sábado, foi injusto, preconceituoso. De injuriado, injuriou. Perguntado sobre o seu peso, respondeu: "Tenho treinado, tenho treinado. É que às vezes tem cara, tem jornalista, que gosta de homem, gosta de homem sarado, gosta de cara que tira a camisa, fica mostrando o abdômen. Respeito a opção sexual de cada repórter". Outro ato escroto do futebol é o grito de 'bicha', que invadiu os estádios, quando o goleiro adversário está com a bola. Tacanho, grosseiro, vergonhoso. E assim vai tropeçando o futebol e a humanidade.
A mão não encostou no rosto. Passou um ventinho. Mas, Antônio Carlos Zago desabou. Caiu feito um papelão, ferido mortalmente. Uma cena grotesca de um canastrão, candidato ao prêmio Rojas. No outro final de semana, tentou passar a perna no médico do Caxias. O treinador do Internacional é uma das figuras mais asquerosas do futebol. "Ótimo como jogador. Como pessoa, um mau caráter", quem o definiu assim foi o Edmundo, colega de Palmeiras. Envolveu-se em várias confusões. A mais grave foi o ato racista contra Geovânio. É contraditório. Ele treina o Internacional, um clube do 'povão', como dizem os colorados. Porém, parece no lugar certo. Afinal, um diretor comparou o acidente da Chapecoense a 'tragédia' do rebaixamento e o clube foi até a FIFA para virar a mesa.
Ser honesto dá problemas neste ajuntamento. O deputado Paulinho da Força disse 'quem não tem prestígio não está nas listas de Fachin e de Janot'. Há tantas almas honestas neste país. Na política e no futebol. Fui até no dicionário para saber se o verbete sofreu alguma alteração. Não mudou. A definição é a de sempre: "Pessoa que age corretamente, mesmo contrariando seus ou próximos interesses; que age com escrúpulos, com decência, com honradez; que é capaz de ser leal com outrem mesmo sem estar sendo vigiado" .O resto é mentira, lorota, grupo, logro, treta, cascata...Ou, como dizem por aqui: jeito de fazer política.
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