Mauro Pandolfi
Luís
Felipe Scolari não é Barbosa. Nunca foi, nunca será. Ótimo para ele!
Barbosa é o personagem mais dramático do teatro de grama e paixão. O
grande vilão, o frangueiro, o homem que fez um país chorar! Amaldiçoou o
espaço onde pisou. Naquele lugar nunca mais nasceu grama. Destruído por
um gol. O lance de Gighia é feito tatuagem ou, mais cruel, uma marca
feita com ferro. Estampou a pele, a alma, o coração. Nunca mais viveu.
Passou pela vida até morrer. Humilde e humilhado. Simples e simplório.
Nunca, tragicamente, foi esquecido. Sempre lembravam dele em qualquer
falha de goleiro da seleção. Na preparação da Copa de 94, Parreira e
Zagalo não permitiram que Barbosa conversasse com Taffarel. "Dá azar",
alegaram. "A maior pena no Brasil é de 30 anos. Eu fui condenado a
prisão perpétua", lamentava. Injustiçado, Barbosa é o lado mais cruel do futebol. A
derrota é o maior pecado, o erro mais grave. Não há perdão. Há pequenos
Barbosas em todos os clubes. Quem é o Barbosa do seu time?
Sou
multipolar em relação a Luís Felipe. Montou um Grêmio que declamo feito
poesia. Ganhou títulos, empilhou vitórias nos grenais, criou um jeito
de jogar. Aquele time foi o melhor dos anos 90. Escuto murmúrios,
pequenas vaias, 'gremista fanático!' chegou aos meus ouvidos. Foi o
paradigma (detesto esta palavra!) no período. O estilo de jogar
espalhou-se feito praga. Todos queriam ser o Grêmio. Até o espetacular
Palmeiras, dos cem gols na temporada, de Djalminha, Rivaldo, Luxemburgo,
tinha uma dinâmica parecida de jogar. Este é o lado que gosto de
Felipão: o do Grêmio temido, invejado, admirado, detestado. Olhando o
tempo, lembrando dos jogadores, vendo os jogos perdidos no youtube,
aquele Grêmio foi menos do que poderia ser. Mas, é um outro papo..
Luís
Felipe Scolari jamais será Barbosa. A prepotência não permitirá. Sorte
dele! O 7 a 1 não tem a carga dramática do Maracanazzo. Nem a fúria, nem
a revolta, nem a 'tragédia'. Nem foi tão triste aquela goleada. Foi
tratada como pilhéria, caricatural, vergonhosa. O resultado foi o
retrato mais do que perfeito do futebol brasileiro. Anacrônico,
obsoleto, vaidoso. Felipão virou o símbolo. A sua passagem pelo Grêmio,
pós copa, foi um fracasso. Agora, está exilado na China. Venceu títulos,
ganhou a simpatia dos chineses, sonha em dirigir uma outra seleção no
mundial. Na entrevista para a Folha de São Paulo, domingo passado,
Felipão afirmou que "faria tudo igual. Não mudaria nada". Arrogância ou
ainda não entendeu o que passou? Já Barbosa, no início dos anos 80,
disse que 'daria um passo para o lado esquerdo, fechando o canto e
defenderia aquela bola'. Um curta metragem, dirigido por Jorge Furtado,
um jornalista viaja no tempo para ajudar o goleiro. Não consegue. O
filme vale a pena ver. É extraordinário!
Eu
gostaria de repetir Jorge Furtado. Baseados nas duas entrevista,
queria um 'De volta para o futuro'. Numa brincadeira de tempo, de
fantasia, imaginação, devaneio, o Brasil ganharia o título de 50.
Barbosa não seria Barbosa. Seria só mais um ex jogador como tantos por
aí. Não teria a idolatria de um Zizinho, Ademir ou Danilo. Já a Alemanha
repetiria a goleada. Segundo Felipão, 'não há nada para ser mudado'.
Tudo seria igual. Ainda bem que Luís Felipe Scolari é um homem duro,
calejado, milionário, que se recusou a ser um Barbosa.
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