Mauro Pandolfi
Amontoado
na sala, a casa em reforma, espremido entre o sofá e a cama, encostado
numa caixa, escuto a chuva fina embalar o Brasil contra o Uruguai com
olho na tevê e ouvido no rádio. Vi Marcelo errar o passe de peito, o
rápido Cavani provocar o pênalti. O gol uruguaio só despertou o talento.
A Seleção de Tite foi tocando a bola, tabelando, atacando até
encaixotar
os charruas e transformar o domínio em uma goleada que calou,
surpreendeu, encantou o mitológico Estádio Centenário. A 'ex pior
geração de todos os tempos' se transmutou numa fantástica equipe de
futebol. Tão fantástico time que tem tudo para a entrar na história como
a mítica Seleção de 82. O esquadrão de Telê Santana foi o time de toda a
nossa vida. Ou, será melhor? A Rússia, no
ano que vem, vai nos contar mais esta epopeia.
Gostei
de mexer nos 'vespeiros'. Cutucar o coro dos contentes, provocar a
'verdade absoluta', ser herege. Muitas vezes, a heresia não é uma
contestação 'absoluta da verdade'. É só uma, pequena, perversidade dela.
A Seleção de Telê é o melhor retrato que tenho do futebol. É arte! Do
tempo que acreditava em futebol arte. A alma vibra ao lembrar daquele time. A
escalação é poesia pura, redonda, cristalina feito um poema simbolista.
Rebuscado, mágico. Inesquecível! Porém, ando suspirando pela Seleção de
Tite. A bola trabalhada, intensa, criativa, lúcida. A camisa amarela
resgatada, respeitada, temida. Tite está montando uma equipe que poderá
ser superior a de Telê Santana. Noto o silêncio da leitura quebrado.
Murmúrios, ruídos e, quem sabe, vaias. Opa! Não aceito ser chamado de
Pacheco! Sou apenas um romântico redescobrindo o amor perdido,
esquecido, desistido, da Seleção. Prá frente, Brasil!
Há
mais igualdade em Telê e Tite do que supõe a nossa vã filosofia
futebolística de botequim. Amam o jogo, a beleza do jogo, a vitória.
Seus times são muito parecidos. Gostam da bola. Querem ficar com ela.
Não tem pressa. Tocam, retocam, voltam, avançam. Há o jogo fluído pelas
laterais, seus volantes vão e voltam. Jogam de área a área. O ataque é
móvel, gosta do espaço, da movimentação. E, há os craques. Neymar é o
mais fabuloso. Amplo, agudo, versátil, ilusionista. Ao seu lado,
jogadores primorosos numa equipe finamente organizada. "Há tempos, desde
82, não vibrava com uma Seleção como esta. Me arrepio em falar dela", me
disse, na farmácia, o sábio do futebol, Joel Passos. O Brasil
conseguindo escapar do 7 a 1. Mas...
E,
por falar em 7 a 1, está semana mais um gol da Alemanha. Na surdina,
como ocorre neste país, mais uma trapaça da cbf. Não falo em golpe, pois
a expressão perdeu o nexo. A eternização dos canalhas na mudanças das
regras. As federações passam a valer mais que os clubes e os dirigentes
dos clubes não reagem. São coniventes, omissos, covarde. São todos
cartolas no significado mais pejorativo,
torpe, cretino da palavra. Pena que há só um Tite. E, ele prefere
transitar sua ética, a lucidez, a correção num campo. Sorte dele! Azar o
nosso!
Mais um grande texto!
ResponderExcluirGrande abraço, meu amigo!
Grato pelo elogio, Alexandre. Abraços tricolores.
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