Mauro Pandolfi
Nem parecia futebol brasileiro. De manhã, bem jogado, muitos gols. Espetáculo! Criciuma e Brusque fizeram uma partida histórica, épica, fantástica. De viradas, reviradas, de emoções, de erros, de golaços. E, que golaços! Do chute estupendo de Alex Maranhão a sutileza de Ricardo Lobo. Oito gols, num 4 a 4 de matar de inveja um inglês, um alemão ou um catalão. O futebol como adoram os amantes do jogo. Ofensivo, de riscos, de ousadia. Intenso, mágico. Gols em profusão. O tempo sendo derretido em minutos. Um jogo cantado em poesia num almoço. Mas, o teatro de grama e paixão é surpreendente. Imaginei aplausos ao final. Engano! Triste. Muito triste. Lamentável. A torcida do Criciuma vaiou o time, o resultado, o jogo. Preferia o 1 a 0 medíocre, defensivo, do chutão, da bola maltratada, do gol ao acaso. Fazer o quê?
Gosto da vaia. Aquela que desestrutura, abala, desaba. A vaia que desafina o coro dos contentes, humilha os poderosos, constrange os medalhões de toda estirpe. A vaia espontânea começa solitária e explode em multidão. Como a vaia bem dita que desmoralizou Nicolae Ceausescu em 21 de dezembro de 1989. O ditador comunista organizou uma demonstração gigantesca, 80 mil pessoas, em uma praça central de Bucareste. Desejava provar ao mundo que os romenos o apoiavam. O discurso de oito minutos louvando as glórias do socialismo nunca terminou. Ele ficou em silêncio, arregalou os olhos, surpreso. Alguém, solitário, desafiou a ordem. Vaiou! Em seguida, a vaia explodiu feito uma bomba atômica! O 'mundo petrificado' desabou em segundos como o sugerido pelo mantra marxista: 'tudo que é sólido desmancha no ar'. A ditadura era derrubada por um povo que vaiou, perdeu o medo e tentou ser feliz. Não conseguiu. Porém, tentou!
Detesto o embuste da vaia. A organizada, planejada, usada por vigaristas de seitas religiosas e politicas. Aquela que é usada, manipulada, como marcação de um discurso de ordem de um populista, de um ditador, de um 'pastor'. Abomino a vaia da manada. Rejeito a vaia travestida de um apupo popular. Da vaia que não tem início individual. A que surge em coro. Esta vaia é a glorificação do canalha que a usa feito um maestro. Outra vaia detestável é a burra. Pode ser ideológica ou clubista. A que não reconhece o talento, a virtude dos contrários, a intolerante. A que é só um barulho idiota.
'Vencer, vencer,vencer' é um verso do hino do Flamengo que se tornou o dogma do torcedor brasileiro. Dane-se o jogo. Não interessa a beleza do jogo. Nem a paixão pelo clube. A vitória que importa. Só a vitória! A imprensa esportiva é a parceira na derrota. Não é mais necessário perder três ou quatro jogos. Basta perder um. Aí, o 'jornalista torcedor' deixa cair a fantasia e canta feliz: "cabeças vão rolar..."
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