sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Charmoso, encantado, perdido


Mauro Pandolfi

1967! O ano que se recusa a terminar na minha memória. Lages, domingo com futebol. O pavilhão social de madeira do Vermelhão está lotado. A geral tem pouco espaço. A grande arquibancada de concreto, atrás do gol, não tem mais lugar. Dia de ver o Inter. Lá vem ele! O vestiário ficava embaixo do pavilhão. Junto com os jogadores estão os mascotes, meninos apaixonados pela bola, que entram felizes, orgulhosos. Entre eles, um certo Maurinho. Esta é a melhor lembrança que tenho do campeonato estadual. Charmosos, encantados, históricos. Mas, perdidos no tempo e no espaço. As 'arenas' modernas dividem jogos com velhos estádios, muito parecidos com um 'coliseu'. Aqui, no catarinense, teve de tudo. De travessão que caiu durante o jogo, um 'campo' colado numa casa e o, agora,  'estádio' de pelada. Sobrevivem de um imaginário com jeito de fantasia e do folclore. "Lembra daquele vez que o time...."
Meu amigo Rai Carlos, o vidente cego, sempre me corneta sobre as crônicas, "Fale dos times daqui. O rio da nossa aldeia é o mais bonito do mundo. Tu sabes disto! Estão navegue no nosso rio. Observe as margens, o movimento da água e pesque, nade ou apenas, olhe! Sei do teu encantamento com o Messi, os grandes jogadores, o Grêmio. Descubra o encantamento no futebol daqui. Escreva, Mauro!" Então, vamos lá. Não vi todos os times. Do que assisti, a Chapecoense sobra. Ela tem um conceito, uma prática que preserva e mantém a alma da equipe que perdeu na tragédia. As contratações foram certeiras. Até os dirigentes são parecidos. Procuraram semelhanças e afinidades. Tem momentos que lembra o bom time que já é lenda. Acredito que será campeã.
O Figueirense é o oposto. Há tempos perdeu a modernidade, a organização e inventou uma soberba que vai corroendo a simpatia e a competência do início do século. Está sem conceito, sem ideia, sem postura. Lembra o clube nos anos 90, quando dependia de um 'mecenas'. De alguém que pagasse as contas. No ano passado, atirou para todos os lados. Acertou o rebaixamento. Cinco treinadores. Todos diferentes. Mais de quarenta jogadores contratados. Tudo indica que vai repetir. O técnico Marquinhos, com três jogos, já está ameaçado. Ele é um equívoco. Seu time é desorganizado, frágil ofensivamente, defende mal e burocrático na armação. Errou nas contratações, na escalação e no sistema de jogo. O Figueirense depende do imponderável da bola. Vai que dá certo. Ou....
Manter a ideia, o time, o técnico é uma certeza de sucesso? O Avaí aposta nisto. É um ótimo time. Defesa sólida, saída de bola rápida com os laterais, segurança no meio, manteve Rômulo, tem Marquinhos e descobriu um goleador, Denílson. Se Claudinei Oliveira não escutar os 'torcedores comentaristas', o Avaí disputa o título com a Chapecoense. Se ouvir a corneta, só os deuses da bola sabem o que irá ocorrer com o Avaí. 
Gostei da organização tática do Joinville e de vários jogadores jovens. Não entendo a escolha de Lúcio Flávio. Mas, há Kadu, Roberto e outros promissores. .Surpreenderá. O Criciúma aposta na velocidade e no ataque. Vai oscilar muito. Boas partidas, más jornadas. Admiro a ousadia de Deivid, na força de Barreto e da capacidade de acertar o time de Douglas Moreira. Sério candidato. Os outros clubes completam o campeonato. Tubarão é o melhor dos cinco. Tem Mabília, uma ideia, um bom time. Brusque e Metropolitano se agarram em seus técnicos Mauro Ovelha e César Paulista. Não se enganem há bons jogadores nestes times. Assis e Michel Douglas, no Brusque, e Val Kenedy, no Metro, merecem ser olhados. A única coisa que vi do Almirante Barroso foi o campo de pelada. Parece que tem uma 'pedra preciosa' no ataque. Safira! .
Há pouca coisa do Inter de hoje com o Inter de minha infância. O Estádio Municipal virou o Tio Vida. O escudo é diferente e tem o Leão Baio como mascote. Um 'afilhado' de Tite, Joel Cornelli, é o treinador. Vi um time bem arrumado, rápido e insinuante. Enercino  tem jeito de craque e uma canhota certeira.    Tomara que repita Anacleto Oliboni. Lages em festa! E eu, por instantes, por magia, por desejo, me torne  outra vez, Maurinho e reencontre com o Vermelhão das minhas memórias. O impossível não existe. Às vezes, só em sonho. Noutras, numa história tão bem contada, tão deliciosa, tão verdadeira que ninguém perceba que é só uma fantasia..

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