Mauro Pandolfi
1967! O ano que se recusa a terminar na minha memória. Lages, domingo com
futebol. O pavilhão social de madeira do Vermelhão está lotado. A geral
tem pouco espaço. A grande arquibancada de concreto, atrás do gol, não
tem mais lugar. Dia de ver o Inter. Lá vem ele! O vestiário ficava
embaixo do pavilhão. Junto com os jogadores estão os mascotes, meninos
apaixonados pela bola, que entram felizes, orgulhosos. Entre eles, um
certo Maurinho. Esta é a melhor lembrança que tenho do campeonato
estadual. Charmosos, encantados, históricos. Mas, perdidos no tempo e no
espaço. As 'arenas' modernas dividem jogos com velhos estádios, muito
parecidos com um 'coliseu'. Aqui, no catarinense, teve de tudo. De
travessão que caiu durante o jogo, um 'campo' colado numa casa e o,
agora, 'estádio' de pelada. Sobrevivem de um imaginário com jeito de
fantasia e do folclore. "Lembra daquele vez que o time...."
Meu
amigo Rai Carlos, o vidente cego, sempre me corneta sobre as crônicas,
"Fale dos times daqui. O rio da nossa aldeia é o mais bonito do mundo.
Tu sabes disto! Estão navegue no nosso rio. Observe as margens, o
movimento da água e pesque, nade ou apenas, olhe! Sei do teu
encantamento com o Messi, os grandes jogadores, o Grêmio. Descubra o
encantamento no futebol daqui. Escreva, Mauro!" Então, vamos lá. Não vi
todos os times. Do que assisti, a Chapecoense sobra. Ela tem um
conceito, uma prática que preserva e mantém a alma da equipe que perdeu
na tragédia. As contratações foram certeiras. Até os dirigentes são
parecidos. Procuraram semelhanças e afinidades. Tem momentos que lembra o
bom time que já é lenda. Acredito que será campeã.
O
Figueirense é o oposto. Há tempos perdeu a modernidade, a organização e
inventou uma soberba que vai corroendo a simpatia e a competência do
início do século. Está sem conceito, sem ideia, sem postura. Lembra o
clube nos anos 90, quando dependia de um 'mecenas'. De alguém que
pagasse as contas. No ano passado, atirou para todos os lados. Acertou o
rebaixamento. Cinco treinadores. Todos diferentes. Mais de quarenta
jogadores contratados. Tudo indica que vai repetir. O técnico
Marquinhos, com três jogos, já está ameaçado. Ele é um equívoco. Seu
time é desorganizado, frágil ofensivamente, defende mal e burocrático na
armação. Errou nas contratações, na escalação e no sistema de jogo. O
Figueirense depende do imponderável da bola. Vai que dá certo. Ou....
Manter
a ideia, o time, o técnico é uma certeza de sucesso? O Avaí aposta
nisto. É um ótimo time. Defesa sólida, saída de bola rápida com os
laterais, segurança no meio, manteve Rômulo, tem Marquinhos e descobriu
um goleador, Denílson. Se Claudinei Oliveira não escutar os 'torcedores
comentaristas', o Avaí disputa o título com a Chapecoense. Se ouvir a
corneta, só os deuses da bola sabem o que irá ocorrer com o Avaí.
Gostei
da organização tática do Joinville e de vários jogadores jovens. Não
entendo a escolha de Lúcio Flávio. Mas, há Kadu, Roberto e outros
promissores. .Surpreenderá. O Criciúma aposta na velocidade e no ataque.
Vai oscilar muito. Boas partidas, más jornadas. Admiro a ousadia de
Deivid, na força de Barreto e da capacidade de acertar o time de Douglas
Moreira. Sério candidato. Os outros clubes completam o campeonato.
Tubarão é o melhor dos cinco. Tem Mabília, uma ideia, um bom time.
Brusque e Metropolitano se agarram em seus técnicos Mauro Ovelha e César
Paulista. Não se enganem há bons jogadores nestes times. Assis e Michel
Douglas, no Brusque, e Val Kenedy, no Metro, merecem ser olhados. A
única coisa que vi do Almirante Barroso foi o campo de pelada. Parece
que tem uma 'pedra preciosa' no ataque. Safira! .
Há
pouca coisa do Inter de hoje com o Inter de minha infância. O Estádio
Municipal virou o Tio Vida. O escudo é diferente e tem o Leão Baio como
mascote. Um 'afilhado' de Tite, Joel Cornelli, é o treinador. Vi um time
bem arrumado, rápido e insinuante. Enercino tem jeito de craque e uma
canhota certeira. Tomara que repita Anacleto Oliboni. Lages em festa!
E eu, por instantes, por magia, por desejo, me torne outra vez,
Maurinho e reencontre com o Vermelhão das minhas memórias. O impossível
não existe. Às vezes, só em sonho. Noutras, numa história tão bem
contada, tão deliciosa, tão verdadeira que ninguém perceba que é só uma
fantasia..
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