Mauro Pandolfi
"No presente, a mente, o corpo é diferente,
E o passado é uma roupa que não nos serve mais."
Ninguém decifrou tão bem o tempo como Belchior, principalmente na voz de Elis Regina.
Sempre
tive vontade de rever o primeiro amor. Olhar nos olhos, pegar na mão,
acariciar os braços (tenho esta mania!). O que sentiria? Imagino que
seria um tesão avassalador. Que a 'fagulha' apagada da paixão desperte e
mexa com a estrutura toda. De romper com tudo, de sair da zona do
conforto, de agarrar este amor incontrolável, que nem o tempo destruiu.
Apenas, escondeu. Não vi a primeira namorada, nem sei onde encontrá-la.
Ufa! Revi o Inter de Lages, já duas vezes, meu primeiro time. Fui
mascote, torcedor de treino, de jogo, gandula, joguei no infantojuvenil,
torcedor de arquibancada, torcedor
exilado, distanciado, afastado, esquecido. Mas, sou um romântico,
daqueles que gosta de Roberto Carlos, de uma bela comédia com Meg Ryan,
de mandar flores para a Elaine, que mistura o futebol com a amada. São
coisas da alma, da emoção, da vida. Meu coração não bateu apressado ao
ver o Inter entrar em campo. Fiquei inerte. Indiferente. Não era mais
amor. Só um doce encantamento nostálgico. Do Inter, sobrou o que vive na
memória.
É uma lembrança que adoro..
Morava
do lado do Vermelhão num pequeno prédio. Da janela do quarto via uma
parte do campo. Era a primeira coisa que fazia ao acordar. Olhar o
Vermelhão. Todos os dias. Para ir à escola passava por ele. À tarde,
assistia os treinos. Ficava ansioso pelo domingo, que demorava a chegar.
Vestia o uniforme. Não era fácil ter uma camisa oficial como é
hoje. Uma camiseta branca, com a gola e os punhos em
vermelho e o distintivo bordado (ou seria pintado? Não lembro!). Entrar
com os jogadores era o meu prazer. Ficar atrás da trave, como gandula,
completava o domingo e a semana. Não tenho nenhuma foto deste tempo. Só
imagens da memória.
Um outro Inter. O símbolo era diferente, parecido com o de Porto
Alegre. A mudança valoriza mais a cidade, a região, a história. Agora,
tem um pinheiro. Joga num estádio que conheci por outros nomes.
Municipal, Vidal Ramos Júnior. Chamam de Tio Vida. É mais íntimo. Parece
mesmo coisa de lageano. Afinal, quase todos são chamados de tio, com
uma corruptela do nome ou sobrenome. E, o Leão Baio? Bela lembrança do
puma da serra. No meu tempo de guri não havia um símbolo. Nunca foi o
saci, como aquele outro, lá de longe.
O
Inter de hoje parece mais de Lages do que o antigo. Deveria gostar mais
dele. Nada, ou quase nada, lembra o de Porto Alegre. Acho que a maior
mudança é a minha. Perdi a ligação com Lages. Há muito tempo não vou lá.
O contato que tenho são com as primas Ana e a Leda, minha
inesquecível professora, que me ensinou como escrever uma redação. Lages é uma história, um monte de
fotografias, de velhos amigos, de tios, primos, lugares. Uma saudades
que alivia a alma, afaga o coração. Mas, o 'passado é uma roupa que não nos
serve mais'.
Belo comentário, meu amigo!
ResponderExcluirGrande abraço.