Mauro Pandolfi
'Quem é melhor, Renato ou Cristiano Ronaldo?' Não pergunte para um gremista. A discussão dura a tarde toda. Interminável, infinita. Eu perguntei para o meu irmão Mário. Ele é mais gremista do que eu. Fui, o que Nélson Rodrigues chamava, um 'idiota da objetividade'. Usei os argumentos de jornalista 'isento' (esta palavra me dá medo!): a carreira, os títulos, os gols, o profissionalismo. Nada supera o discurso amoroso. Falamos de dribles, de chutes, de cobranças de faltas, de profissionalismo, de história. Mário não tem dúvida. Tem certeza. 'Renato é melhor!" Definitivo!
Mário é uma das pessoas que mais admiro, e presto atenção, quando fala de futebol. Não se prende ao 'gremismo'. É um ótimo analista de jogo e percebe detalhes que parecem ocultos. Ele é um duro crítico de Luís Felipe Scolari. "Aquele Grêmio dos anos 90 ficou aquém do que podia. Era para ser maior!" Este é um dos seus mantras. Antes, discordava. Hoje, em dia, revendo alguns jogos, concordo com ele. Mas, o assunto é Renato. Ele explica a sua convicção pelos aspectos técnicos. "Renato é melhor. Mais habilidoso, driblador, jogava em todos os setores do ataque. Cristiano Ronaldo só rende do lado esquerdo. Não é o mesmo fora dele", explica. O que tornou Renato apenas um jogador nacional? "Profissionalismo. Faltou ambição. queria diversão, festa. Nunca se preocupou em ser um dos maiores do mundo. Jogava por instinto. Cristiano Ronaldo se preparou, se prepara. Sempre soube o que queria ser. Ele é um monstro!", afirmou. Para Mário, 'Renato ficou aquém do que poderia ser, Cristiano Ronaldo foi além".
Renato Portaluppi desperta paixões, polêmicas, desafia o coro dos contentes do politicamente correto, do corporativismo dos jornalistas esportivos. No 'Bola da Vez', da Espn Brasil, se revelou por inteiro. Falastrão, falador, soberbo, arrogante, simples, verdadeiro, complexo, personagem. Dissecou o futebol de seu tempo de jogador e de treinador, contestou 'as verdades absolutas' dos comentaristas. Às vezes, contenta-se em ser folclórico. As frases, as afirmações, as certezas. São mais blagues do que convicção. Em outras, mostrou um profundo conhecimento tático do jogo. A simplicidade da 'confiança ao meu grupo' ao complexo sistema de anular e aproveitar as falhas dos adversários. Renato parece recusar a ser um grande treinador, da mesma maneira que recusou ser um mito como jogador. Nada vai impedir de 'viver a vida'. Não fará nada a mais do que já faz. Que pena!
Não sou definitivo em nada. Parei de ter certezas. Não há nada absoluto em um universo relativo. Muito menos em futebol. Cristiano Ronaldo é melhor do que Renato. A resposta é óbvia. Tem mais títulos, joga num maiores times do mundo, marcou mais do que 500 gols. É um monstro! Espetacular! No entanto, gosto mais de Renato. Ele está na minha história. Na mais fantástica madrugada que vivi. Na maior alegria, Era o meu espelho. Quantas vezes tentei o seu drible. Quando dava certo, entrava em êxtase. Valia o jogo. Vencer, perder, não importava. O que interessava era o drible. Me sentir Renato por instantes. Renato faz parte da minha vida. Junto com André, Renato completa o nome de meu filho. Sonhava com um ataque imortal, devastador, tricolor. Porém, André Renato, que jogava bem quando guri, detesta futebol. É a vida!
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