quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O futebol politicamente chato

Chiko Kuneski

O politicamente correto é chato. É ranzinza até na juventude. Talvez já tenha nascido cheio de idiossincrasia. É tão radical quanto o objetivo que diz combater. É impositor. É um “aceite-me; ou te processo”. Não deixa nem a outra máxima do “ame-o ou deixe-o”. Não permite diálogo. É monólogo de si para si. É o espelho de Narciso.

Como Narciso, toda a sociedade tem que venerá-lo. Em todos os setores. O  politicamente correto é uma ditadura do conceito, ou dos conceitos. Um destruidor dos indivíduos e suas individualidades. É a forma que deforma o eu.

Essa política impositora chegou ao futebol. O jogador que faz o gol não pode mais nada na hora de extravasar a energia da comemoração. Não pode fazer gestos. Não pode correr para torcidas. Não pode por os dedos na orelha pendido aplauso, não pode por o dedo nos lábios pedindo silêcio. Não pode provocar por mera peraltice de alegria. A alegria do gol não pode mais ser criança.


Não pode porque não é politicamente correto. É punido. Afinal o arbitro é o zelador do politicamente correto. O futebol tem que ser chato. Sem provocações. Sem brincadeiras. Tem que ser correto, respeitoso, insípido. A extravagância da pura alegria deve ser punida em nome do politicamente correto para tudo. O futebol perdeu até mesmo sua melhor virtude: a pura alegria.

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