Mauro Pandolfi
"Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao
No ves que va la luna rodando por callao
Que un corso de astronautas y niños, con un vals
Me baila alrededor. Baila! Veni! Volá!"
"A balada de um louco" de Astor Piazzolla pode ser um tango para Diego.
Maradona
e a bola. O futebol sempre foi e será uma fantasia. Ele dá uma
media volta e segue a bailar. O canto da torcida lembra uma orquestra
executando um tango. Desliza no gramado para o longo caminito. Mano a
mano enquadra um rival. A bola é la cumparsita. A esquadra inglesa é
envolvida pelos movimentos rápidos e elegantes. Os muchachos acompanham a
dança. Vê o zagueiro e arma o gancho. O ultimo movimento é um corte no
goleiro. A bola na rede é o derradeiro verso do tango, berrado em
plenos
pulmões no estádio Azteca. Diego Armando Maradona é o tango jogando.
Lírico, encantador, dramático. Aquele gol é arte. Sublime arte. Arte
eternizada pelo narrador uruguaio Victor Morales. Ele cantou
assim:"....Quero chorar! Deus Santo! Viva o futebol! Golaço...Diegool!
....Maradona é para chorar. Maradona numa corrida memorável. A maior
jogada de todos os tempos!....Graças Deus! Pelo futebol! Por Maradona!
Por estas lágrimas!..."
Futebol
e guerra. O simulacro perfeito. Cores, símbolos, países. O campo e a
batalha. O imaginário foi tão real na copa do México em 1986. A Inglaterra
humilhara a Argentina nas Malvinas. O conflito suicida armado por um
ditador louco e desesperado. Dor, sangue, lágrimas, jovens mortos. O futebol como
revanche. Diego Maradona como o comandante supremo. Liderou a batalha, venceu com fúria.
Um gol estupendo e uma falcatrua típica latina.
'La mano de Dios' é a sua obra mais famosa. O lance que faz o transitar em
sagrado e o profano. Entre deus e o diabo. Entre a glória e a
desgraça. Entre a vida e a morte. Maradona é o mais trágico personagem
do futebol. Também, o mais genial.
Diego
Armando Maradona é a ponta mais aguda do tridente nascido em outubro.
Há algo de Pelé, muito de Garrincha. Diego é prosa e poesia. Diego é o
futebol. Foi um gênio precoce. Um adolescente atrevido. Um
adulto problemático. Um velho a beira loucura. Maradona é um homem
complexo. Viveu a lucidez, a glória, a fama, o fundo do poço. Foi
excluído como um pária. Reintegrado como um Deus. Desafiou a ordem,
rebelde que transitou a margem no futebol. Flertou com a máfia, com
ditadores, com drogas e com a morte. Maradona é o melhor representante
do fim do século xx. O ídolo da minha geração. Um mito. Uma lenda. Um
homem. Tão humano, tão frágil, tão estúpido, tão divino.
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