Mauro Pandolfi
O
futebol é pouco mais que um gol. É encanto que seduz a alma.
Envolve corações e mentes. Não é só espetáculo. É bem mais
que teatro de grama e paixão. Também, não é apenas um jogo arriscado e
fascinante. O vencedor nunca terá a eternidade, a glória definitiva. O
derrotado nem sempre perde só a partida. Às vezes, o rumo, a ideia. A
derrota pode ser momentânea e transformada em vitória instantes depois.
Futebol é pouco mais que nada. É o melhor olhar que tenho sobre a
vida, como decifro a existência, a minha, é claro! Domingo,
melancólico na frente da tevê, assistindo os gols, entendi a dor e a
delícia da vitória, da derrota, da superação, da esperança, da irritação, do medo, da revolta.
A
queda para a segunda divisão é uma dor avassaladora. Cortante,
profunda, que deixa marcas na alma. Sentimento que pede abandono. É a
tristeza incurável. Solidão doída. Rejeição a paixão de uma
vida. Negação de identidade. Quem nunca sofreu a queda não entende o
processo, o milagre da vida, do futebol. Só tempo ameniza o sofrimento.
A desgraça vai se revelando não ser trágica. A 'tragédia' no futebol é
uma farsa que lembra as gregas, de Nelson Rodrigues, de Shakespeare. São de dores na
alma, não físicas. O tempo vem. Outros jogos, novos campeonato,
vitórias, a vergonha superada, a glória reinventada e o grito libertador
na garganta. Como é mágico o futebol!
No prédio onde moro há uma família de vascaínos. Gente alegre,
festeira, bem humorada. No último encontro no elevador, estavam
silenciosos, tristes. O pequeno vestia orgulhoso a camisa do Vasco.
'Difícil a situação de vocês, hein? falei. O pai, não vou revelar os nomes,
pois não pedi autorização deles, me olhou quase chorando. "Outra vez,
não! A gente sofre demais. Os parentes e os amigos não perdoam",
reclamou. O filho maior concordou. "Vou torcer só para os times de fora
se o Vasco cair". Hoje, ao sair para o trabalho, encontro eles. Há
sorrisos. "Vamos escapar", repetem em coro. Esperança, desejo, medo,
vergonha, dor, tristeza, superação. O futebol é pouco mais que nada. É
só a vida!
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