Mauro Pandolfi
Pelé
é único? O mundo futebol não admite outro. Sempre tem um argumento
para derrubar quem ameaça o trono. Garrincha era só um driblador. Jogava
pelo lado, para torcida, era só a alegria do povo, afirmam. Maradona
tinha talento
transpirando por todo corpo. Cabeça, pés e mão. Só tem um mundial,
dizem.
Messi é autor de lances impossíveis, extraordinários, mágicos. Não
conseguiu uma Copa, declaram. Há tantos, de tantas vozes, cores e
ilusões. Não tinham a técnica, a condição atlética, a habilidade, o
talento. Agora
há Neymar. Tem a mesma origem. O mesmo sorriso. E, faz gols que Pele
assinaria. Será que Neymar é um candidato a Rei? As suas fotos já
decorram
quartos de jovens que gostam de futebol, de estrelas, e celebridades.
O
drible é um fascínio para muitos que amam o futebol. Eu prefiro o
passe. Chiko Kuneski trata o drible como arte. Criou uma expressão
precisa do driblador: asas na chuteiras. Neymar é um atacante alado.
O futebol é um jogo de olhares. No inicio do lance, Suarez e Neymar
jogam com os olhos. Suarez lança no vazio. Encontra Neymar. O espaço é
exíguo. A bola vem rápida. O
pensar é mais acelerado. O toque é surpreendente. A bola sobe girando
sobre seu eixo. Um parafuso. Neymar gira o corpo. A bola no alto. Um
chapéu ao contrário. Driblou e foi driblado. Um lance pensado,
instintivo,
criativo. A bola desce rumo ao seu pé. Um sem pulo certeiro que termina
no fundo da rede. Um gol fantástico. Um
gol de gênio. Um gol de Pelé, Maradona, Messi e todos os grandes. Um
gol de vinheta. Um gol deste tempo líquido que será eternizado.
O
mundo é dos jovens. O tempo é juveniilista. O amadurecimento é quase
uma fantasia. O corpo tratado, malhado, obcecado pela eterna juventude.
Como os nossos heróis são cada vez mais jovens, o comportamento do
mundo
acompanha. Somos todos adolescentes. Mimados, inseguros, revoltados.
Neymar é, ou já foi, um deles. Brigou com técnicos, com companheiros,
xingou e
agrediu adversários. Festeiro e milionário. O Barcelona sem Messi ficou
com medo. Quem assumiria o comando? Neymar se apresentou. Mudou o
cabelo, treinou mais, assumiu a tarefa. Tem carregado o time. O gol é o
amadurecimento de um craque. De alguém que sabe o talento que têm, o
tempo da
jogada, a certeza do lance. Neymar foi preciso e mágico. Neymar é o
melhor jogador surgido no Brasil após o tri de 70. O mais genial. Quem
diria que o 'filé de borboleta', como chamava o obscuro Luxemburgo para
não escalá-lo, tornou-se um raro exemplar de lepidóptero com belas asas
azuis e grenás nas chuteiras.
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