terça-feira, 10 de novembro de 2015

O candidato


Mauro Pandolfi

Pelé  é único? O mundo futebol não admite outro. Sempre tem um argumento para derrubar quem ameaça o trono. Garrincha era só um driblador. Jogava pelo lado, para torcida, era só a alegria do povo, afirmam. Maradona tinha talento transpirando por todo corpo. Cabeça, pés e mão.  Só tem um mundial, dizem. Messi é autor de lances impossíveis, extraordinários, mágicos. Não conseguiu uma Copa, declaram. Há tantos, de tantas vozes, cores e ilusões. Não tinham a técnica, a condição atlética, a habilidade, o talento. Agora há Neymar. Tem a mesma origem. O mesmo sorriso. E, faz gols que Pele assinaria. Será que Neymar é um candidato a Rei? As suas fotos já decorram quartos de jovens que gostam de futebol, de estrelas, e celebridades.
O drible é um fascínio para muitos que amam o futebol. Eu prefiro o passe. Chiko Kuneski trata o drible como arte. Criou uma expressão precisa do driblador: asas na chuteiras. Neymar é um atacante alado. O futebol é um jogo de olhares. No inicio do lance, Suarez e Neymar jogam com os olhos. Suarez lança no vazio. Encontra Neymar. O espaço é exíguo.  A bola vem rápida.  O pensar é mais acelerado. O toque é surpreendente. A bola sobe girando sobre seu eixo. Um parafuso. Neymar gira o corpo. A bola no alto. Um chapéu ao contrário.  Driblou e foi driblado. Um lance pensado, instintivo,  criativo. A bola desce rumo ao seu pé. Um sem pulo certeiro que termina no fundo da rede.  Um gol fantástico.  Um gol de gênio.  Um gol de Pelé, Maradona, Messi e todos os grandes. Um gol de vinheta. Um gol deste tempo líquido que será eternizado.
O mundo é dos jovens. O tempo é juveniilista. O amadurecimento é quase uma fantasia. O corpo tratado, malhado, obcecado pela eterna juventude. Como os nossos heróis são cada vez mais jovens, o comportamento do mundo  acompanha. Somos todos adolescentes. Mimados, inseguros, revoltados. Neymar  é, ou já foi, um deles. Brigou com técnicos, com companheiros, xingou e agrediu adversários. Festeiro e milionário. O Barcelona sem Messi ficou com medo. Quem assumiria o comando? Neymar se apresentou. Mudou o cabelo, treinou mais, assumiu a tarefa. Tem carregado o time. O gol é o amadurecimento de um craque. De alguém que sabe o talento que têm, o tempo da jogada, a certeza do lance. Neymar foi preciso e mágico. Neymar é o melhor jogador surgido no Brasil após o tri de 70. O mais genial. Quem diria que o 'filé de borboleta', como  chamava o obscuro Luxemburgo para não escalá-lo, tornou-se um raro exemplar de lepidóptero com belas asas azuis e grenás nas chuteiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário