Mauro Pandolfi
Impossível!
O substantivo masculino do imponderável se transmutou em um
outro extraordinário: Inacreditável! Há dez anos, um guri de 17 anos
provocou esta
mudança no léxico. Anderson andou, flutuou, driblou zagueiros, entrou
na
área, deslocou o goleiro e transformou um simples gol numa façanha
épica, eterna, contada como fantasia em todo mundo da bola. A Batalha
dos Aflitos é o momento em que os gremistas descobriram que Cândido Dias
inventou em 15 de setembro de 1903 foi a alma. O futebol é o
elo que une as almas negras, azuis e brancas.
71
segundos tem o tempo da magia. Do pênalti defendido por Gallato ao gol
de Anderson. Do medo, desespero, desconfiança, vergonha para a alegria, o
prazer, a mistificação. Sete homens e um destino. A libertação da dor
gremista. A fuga da 'humilhante' segunda divisão. É a grande vitória do
Grêmio. Não é a maior. É a mais impactante. O título é irrelevante,
até desnecessário. A conquista é fantástica, mítica. É a nossa glória. A
imortalidade cantada no hino é materializada. Esta Batalha é o maior
drama contado no teatro de grama e paixão.
Mas,
é também a marca da nossa 'tragédia'. Somos reféns do feito. Esperamos
sempre que se repita. Um lance, um pensamento mágico nos libertará,
outra vez. O meu amigo Rai Carlos, o vidente cego, afirma que o Grêmio
voltará a ganhar títulos quando deixar de ser imortal. "O novo só vem
quando o velho vai embora. Para renascer, tem de morrer. O imortal é
eterno. Vive dos feitos antigos. Só com fim do Olímpico e a Batalha dos
Aflitos se tornar somente história, seremos campeões", afirma. Como um
feito deste não ser eterno? Impossível! Inacreditável torná-lo algo
mortal!.
Era
sábado. Quente, muito quente, infernal. Fim do sufoco. Liberdade! A
volta! O dia do casamento da Ellis e do Guido. Era o padrinho. O terno
já estava separado. O jogo corria forte. Pedro e André, pequenos,
saudades daqueles dias!, assistiam comigo. A Elaine estava se arrumando.
Bisbilhotava sorrateira os lances. "Quanto tá?", perguntava. Veio a
confusão. Parei. Um expulso. 'Meu Deus', exclamei. O pênalti. A segunda
expulsão. 'Ferrou!', falei. A terceira expulsão. "Calma, pai!", diz o
André. A quarta. 'PQP!', berrei. A Elaine veio até a sala. "O que foi?",
quis saber. Contei. O pênalti vai ser batido. Silêncio. O jogador
corre, bate, Gallato ... defende!!!. Vibramos! Nem deu tempo de gritar.
Anderson está dentro da área....é golll! Pulamos, gritamos, saltamos,
nos abraçamos. As lágrimas escapam. "Vou estragar a maquiagem",
choramingava a Elaine. O bom senso dela não deixou eu ir ao casamento
com a camisa do Grêmio. Lá, encontro o Márcio e o Mário. Abraçados,
cantamos o hino. O dia de futebol mais emocionante de nossas vidas. Nada
será maior.
Dez
anos! O tempo passou. Vivemos tantas coisas. André e Pedro são
adolescentes. Não gostam de futebol. A Elaine continua bonita. O Mário, o
Márcio e eu ainda nos encantamos com o futebol, nem tanto com o Grêmio.
A bola ainda me seduz. Vibro, suspiro pela bola bem tratada, bem
jogada. Um belo jogo de futebol é uma das melhores aventuras da vida. No
entanto, quando escuto o nome A Batalha dos Aflitos o coração dispara,
aflige, machuca. Me sinto mais torcedor, amante tricolor, um imortal. Eu
sou um highlander gremista. "Até a pé nós iremos......"!
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