Chiko Kuneski
A bola não rola; quica.
Mas o pé descalço entende o movimento. Dela, do quique, do momento. Pé do chão.
Pé do chão. A bola não importa. É importada. Não é sua. É uma bola do outro, do
dono da bola. Do dono de um jogo. Do ditador
das regras.
Quatro pés. Uma bola. Um
só domínio. Dois meninos. De um lado o sentido da terra, barrenta, molhada e
escorregadia. Do outro, da firmeza das travas. Da chuteira. Quatro pés. Duas
ideias. Dois ideais.
Logo a bola mostra que
não tem dono. Matreira, quica. Aproveita a lama e fica escorregadia. Sempre
acha o espaço para escapar de quem pensa que é sua. Gosta de carinho. Do envolver.
Da suavidade. Do movimento. Prefere o toque íntimo. O desejo por ela; não pelo
mero couro grifado.
Por mais que a
negociem. Vendam. Comprem. Tentem se apoderar, sua circunferência escapa dos
que se acham donos. Dos que acham que mandam. Dos que pensam tê-la para ter o
comando. A bola é traiçoeira demais para o subjugo, o falso agrado. A bola prefere
o carinho do trato. A bola prefere pele.
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