terça-feira, 10 de novembro de 2015

A bola gosta da pele

Chiko Kuneski

A bola não rola; quica. Mas o pé descalço entende o movimento. Dela, do quique, do momento. Pé do chão. Pé do chão. A bola não importa. É importada. Não é sua. É uma bola do outro, do dono da bola. Do dono  de um jogo. Do ditador das regras.

Quatro pés. Uma bola. Um só domínio. Dois meninos. De um lado o sentido da terra, barrenta, molhada e escorregadia. Do outro, da firmeza das travas. Da chuteira. Quatro pés. Duas ideias. Dois ideais.

Logo a bola mostra que não tem dono. Matreira, quica. Aproveita a lama e fica escorregadia. Sempre acha o espaço para escapar de quem pensa que é sua. Gosta de carinho. Do envolver. Da suavidade. Do movimento. Prefere o toque íntimo. O desejo por ela; não pelo mero couro grifado.

Por mais que a negociem. Vendam. Comprem. Tentem se apoderar, sua circunferência escapa dos que se acham donos. Dos que acham que mandam. Dos que pensam tê-la para ter o comando. A bola é traiçoeira demais para o subjugo, o falso agrado. A bola prefere o carinho do trato. A bola prefere pele. 

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