Chiko Kuneski
Na chamada para o
Esporte Espetacular, da Rede Globo, desse domingo para marcar os 15 anos da
conquista do topo do tênis internacional como o primeiro do mundo, Guga diz que
sempre terá uma história desconhecida ou uma “joia” da carreira para ser
lembrada. Prefiro as inéditas.
Guga era o segundo
melhor tenista do mundo. Já tinha escrito seu nome em Rolland Garros, na história
do tênis internacional e, principalmente, brasileiro. Era um ídolo para quem
praticava ou admirava o jogo de raquete. Eu estava desbravando. Começando a
trazer o tênis sobre cadeiras de rodas, junto com a Associação Florianopolitana
de Deficientes (Aflodef), para Florianópolis. Mesmo sem idade de iniciante.
Talvez tenha sido uns
dos primeiro catarinenses a pegar numa raquete e jogar tênis em cadeira de
rodas, não posso garantir, e, confesso, motivado pela beleza do jogo de Guga.
Mesmo sendo deficiente físico sempre gostei de esportes. Futebol, primeira
paixão, inevitável para qualquer menino, vôlei, pelo talento das nossas
seleções da década de 80 e 90. O tênis entrou no rol pela “geniosidade” de McEnroe.
Quem se indignava tanto com seu próprio erro merecia ser assistido. Era um
obstinado. Um vencedor. Um gênio genioso.
Em Guga vi outro gênio.
Mas com a mesma obstinação. O “manezinho” já era o segundo entre os 10 melhores
da ATP, mas continuava com seu espírito manezinho. Ídolo brasileiro, que
quebrou paradigmas esportivos, cultuado, tinha tempo para incentivar o tênis,
até das práticas desconhecidas como sobre cadeira de rodas, e usar seu poder
midiático em prol da causa da igualdade social dos deficientes.
E foi assim, numa Feira
da Esperança da APAE de Florianópolis, numa quadra improvisada do CentroSul, no
Aterro da Baía Sul, que encontrei Guga “face to face”, separados por uma rede. O
segundo melhor tenista do mundo à época trocou bolas com um cadeirante
iniciante. Igualou-se. Sentiu a diferença dos movimentos. Das rodas
substituindo os pés.
No Final da exibição
peguei a bola trocada e pedi seu autógrafo com um sorriso maroto:
- Pode assinar Guga?
Quando fores o melhor do mundo esse autógrafo vai valer muito.
Ele sorriu, menino, e devolveu
de bate pronto:
- Então agora não
vale nada
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