sábado, 5 de dezembro de 2015

Uma história desconhecida

Chiko Kuneski

Na chamada para o Esporte Espetacular, da Rede Globo, desse domingo para marcar os 15 anos da conquista do topo do tênis internacional como o primeiro do mundo, Guga diz que sempre terá uma história desconhecida ou uma “joia” da carreira para ser lembrada. Prefiro as inéditas.

Guga era o segundo melhor tenista do mundo. Já tinha escrito seu nome em Rolland Garros, na história do tênis internacional e, principalmente, brasileiro. Era um ídolo para quem praticava ou admirava o jogo de raquete. Eu estava desbravando. Começando a trazer o tênis sobre cadeiras de rodas, junto com a Associação Florianopolitana de Deficientes (Aflodef), para Florianópolis. Mesmo sem idade de iniciante.


Talvez tenha sido uns dos primeiro catarinenses a pegar numa raquete e jogar tênis em cadeira de rodas, não posso garantir, e, confesso, motivado pela beleza do jogo de Guga. Mesmo sendo deficiente físico sempre gostei de esportes. Futebol, primeira paixão, inevitável para qualquer menino, vôlei, pelo talento das nossas seleções da década de 80 e 90. O tênis entrou no rol pela “geniosidade” de McEnroe. Quem se indignava tanto com seu próprio erro merecia ser assistido. Era um obstinado. Um vencedor. Um gênio genioso.

Em Guga vi outro gênio. Mas com a mesma obstinação. O “manezinho” já era o segundo entre os 10 melhores da ATP, mas continuava com seu espírito manezinho. Ídolo brasileiro, que quebrou paradigmas esportivos, cultuado, tinha tempo para incentivar o tênis, até das práticas desconhecidas como sobre cadeira de rodas, e usar seu poder midiático em prol da causa da igualdade social dos deficientes.

E foi assim, numa Feira da Esperança da APAE de Florianópolis, numa quadra improvisada do CentroSul, no Aterro da Baía Sul, que encontrei Guga “face to face”, separados por uma rede. O segundo melhor tenista do mundo à época trocou bolas com um cadeirante iniciante. Igualou-se. Sentiu a diferença dos movimentos. Das rodas substituindo os pés.

No Final da exibição peguei a bola trocada e pedi seu autógrafo com um sorriso maroto:
- Pode assinar Guga? Quando fores o melhor do mundo esse autógrafo vai valer muito.
Ele sorriu, menino, e devolveu de bate pronto:
- Então agora não vale nada

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