Mauro Pandolfi
O
gol é o melhor momento do futebol? Ou, seria um drible? Uma defesa está
fora da escolha? Ou, o gol que não quis acontecer? Não sei! Tenho
dúvidas! Vibrei com tudo isto. São imagens que surgem, por insight, na
mente. Estão na memória de um menino que brincava com bola. E, de tempos
em tempos, revejo em sonhos, numa leitura ou no you tube. O gol da Rua
Javari, que ninguém viu, é descrito com requintes de obra de arte. O
drible antológico, sem bola, em Mazurkiewsc é um espanto. Impossível! O
chute longo, louco, lúcido, do meio do campo, que irritou Gérson e
desesperou Viktor, e foi para fora, é mais espetacular do qualquer
golaço. A cabeçada certeira, firme, para baixo, como ensinam os manuais,
escritos por Pelé, da defesa impossível de Banks. Isto é Pelé. Ele é o
futebol! Pelé está de aniversário. Feliz 75!
O
futebol é o mais louco dos esportes. E, nem é esporte. É um teatro de
grama e paixão. Sempre está mudando o jeito de jogar. Reinventa-se a
procura do novo, da surpresa, do imponderável. No entanto, uma coisa é
imutável no futebol. Quer irritar uma pessoa do futebol? Questione a
realeza de Pelé! Primeiro, único, insubstituível, mágico, deus, mito,
atleta do século. Nada é maior que Pelé. Até quem nunca o viu, o defende
com ferocidade. Pelé é sinônimo de futebol. Vi muito pouco Pelé ao
vivo. Procuro em partidas perdidas no you tube. Era extraordinário!
Corpo atlético perfeito. Técnica apurada. Senso de espaço, de colocação.
Cerebral nos passes, na antevisão do lance, na vingança as agressões. O
drible não era um um devaneio lúdico. Usava como um recurso para o gol.
Como dizia meu pai, "um monstro!"
Copa
do Mundo. México 70. O auge do futebol brasileiro. O único momento que a
mitologia foi real, não a fantasia de uma história oral fascinante. O
melhor time de todos os tempos. Uma máquina. A Seleção Brasileira nunca
mais foi a mesma. Nem o futebol. Um jogo mágico, revolucionário.
Compactada, os setores eram um só. Movimentação, articulação,
contra-ataque, troca de passes. Time de craques, de jogadores comuns,
comandada por um gênio, Pelé. Nunca mais estes jogadores, nem Pelé,
repetiram a performance do México. Viveram, sobreviveram e permanecem na
lembrança por aquele futebol extraordinário.
Quem
mais foi Pelé? Diego Armando Maradona é o mito de minha geração. Vi ao
vivo. Vi garoto, vi no auge, vi na decadência. Habilidoso demais! A bola
era um extensão de seu corpo. Genial e genioso. É mais Garrincha que
Pelé. É um outsider, um 'marginal', um rebelde, contestador. Maradona é
poesia. Pelé é prosa. Johan Cruyff era a expansão do jogo de Pelé.
Tornou o campo redondo e deixou o futebol mais simples, inventivo e
complexo. Há outros tantos. Mas, o tempo foi passando e ficaram apenas
na lembranças de seus torcedores.
Ninguém
é tão Pelé como Lionel Messi. São parecidos em quase tudo. Gostam de
vitórias, de gols, de títulos. Olho a tevê. Vejo o gol de Messi. No you
tube, procuro Pelé. Vejo um gol. O lance é quase uma cópia. Arrancada
pelo meio, passando pelos zagueiros, tabelando com o avante, recebendo
na frente, fuzilando um goleiro indefeso. Dribles curtos, longos. Chutes
precisos. Messi é Pelé. Estou vendo a rejeição da comparação. Uma
pequena vaia no fundo da sala. Faz parte do jogo, da crônica.
Sujeito
estranho este Pelé. Não o via como uma pessoa. Era um mito, um ídolo,
um santo. A foto de Pelé era a maior do meu quarto em Lages lá por 73.
Pelé aninhado na rede, beijando a bola num ato de amor. Cena do gol mil.
O poster dividia a parede com vários outros deuses pops. A sua direita,
um seio da bela morena Nídia de Paula escapava do biquini. À esquerda, o
olhar melancólico de John Lennon era a minha inspiração para as
redações da escola. Um maluco matou os sonhos de Jonh. Nídia desapareceu
sem deixar pistas e Pelé continua eterno.
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