sábado, 10 de outubro de 2015

Desnorteado

Chiko Kuneski

Ptrowesley (um desconhecido técnico, que apesar do nome era venezuelano) veio para implantar um esquema tático revolucionário e salvar o time da segundona. No primeiro dia já pôs todos no condicionamento físico na mais tenra matinal. Nenhum jogador brasileiro treina bem de manhã cedo, mas ele dizia que ia mudar isso. Levava os atletas à exaustão física até o meio do dia. A tarde era o tático técnico.

A ordem era uma: só atacar pesado pela esquerda. “Temos que derrotar a direita do adversário, é sempre o ponto mais fraco”, esbravejava cada vez que um jogador mudava o lado de campo do passe. “Nunca se ataca à esquerda inimiga, mais cedo ou mais tarde ela acaba nos surpreendendo”, dizia categórico.

O time sempre era armado com dois zagueiros esquerdos, um lateral e um ala, esquerdos, dois volantes de pé canhoto, meias armadores esquerdos e o centro avante. Esse era destro e Ptrowesley justificava: “temos que surpreender com finalizadores ao centro, salvam o time nos piores momentos”. Ninguém entendia bem o “moderno” esquema de jogo do técnico, nem os seus jogadores. Na maioria das vezes o time parecia um bando de caranguejos com as patas direitas danificadas, arrastando-se por uma só lateral.

Mesmo sem vencer, sem mudar a desconfortável posição na tabela, pior, caindo a cada rodada, sua teimosia insistia no método. “Mais cedo ou mais tarde os torcedores entenderão, o time engrena e nos recuperamos”, frisava sempre nas entrevistas. Mas a equipe não vencia uma. Quando não empatava, perdia e de goleada. Ptrowesley não vivia tal realidade. “O time está bem, é questão de tempo”, insistia.

No jogo decisivo o técnico repetiu o esquema totalmente à esquerda, justificando que era chegado o momento. Com ele o time estava bem até os cinco do primeiro tempo. Num fulminante ataque pela direita, com apenas um adversário, teve uma bola cruzada e levou o primeiro gol do lado esquerdo. Depois desse vieram mais seis. Pela direita, pela esquerda e, principalmente, pelo centro. O time 

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