sexta-feira, 27 de julho de 2018

Jogo da velha

 
"Jogar bonito é para amistoso ou jogo beneficente. O importante é ganhar".
Luís Felipe Scolari foi campeão do mundo jogando feio em 2002 e foi humilhado em 2014 num baile alemão. Ele voltou! A modernidade é só uma fantasia, uma noite de verão, um acaso, no futebol brasileiro.

Mauro Pandolfi

O Brasil está enredado numa espiral de tempo. O país e o futebol. Tudo vai, tudo volta. Nâo dá para definir onde é passado, onde é presente, quando se encontram, onde se separam. O futuro foi só um delírio de Stefan Zweig. Uma fantasia, um engano, um sofisma. Afinal, até na gramática conjuga-se um verbo no pretérito do futuro. O futebol também está nesta volta da espiral. A Copa do Mundo mostrou o caminho para um novo olhar do futebol. 'O xadrez', como exemplificou Roger Machado, tão bem usado pela Bélgica contra o Brasil, derrotou qualquer ideia de moderno no futebol brasileiro. O Palmeiras trocou Roger, seus métodos de treinamentos, suas expressões, sua sutileza, pelo pensamento mágico, pela rudeza, pela 'famiglia' - conceito perfeito para um clube de sotaque italiano -, de Luís Felipe Scolari. O mais mitológico dos treinadores brasileiros. O homem que viajou do céu ao inferno mais rápido do que nas piadas. É, o último que jogou 'xadrez' por aqui foi Mequinho. Alguém lembra?
Roger Machado surgiu no Grêmio como um inovador. Alguém capaz de entender os mistérios, a complexidade do futebol moderno,  o 'xadrez', como explicou numa entrevista. Ele  parecia ser capaz de romper com mitos, com o passado, as lendas, o 'jogo de damas', da mesma entrevista. Seu Grêmio era encantador. Posse de bola, movimentação, o jogo planificado, tão bem treinado que lembrava um time de 'pelada' jogando por música. Saiu antes dos títulos. Renato Portaluppi acrescentou competividade, mais fúria que não tirou o refinamento e uma obsessão por vitórias. Quatro títulos em dois anos e um time para guardar na memória.
Roger Machado ainda está em formação. Mas, o futebol tem pressa. 'Fracassou' no Atlético e no Palmeiras. 'Fracasso' é uma palavra complexa de explicar no futebol brasileiro. Foi campeão mineiro em 17, perdeu o estadual paulista nos pênaltis em 18 e foi o que ganhou mais pontos nas fases de grupos das  Libertadores de 17 e 18. Mais de 60% de aproveitamento. O 'fracasso' de Roger está no seu trabalho, na maneira de conduzir o time, de lidar com os jogadores, de entender o vestiário. Roger não é o 'paizão', nem psicólogo, nem sargento, nem babá. Os jogadores sentem falta deste afeto, do afago, do abraço, do perdão, do elogio. Ele é adepto de três palavras 'banidas' do dicionário deste país: meritocracia, independência e autonomia. Os jornalistas esportivos de São Paulo dizem que Roger caiu por ser 'independente demais, de dar autonomia aos auxiliares, por não se preocupar com os problemas dos jogadores, por não dividir a mesa no café, no almoço, no jantar, não estimular reuniões no vestiário, nenhuma gestão de pessoas. Ele era apenas um treinador'. Um deles arrematou: 'Felipão vem restaurar a família, unir o grupo, pacificar a diretoria'.  Assim tropeça o futebol brasileiro.
Tudo é eterno no futebol. O passado nunca passa. Está num poster de campeão, na declamação ao escalar o time histórico, nas lendas, nos mitos. O passado pode se ausentar por algum tempo. Ficar no exílio. Mas, volta. Nunca como farsa. Volta como fé, esperança, crendice. Não sei se algum dia jogaremos xadrez. Estou em dúvida se já trocamos as damas pelo jogo da velha. Felipão voltou. No Santos querem Luxemburgo. Dorival Jr e Abelão estão desempregados. 13 clubes já trocaram de técnicos na série A em somente 15 rodadas. Outras virão. Perplexo, surpreso, estou com uma dúvida: quem vai contratar Joel Santana?

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