"Jogar bonito é para amistoso ou jogo beneficente. O importante é ganhar".
Luís
Felipe Scolari foi campeão do mundo jogando feio em 2002 e foi
humilhado em 2014 num baile alemão. Ele voltou! A modernidade é só uma
fantasia, uma noite de verão, um acaso, no futebol brasileiro.
Mauro Pandolfi
O
Brasil está enredado numa espiral de tempo. O país e o futebol. Tudo
vai, tudo volta. Nâo dá para definir onde é passado, onde é presente,
quando se encontram, onde se separam. O futuro foi só um delírio de
Stefan Zweig. Uma fantasia, um engano, um sofisma. Afinal, até na
gramática conjuga-se um verbo no pretérito do futuro. O futebol também
está nesta volta da espiral. A Copa do Mundo mostrou o caminho para um
novo olhar do futebol. 'O xadrez', como exemplificou Roger Machado, tão
bem usado pela Bélgica contra o Brasil, derrotou qualquer ideia de
moderno no futebol brasileiro. O Palmeiras trocou Roger, seus métodos de
treinamentos, suas expressões, sua sutileza, pelo pensamento mágico,
pela rudeza, pela 'famiglia' - conceito perfeito para um clube de
sotaque italiano -, de Luís Felipe Scolari. O mais mitológico dos
treinadores brasileiros. O homem que viajou do céu ao inferno mais
rápido do que nas piadas. É, o último que jogou 'xadrez' por aqui foi
Mequinho. Alguém lembra?
Roger
Machado surgiu no Grêmio como um inovador. Alguém capaz de entender os
mistérios, a complexidade do futebol moderno, o 'xadrez', como explicou
numa entrevista. Ele parecia ser capaz de romper com mitos, com o
passado, as lendas, o 'jogo de damas', da mesma entrevista. Seu Grêmio
era encantador. Posse de bola, movimentação, o jogo planificado, tão bem
treinado que lembrava um time de 'pelada' jogando por música. Saiu
antes dos títulos. Renato Portaluppi acrescentou competividade, mais
fúria que não tirou o refinamento e uma obsessão por vitórias. Quatro
títulos em dois anos e um time para guardar na memória.
Roger
Machado ainda está em formação. Mas, o futebol tem pressa. 'Fracassou'
no Atlético e no Palmeiras. 'Fracasso' é uma palavra complexa de
explicar no futebol brasileiro. Foi campeão mineiro em 17, perdeu o
estadual paulista nos pênaltis em 18 e foi o que ganhou mais pontos nas
fases de grupos das Libertadores de 17 e 18. Mais de 60% de
aproveitamento. O 'fracasso' de Roger está no seu trabalho, na maneira
de conduzir o time, de lidar com os jogadores, de entender o vestiário.
Roger não é o 'paizão', nem psicólogo, nem sargento, nem babá. Os
jogadores sentem falta deste afeto, do afago, do abraço, do perdão, do
elogio. Ele é adepto de três palavras 'banidas' do dicionário deste
país: meritocracia, independência e autonomia. Os jornalistas esportivos
de São Paulo dizem que Roger caiu por ser 'independente demais, de dar
autonomia aos auxiliares, por não se preocupar com os problemas dos
jogadores, por não dividir a mesa no café, no almoço, no jantar, não
estimular reuniões no vestiário, nenhuma gestão de pessoas. Ele era
apenas um treinador'. Um deles arrematou: 'Felipão vem restaurar a
família, unir o grupo, pacificar a diretoria'. Assim tropeça o futebol
brasileiro.
Tudo
é eterno no futebol. O passado nunca passa. Está num poster de campeão,
na declamação ao escalar o time histórico, nas lendas, nos mitos. O
passado pode se ausentar por algum tempo. Ficar no exílio. Mas, volta.
Nunca como farsa. Volta como fé, esperança, crendice. Não sei se algum
dia jogaremos xadrez. Estou em dúvida se já trocamos as damas pelo jogo
da velha. Felipão voltou. No Santos querem Luxemburgo. Dorival Jr e
Abelão estão desempregados. 13 clubes já trocaram de técnicos na série A
em somente 15 rodadas. Outras virão. Perplexo, surpreso, estou com uma
dúvida: quem vai contratar Joel Santana?
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