'O poeta é um fingidor. Finge tão completamente. Que chega a fingir que é dor. A dor que deveras sente'..
Desconfio que Neymar é um leitor voraz de Fernando Pessoa.
Mauro Pandolfi
Ainda
Neymar. Gosto de gente que desafina o coro dos contentes. Respeito os
perdedores que provocam irritação dos bem pensantes, que despertam amor e
ódio, que são 'culpados' pelas derrotas, pelos fracassos. Gente que
nunca
chegará onde pretende, que serão pouco mais do que o comum. Neymar é um
deles. Ele é o mais instigante personagem do futebol
mundial. É a encarnação do 'mal', do pérfido, do boçal. O craque que
rompeu com a ética do jogo limpo, com simulações de faltas, de dores,
com reclamações sem nexo, com rebeldia sem causa. Um ator de segunda
linha. A chacota nas
redes sociais. Crianças, adultos, comediantes, aspirantes a comediantes
riram, brincaram com as 'roladas' pelo chão após as faltas. Neymar virou
piada! Não ligo para isto. Não tenho nenhum sentimento sobre isto.
Não me preocupo com sua carreira, com o aspecto psicológico, com sua
riqueza, com seus gastos, suas atitudes. Ele tem um bom aparato de
profissionais que pensam a sua vida e carreira. Preocupo-me é com meus
filhos. Tenho que estar atento as suas vidas, as escolhas e os caminhos.
As decisões serão sempre deles. Com Neymar quero apenas o futebol.
Continuo achando genial e genioso. Não há misericórdia com o seu
fracasso na Copa. Fracasso? Não chega a tanto. Na disputa com Messi e
Cristiano Ronaldo, Neymar foi melhor. Jogou mais, chegou mais longe e
perdeu como eles. Cristiano Ronaldo é o bom moço deste tempo (já foi
'Neymar' em outros tempos) e Messi é o 'infeliz' que escolheu ser
argentino ao invés de espanhol. Ambos estão perdoados. Afinal, seus
times eram ruins. Eram 'exércitos' de um homem só. Perdão é uma palavra
que não cabe em Neymar. A derrota pode provocar transformações ou
destruir completamente um homem. Neymar vai escolher o seu caminho.
Neymar
é o 'anjo caído' do universo religioso que o Brasil se enredou. O
craque que expulsou o país do paraíso da vitória. O profeta que não
levou à terra
prometida. O heroi sem caráter, o Macunaíma, o Sassá Mutema mentiroso, o
vilão preferido dos
jornalistas e agregados, dos fanáticos das redes sociais, dos
fundamentalistas que aparecem de quatro em quatro anos. Faltou pouco,
quase nada, para virar um Barbosa. Ainda bem que vivemos um outro
período, mais civilizatório, mais humano, que torna vergonhoso uma
campanha como a que Barbosa sofreu. Neymar foi só mais um que perdeu num time
compartimentado, previsível, com uma frágil estratégia, sem inteligência
no jogo, organização trivial, um reflexo de espelho do futebol jogado
por aqui. Uma seleção que repete eternamente o mesmo futebol desde 1974,
com exceção de 1982, com derrotas e vitórias (1994 e 2002), sem a
'magia, a fantasia' de sua lenda, sem renovação, obsoleto e a sempre
presente relação de compadrio tão ao gosto do Brasil.
Mbappé
atropelou todos os candidatos a melhor do mundo. Hábil, forte,
demolidor, o atacante francês de 19 anos é o novo símbolo do futebol.
Neymar terá que mudar para alcançar Mbappé. Falo do futebol, da postura, do
entendimento do jogo. Tem que ser protagonista, deixar de ser
coadjuvante. Desde o Santos, ele é o centro do time. Porém, o pensar não
passa por ele. Foi Ganso, foi Iniesta, Luan na seleção olímpica e não
rendeu no PSG o que esperava, nem na seleção foi o diferencial. Falta
poder mental a Neymar. A convicção de que é grande. A certeza que Romário e
Ronaldo tinham que eram geniais. O olhar de vencedor, de fúria, de querer ser gigante, imenso.
Também, mudar o jeito de jogar. Fugir do canto, de esperar a bola.
Migrar, flutuar, ocupar espaços, se movimentar, começar e terminar a
jogada. Se fizer isto, será um duro adversário de Mbappé. Caso contrário,
será um outro Robinho. Com mais grife, é verdade!
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