sábado, 7 de julho de 2018

A Copa, a vida, ainda não terminou!


'Misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol...'
Vinicius de Moraes entendia da vida, de amores, de paixão. Ou seja, de futebol. O jogo que ganha vigor numa mesa de bar ou num debate esportivo na tv.

Mauro Pandolfi

A vida passa, vou envelhecendo, o tempo fica mais exíguo e continuo me enredando em enganos. Na vida e no futebol. Desconfiado do time de Tite, me encantei com o segundo tempo contra o México. Insinuante jogo! Rápido, envolvente, moderno. Quase suspirei de paixão. Acostumado com Tite e com meus equívocos, fiquei em silêncio, em dúvida com que vi, reticente. Ainda bem que não me empolguei. Aquele segundo tempo foi um acidente, como dizem, um ponto fora da curva. Repetia as eliminatórias. Mas, a seleção na Copa é o que foi contra a Bélgica: a frágil organização desmontada por um time móvel, arisco, rápido, a ausência de armadores, de um inexistente jogo coletivo de ataque, de saída de bola, de inteligência e que sobreviveu de individualidades. Uma seleção, um jeito de jogar, que se repete há várias copas. Tite se perdeu 'na coerência', nas 'convicçõ, na demora para entender a mudança do 'ciclo' do futebol e na falta de opções. Sem lucidez 'organizacional', o time mostrou somente um lance pensado, desenhado na prancheta: a bola de Philippe Coutinho para um meia entrar por entre as linhas. Deu certo duas vezes, com Paulinho e com Renato Augusto. Muito pouco, quase nada, para quem sonhava com o título.
O fim de um ciclo de futebol dentro da Copa. O belo jogo entre Espanha e Portugal foi o espetáculo derradeiro de um jeito Guardiola de jogar. A segunda rodada expôs a nova maneira tática do futebol. O desprezo pela posse de bola, a objetividade para o gol, as defesas sólidas depois do resultado alcançado. Quem entendeu as mudanças foi Roberto Martinez, da Bélgica. A partida contra o Japão foi fundamental na observação. Mudou a Bélgica. Contra o Brasil modificou a ação de seus três principais jogadores. Inverteu jogadas, transformou Fellaini num marcador implacável. Quando Tite percebeu, já estava 2 a 0. No segundo tempo, Martinez consolidou a nova maneira de jogar. Atrás da linha da bola, seguro, saídas, cada vez mais raras, de contra-ataque, deu a bola ao Brasil e confiou em Courtois. Deu certo! Bélgica e França será o jogo que definirá os novos rumos do futebol. Força, rapidez, objetividade, movimentação e muita defesa. O jogo de Pep Guardiola já virou saudade. Que pena!
É hora da análise ou das 'caça às bruxas'. do Brasil. De encontrar vilões, os responsáveis por mais um fracasso. O nome preferido não é do treinador. Que parece será um 'sobrevivente'. É um bom sinal? Demonstra maturidade ou falta de opção? Tanto faz. Porém, Tite tem que entender os seus equívocos, Nem sempre os 'amigos' são as melhores opções para buscar a vitória. Tem de buscar o novo ou insistirá com os 'velhos'? É mais um dilema brasileiro. O que adiantou levar Cássio, Geromel e Taison? Nunca foram opções. Não teria sido melhor levar jovens, com Arthur, Vinícius Jr, Rodrygo, Éverton, Paquetá ou Luan? Teriam a experiência de viver uma grande competição, a pressão imensa da Copa. Renovar com Tite é preservar ideias, conceitos, atitudes. Ou, a troca é necessária para mudar tudo outra vez, na velha solução de clubes brasileiros? A decisão é da cbf, a entidade que deveria ser extinta. Isto é uma outra conversa.
Quem será 'caçado'? Os jogadores. Alguns deram adeus à seleção, pela idade ou pelo 'fracasso'. Fernandinho é um candidato a vilão ao lado de Gabriel Jesus ('como pode um centroavante que não faz gol?', berram os especialistas) e Alyson, o goleiro que não resistiu ao nervosismo e a pressão. Mas, nenhum terá a cobrança como Neymar. Não será devorado inteiro. Será em partes, mínimas partes, para doer mais, machucar mais, tripudiar mais. Ele sabe como são tratados os que perdem neste país. Neymar já conhece esta 'fogueira'. Já foi incinerado outras vezes. Neymar terá uma história parecida com a de Messi - um gênio sem títulos mundias -.ou a reverterá como Pelé, que de acabado em 1966 foi genial em 1970? O tempo, as copas, a vida dirá.
Estranho fenômeno é Neymar. Genial e genioso. Mais odiado do que amado. Virou a 'Geni' mundial. Há lucidez nas críticas, há inveja, rancor, também. Ator, simulador, piscineiro, imaturo, boçal, mimado, playboy, arrogante, soberbo, ostentador, festeiro, sem responsabilidade, sem comprometimento, individualista. Foram algumas das definições que li, ouvi, sobre Neymar. Quase todas injustas e cruéis. Estou impressionado, não sei se a idade que me faz observar melhor, com a imensa pressão de uma Copa do Mundo. Nem Tite resistiu. Neymar também sucumbiu. Não sei se suas atitudes são de imaturidade ou tentativa de suportar a pressão? Não sou psicólogo, como a maioria dos jornalistas esportivos e congêneres, comentaristas de rede sociais, para esta avaliação. Não lembro de um jogador tão odiado como Neymar. Raro leitor de auto ajuda - o futebol é a minha auto ajuda -, arrisco uma frase óbvia, táo óbvia, que pode ser dito por picareta qualquer, inclusive eu: o ódio, também, pode ser uma forma de amor. Um amor envergonhado, dissimulado, medroso, cheio de preconceito, um amor vadio..

Nenhum comentário:

Postar um comentário