'A Terra é azul...'
Yuri Gagarin viajou ao espaço e, quem sabe, no tempo, feito um vidente ao perceber o azul do planeta. Tenho a esperança que Gagarin também tenha visto uma réstia de branco e preto nesta bola.
Mauro Pandolfi
A minha segunda-feira foi idêntica as segundas de Garfield. Sem vida, distraída, alheia, perdida. O dia passou e não entendia aquele vazio. Li a crônica de Chiko Kuneski e descobri toda a minha ausência. Ressaca, abstinência, desespero. A festa orgástica chegou ao fim. Como sobreviver sem este orgasmo, este desejo que me alimentava todos os dias? Tão intensa, frenética, que temia terminar aquela festa. Mas, terminou. Assim como todas as paixões passageiras, temporárias, meio vadias, como se fosse traição com a paixão eterna. Como viver sem elas? Sobreviverei sem 'os negros maravilhosos', os bravos croatas, a alegria dos amigos de Baloy, o desespero de Messi, o 'show' de Neymar, a elegância belga, a Espanha toureada? Reencontrar o Grêmio feito um amante cheio de saudades, pedindo perdão pelos amores ocasionais, é a minha saída. A única! No entanto, a Copa, a festa orgástica deixou uma tatuagem na alma. Não sai mais.
A Copa ainda baliza o futebol. Defini rumos, cria conceitos, estabelece comportamentos, anula movimentos anteriores, estabelece os novos. A posse de bola virou ilusão. O jeito Guardiola de jogar sobreviverá como engano. Como era belo este engano! Objetividade é a nova ordem mundial. A compactação foi mais reduzida. Joga-se em 20 metros. Porém, no próprio campo. Um jogo aparentemente mais defensivo. Pode ser só um engano. Nunca se jogou tão bem o futebol como o de agora, como o da Copa. Todas as valências em campo. A mais importante é a inteligência. Vence quem saber ler, entender, interpretar e e 'escrever' bem o jogo. O futebol ficou mais complexo e misterioso. Tão misterioso que pode ser resolvido no fortuito, no acaso, que nega tudo o que está escrito acima.
Há uma ilusão de ótica do fim do craque, do solista, do que acha a solução em milionésimos de segundo. Modric, Hazard, Pogba, Mbappé, De Bruyne são a confirmação de que o craque tem outro conceito, mais amplo, mais participativo. Não é mais o eremita, o que vive à margem, o que tem a chave da vitória, da salvação. É o 'operário' extremamente qualificado. Também, o 'arquiteto' da obra. O tempo dirá se esta impressão é real ou só um devaneio meu.
Os últimos pitacos de uma festa inesquecível. Minha seleção: Pickford; Mário Fernades, Mina, Varane e Hernandez; Pogba, Modric, Rakitic e De Bruyne; Hazard e Mbappé. O craque é Modric. Mbappé é mais do que a revelação. É o símbolo de um nova era. O treinador é Roberto Martinez. Ele percebeu a mudança do jogo e, por detalhes, não ganhou o título. A Copa é também o 'fracasso' dos grandes. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Iniesta, Kroos foram pouco menos do que comuns. Assim é o futebol, assim é a vida. A saudade, o passado, o presente, o futuro. É a espiral do tempo que deixa tudo ser eterno.
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