"...Tenha como cores
A espuma branca
Da América Latina
E o céu como bandeira..."
Os lindos versos do gremista Gilberto Gil embalam o meu desejo da Libertadores.
Mauro Pandolfi
Não
sou otimista. Nunca fui. O otimismo me assusta. Fico incomodado com
tanta certeza, com a ideia de que é impossível dar errado. Tenho um pé
no pessimismo e dois na dúvida. Não gosto de comemorar antes, de falar
demais, de balançar a bandeira como uma vitória antecipada. Gosto de
vibrar com a expectativa. De criar as ilusões, de vivenciar um sonho,
gritar pela utopia vencedora, de manifestar um desejo. Justo eu, que
sempre falo das ilusões perdidas, que o sonho acabou e a utopia é só um
engano, mas, é o desejo que faz tudo valer a pena. É a poesia circular
do dia a dia, o olhar da mulher amada, a alegria dos filhos, que tornam a
vida mágica, assim como o futebol. Não é apenas um jogo. É o melhor
lado do imaginário, das coisas sem importâncias, da fuga do real, do que
te faz feliz. O Grêmio, aprendi com Lupicínio Rodrigues, 'parece uma
coisa à toa, mas como a gente voa quando começa a pensar'. E, se voar
leva ao sonho. Quero acordar campeão da Libertadores. Afinal, soy loco
por Tri, América!
O
Grêmio não é o favorito. Perdeu o jogo encantador. As linhas já não
fluem mais. Não tem mais o brilho geométrico do jogo. Nem a bola é tão
bem tratada como antes. Tem pressa. Perdeu a velocidade. Pedro Rocha não
foi bem substituído. Fernandinho é a sua negação. Não tem o raciocínio
rápido, o lance preciso, a magnífica finalização. O belo jogo coletivo
diluiu-se. Aparece em raros momentos dos jogos. A virtude está na
individualidade. No jogo amplo de Luan, o mais completo jogador deste
país, na inteligência tática e habilidade de Arthur, a movimentação de
Ramiro, a segurança de Marcelo Grohe e na ótima dupla que formam Geromel
e Kanemann. As individualidade ainda deixam o Grêmio muito forte. Mas,
instável. Foi extraordinário em Guayaquil e comum na Arena. Um jogo que
assustou os gremistas. Eu fiquei assustado. E, com medo.
Lanús
é o favorito. Decide em casa. Tem um jogo furioso, avassalador,
primitivo. Parte para cima feito um doido. Joga o 'futebol zumbi', como
diz Tim Vickery. Todo mundo corre, a bola não para, nem a torcida, que
sempre canta. Longe de casa é outro time. Bem organizado, defesa
segura, sem pressa, bola trabalhada em busca da velocidade de Laudaro
Acosta e a finalização de Sand. Perigoso, este Lanús! É este jogo que me
preocupa. O outro, é só não temer os gritos.
Todos
os quatro semifinalistas foram gigantes em algum momento. O Barcelona
venceu Botafogo, Palmeiras, Santos e Grêmio no Brasil. O River reverteu a
goleada do Jorge Wiltersmann com um sonoro 8 a 0. O Grêmio foi imenso
em Guayaquil, onde resgatou o futebol encantador do primeiro semestre.
E, O Lanús fez o impossível contra o River. Os 'deuses' já brincaram,
Deixaram, por alguns instantes, todos felizes. Agora, é a hora do jogo
real ou teremos outros 'milagres'?
Mais
do que ganhar, quero me divertir. Até o último jogo quero crer no
desejo. Suspirar por ela. Sonhar com jogo e acordar feliz. Não quero
pensar na derrota, nas gozações dos colorados, no fracasso que me
deixará triste. Quero brincar com a frase que vi nas faixas - e dá o
título ao texto - e outra que diz 'vamo acabá com o planeta'. Que venha
um Mazembe qualquer e depois o Real Madrid. Quero vibrar com o Grêmio, o
mesmo Grêmio de Alcindo do Maurinho, que me mostrou que o futebol é
mais que um teatro de grama e paixão. O jogo da vida. Da beleza e da
arte. Sempre há um menino que faz poesias com o pé. Tomara que seja
Luan. Vamos, Grêmio! Soy Loco por Tri, América!
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