"Futebol na televisão, você na cama de cueca...nestas horas é que o homem se pergunta: pra quê mulher?".
Confesso que algumas vezes pensei como o Rui, principalmente nas grandes vitórias do Grêmio.
Mauro Pandolfi
Um
dia vivi a ilusão que a vida deveria ser um amistoso. Livre, leve,
solta, alegre, feliz. Sem trabalho, pressa, medo, competição. Assim,
também, seria o futebol. Campeonatos, por quê? A bola rolaria, suave,
despretensiosa, lírica, tocada, retocada, feito de dribles, passes
medidos, golaços de guardar nos vídeos, nas memórias. A arte
substituindo a
competição. O artista no lugar do guerreiro. Refinamento no jogo
defensivo, o ataque seria sublime. A ilusão perdida logo se revelou.
Futebol está muito longe de um sarau. Próximo de guerra. Simulada, ainda
bem. Mas, uma guerra. Há todos os argumentos, fúria, violência, medo,
desespero, crueldade de uma batalha. Os torcedores preferem a vitória.
Quanto mais difícil, mais prazerosa. Um bom jogo é para os poetas, os
românticos, os sonhadores. Vivo os dois momentos. Tem dias que só desejo
a vitória. A final da Libertadores é uma delas. No entanto, nos meus
melhores momentos, desejo o jogo bem jogado. O prazer no passe e no
drible. A
vitória é irrelevante. Quero me deliciar, feito um romântico, com a
arte. Tentei neste final de semana viver isto. Impossível! Não há lugar
para o romantismo no duro mundo da Segunda Divisão Brasileira. Ninguém
consegue se apaixonar na aridez da falta de talento, na ausência de
charme, no previsível. Só o 'extraordinário' explode a paixão.
Sexta-feira
à noite. Chego tarde em casa. Guarani e Luverdense já estão no segundo
tempo. Larguei tudo e fui ver o jogo. O que a bola fez aos 22
jogadores? Como foi maltratada. Coitada, apanhou de todo jeito. O medo, o
desespero mutilaram o jogo. Passes errados, chutes tortos, agressões,
expulsões e o 0 a 0 rebaixou o Luverdense. Aliás, Figueirense, Guarani,
Paysandu, Brasil, CRB deveriam agradecer, dar um 'bicho' ao Boa
Esporte. Ele,.ao ganhar do Luverdense na terça-feira, salvou todo
mundo. Tudo resolvido! Alguns jogos seriam belos amistosos. Pensei na
minha velha ilusão da arte com a bola nos pés. Vou ver algo próximo o
que antigamente chamavam de arte. Ledo Ivo engano, como escreviam no
Planeta Diário.
Depois do café, me
preparei para ver Figueirense e Juventude. Livres da pressão, só a
tabela que mandava o jogo. Hora do futebol livre, leve, solto. O drible,
o passe, a inventividade. O prazer de ser um menino jogando bola. E,
ela rolou. preguiçosa, indolente, sem pressa, sem drible, sem passe, sem
gols, sem emoção. Que jogo ruim!
O futebol perdeu o prazer da liberdade. Deixou de ser inventivo. Foi
burocratizado, ficou previsível e, sem a busca do ponto decisivo, ficou
chato, a força ficou inútil. Deixei de lado o jogo e busquei alguma
coisa na tevê. Achei
Os Normais. Ri muito com a doce loucura de Rui e Vani. A singela ideia
de fondue gerou uma comédia irresistível, saborosa, como imagino que
deva ser o futebol..
As
ilusões estão, mesmo, perdidas. Tentei no sábado. Abandonei o futebol
europeu e fiquei na segundona brasileira. Mais amistosos, algumas
decisões, bons jogos, suspirei. Decepção à tarde toda! Entendi todos os
meus enganos na vida. Como é fácil me iludir! Nem Londrina, que sonhava
com vaga, e América, desejando o título, fizeram um bom jogo. Só o
desespero do tempo terminando gerou emoção. Muito pouco. Quase nada.
Paraná ganhou o amistoso de um CRB acomodado e preguiçoso. Só Heber
Roberto Lopes gerou alguma 'vida' em Goiás e Inter. Ninguém entendeu o
gol anulado. Ele é só um prepotente em queda livre em busca do ocaso.
Heber é do tempo dos caudilhos da arbitragem, dos donos do jogo. Gente
que segue só as suas regras. Me recusei assistir Criciúma e Ceará.
Cansei de amistoso. Fui ver 'Rota de fuga', com Silvester Stallone e
Arnold Schwarzenegger. Sozinho no quarto, pipoca espalhada na cama, a
coca cola no criado mudo e reviso a frase do Rui: futebol, pra quê?
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