terça-feira, 28 de novembro de 2017

O adeus de Zé Roberto



"Futebol foi a minha vida. E quando falo de futebol, quero trazer a memória de vocês para o que nos dá esperança nesta noite. A esperança que tive quando criança..."
Ao ouvir a despedida de Zé Roberto entendi o que é o futebol para um menino pobre no Brasil e o auxílio luxuoso da bola na vida de um homem de fé.

Mauro Pandolfi

Nunca fui fã de Zé Roberto. Hábil. Muito hábil. Habilidosíssimo. Pictórico de mais. Útil de menos. Controlava a bola, brincava com ela, como dizia um antigo narrador, 'escravizava'. Um jeito bonito de jogar futebol. Parecia flutuar em campo. Recebia a bola com muita liberdade. O lance era sempre rebuscado, trabalhado, enfeitado. Passes de três dedos, viradas de jogo, dribles de craque. Zé Roberto fugia da aglomeração do campo. Ficava nos lados, atrás, quase próximo aos zagueiros. Este era o problema. Ele brilhava na zona morta do jogo. Raramente decidia uma partida. Foi assim em seu tempo de Grêmio. Não ganhou nenhum título, foi protagonista de 'inúmeras batalhas' na torcida, nas redes sociais sobre a titularidade, não deixou nenhuma saudade no meu imaginário dos heróis gremistas.
Zé Roberto é um símbolo do jogador moderno. O brasileiro mais próximo de Cristiano Ronaldo. Olhe para ele. Quem diz que é um atleta de 43 anos? Não sei se há algum jogador que disputa a série A com a sua disciplina, com o cuidado da imagem, do perfeccionismo, da vaidade, de ter corpo trabalhado, esculpido, moldado por um obsessivo culto a forma física. Zé Roberto transformou o seu corpo em 'uma catedral'. Sagrado! Invulnerável aos prazeres 'profanos'. "Isto é para depois da carreira", dizia. Então, chegou a hora da festa.
Vi o vídeo de sua conversa com os amigos do Palmeiras antes da despedida. É emocionante, primoroso, de um homem que entendeu as escolhas, a retidão, o sentido da vida. "Hoje para mim é noite de gratidão. Apesar de ser um momento que eu tentei prolongar ao máximo, eu sabia que ele um dia ia chegar. Eu vivi isso aqui intensamente. Realizei o sonho, tive conquistas e cheguei ao meu máximo. Foi difícil tomar esta decisão. Este momento vai chegar na vida de cada um de vocês. Vivam isso intensamente", disse o inspirado Zé Roberto. O futebol será uma saudade para ele. Não lembrarei do craque nos meus momentos de felicidade com a bola, dos meus sonhos, nos meus devaneios poéticos. Vou lembrar do homem correto, profissional exemplar, da referência, da dignidade. O seu vídeo mostrarei aos meus filhos, e que quem sabe, aos meus netos, sobre o imenso prazer que é a vida e como deve ser vivida com intensidade. Bem vindo a vida comum, grande Zé Roberto!

Nenhum comentário:

Postar um comentário