"Futebol
foi a minha vida. E quando falo de futebol, quero trazer a memória de
vocês para o que nos dá esperança nesta noite. A esperança que tive
quando criança..."
Ao
ouvir a despedida de Zé Roberto entendi o que é o futebol para um
menino pobre no Brasil e o auxílio luxuoso da bola na vida de um homem
de fé.
Mauro Pandolfi
Nunca
fui fã de Zé Roberto. Hábil. Muito hábil. Habilidosíssimo. Pictórico de
mais. Útil de menos. Controlava a bola, brincava com ela, como dizia um
antigo narrador, 'escravizava'. Um jeito bonito de jogar futebol.
Parecia flutuar em campo. Recebia a bola com muita liberdade. O lance
era sempre rebuscado, trabalhado, enfeitado. Passes de três dedos,
viradas de jogo, dribles de craque. Zé Roberto fugia da aglomeração do
campo. Ficava nos lados, atrás, quase próximo aos zagueiros. Este era o
problema. Ele brilhava na zona morta do jogo. Raramente decidia uma
partida. Foi assim em seu tempo de Grêmio. Não ganhou nenhum título, foi
protagonista de 'inúmeras batalhas' na torcida, nas redes sociais sobre
a titularidade, não deixou nenhuma saudade no meu imaginário dos heróis
gremistas.
Zé Roberto é um símbolo do jogador moderno. O brasileiro mais próximo de Cristiano Ronaldo.
Olhe para ele. Quem diz que é um atleta de 43 anos? Não sei se há algum
jogador que disputa a série A com a sua disciplina, com o cuidado da
imagem, do perfeccionismo, da vaidade, de ter corpo trabalhado,
esculpido, moldado por um obsessivo culto a forma física. Zé Roberto
transformou o seu corpo em 'uma catedral'. Sagrado! Invulnerável aos
prazeres 'profanos'. "Isto é para depois da carreira", dizia. Então,
chegou a hora da festa.
Vi
o vídeo de sua conversa com os amigos do Palmeiras antes da despedida. É
emocionante, primoroso, de um homem que entendeu as escolhas, a
retidão, o sentido da vida. "Hoje para mim é noite de gratidão. Apesar
de ser um momento que eu
tentei prolongar ao máximo, eu sabia que ele um dia ia chegar. Eu vivi
isso aqui intensamente. Realizei o sonho, tive
conquistas e cheguei ao meu máximo. Foi difícil tomar esta decisão. Este
momento vai chegar na vida de cada um de vocês. Vivam isso
intensamente", disse o inspirado Zé Roberto. O futebol será uma saudade
para ele. Não lembrarei do craque nos meus momentos de felicidade com a
bola, dos meus sonhos, nos meus devaneios poéticos. Vou lembrar do homem
correto, profissional exemplar, da referência, da dignidade. O seu
vídeo mostrarei aos meus filhos, e que quem sabe, aos meus netos, sobre o
imenso prazer que é a vida e como deve ser vivida com intensidade. Bem
vindo a vida comum, grande Zé Roberto!
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