quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A queda

 
Mauro Pandolfi

'Esse Avaí faz coisa' é o suspiro desconfiado do torcedor avaiano. A esperança perdida num time desorganizado, desconstruído, derrotado. O Avaí cumpre o seu papel, o que a maioria do mundo futebol esperava: voltar para a Série B. Não é demérito, nem vergonhoso. É só a realidade vivida por dezenas de clubes que invadem o 'sagrado', o restrito universo do grandes do Brasil. Ir e voltar. Um 'elevador' que já dizimou alguns. Onde está o São Caetano? E, a Portuguesa? Sumiram! Não deixaram pistas. É necessário aceitar, entender a queda. Não entrar em desespero é o primeiro passo de um outro retorno. Mudar a cultura, o pensar, se organizar, fazer uma 'revolução' é fundamental para fugir do eterno ioiô que está preso o futebol catarinense. Só a Chapecoense poderá repetir a façanha do Figueirense, que ficou sete anos na Série A. Mas, a Chapecoense é outra história. Até quando vai durar a 'magia' do sobrevivente? Tomara que a 'magia' vire estrutura moderna, racional, eficaz.
Não entendo o que aconteceu com o Avaí. Em que momento se desconstruiu. Por que alterou o sistema de jogo? Pressão dos que são pagos para dar opinião? Erro de avaliação do elenco? Gostava de ver o Avaí na Série B do ano passado. Era sólido, bem organizado, eficiente. Uma muralha defensiva guardada por dois marcadores (Luan e Judson) vorazes. Tinham dificuldades na saída de bola. Mas, permitiam o apoio forte dos laterais. Capa e Alemão brilharam. O ataque era móvel e definidor. Havia Marquinhos em razoável condição física. E os zagueiros eram seguros. O que tornava o Avaí ótimo era Renato. Inteligente, rápido, perspicaz. Gostava do espaço vazio. Fazia a dobra com Alemão, parceria com Marquinhos e completava a jogada de Rômulo. Não tinha o padrão de 'craque' suspirado pelos comentaristas esportivos e torcedores. Não é do tipo de 'brilharecos' com a bola. Talvez, 2016 tenha sido o seu ano no futebol. Afinal, Abel o ignorou no Fluminense neste ano.
O Avaí mudou demais. Exigiram demais. Claudinei alterou o sistema tático. 'Flexibilizou' a defesa, abriu a volância, tornou frágeis as laterais, tentou três atacantes e não conseguiu ter posse de bola. Ficou mais fechado do que desejava, menos agressivo, sem saber usar o espaço tão bem preenchido por Renato. E, o pior, sem a consistência de 2016. A mudança começou no campeonato catarinense. No primeiro turno manteve a estrutura, o jeito de jogar da Série B. No returno, mudou. Tentou outros jogadores. Não entendi a desistência de Caio César. Belo armador, boa presença. Mas, inconstante como todo jovem. Foi arquivado no Brasileiro, assim como o atacante Lourenço. Alguns jovens, campeões da sub 20, não tiveram chances. Será que Guga não era um lateral melhor que Maicon, Leandro Silva ou Diego Tavares? Lovat é inferior a João Paulo? Luanzinho foi mal aproveitado. Ficou no lado esquerdo, jogando feito os meias novatos que surgem ao acaso. Nunca teve o centro do jogo, onde cavou a vaga na seleção sub 17.
O Avaí errou bastante. As apostas deram errado. Maicon, Joel, Aírton, Diego Tavares, João Pedro, Simão, Wilians, Maurinho,  Juan, Lucas Otávio falharam, em menor ou maior grau.. Claudinei não reinventou o time, não achou solução de armação, de ocupação de espaço e de finalização. Deveria ter voltado ao sistema de 2016. Não quis, com medo de ser chamado de retranqueiro. E foi (des)qualificado assim. Pedro Castro não conseguiu ser Renato. Virou o símbolo do fracasso. Não é ruim, como dizem. É um bom jogador, de movimentação, de chute forte, de recomposição, de combate. Útil numa equipe bem arrumada, organizada, sólida. Inútil na desorganização. O Avaí parece um time bem ajeitado, composto, treinado. Vai bem até tomar um gol. E, aí, vai desmanchando, desmanchando, desmanchando, até não sobrar nada.
Não entendo os torcedores avaianos. Acho que todos os clubes são assim. Vibraram com a Série A no acesso, no início do ano e nunca mais. Não se divertiram, não foram aos jogos. Fugiram da 'festa, do show. Ficaram angustiados. Ainda estão. Reclamaram o tempo todo. A vibração era maior com a má campanha do Figueirense na B. Não curtiram a Série A. Como diz o sábio da bola, 'futebol é resultado'. No Brasil, não torcem pelo prazer do espetáculo, pela alegria do jogo. Vibram pelo resultado. Que pena!
'Série A não é Série B' filosofam os pensadores da bola. Berraram, fizeram protestos, exigiram. Queriam reforços, jogadores, treinador experiente. A direção teve bom senso. Pensou na administração, na gestão, no presente que pode render futuro. Resistiu a tentação que o Sport ,a Ponte Preta,o Vitória, o Coritiba, sucumbiram. Medalhões no campo, na beira do campo, a volta ao espaço natural deles: a segunda divisão
Sobrarão dívidas. Parecidas com que tem o Santa Cruz, o Náutico, ou ABC. As mesmas que tiveram São Caetano, Portuguesa, União de Araras, Barueri...Não sei se o pensamento da Ilha da Magia, das bruxas de Cascaes, salva o Avaí. Quem sabe, melhor estruturado, mantendo Claudinei Oliveira, a comissão técnica, Joceli do Santos, retornem para a Série A para mais um ano angustiante, desesperado, sofrido..,como será sempre a Série A para os nossos clubes.

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